terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n65

961 No momento da morte, qual é o sentimento que domina a
maioria dos homens? A dúvida, o medo ou a esperança?
– A dúvida para os descrentes endurecidos, o medo para os culpados,
a esperança para os homens de bem.

962 Por que existem descrentes, uma vez que a alma traz ao
homem o sentimento das coisas espirituais?
– Existem menos do que se acredita; muitos se fazem espíritos fortes
durante a vida por orgulho, mas no momento da morte não são tão fanfarrões.

INTERVENÇÃO DE DEUS NAS
PENALIDADES E RECOMPENSAS
963 Deus se ocupa pessoalmente de cada homem? Ele não é
muito grande e nós muito pequenos para que cada indivíduo em particular
tenha alguma importância aos seus olhos?
– Deus se ocupa de todos os seres que criou, por menores que sejam;
nada é muito pequeno para sua bondade.

964 Deus tem necessidade de se ocupar de cada um de nossos
atos para nos recompensar ou punir, e a maioria desses atos não são
insignificantes para ele?
– Deus tem Suas leis que regem todas as vossas ações. Quando há
violação da lei, a falta é vossa. Sem dúvida, quando um homem comete
um excesso, Deus não pronuncia um julgamento contra ele, para dizer,
por exemplo: “Foste guloso, vou te punir”. Porém, traçou um limite; as
doenças e, freqüentemente, a morte, são conseqüências dos excessos:
eis a punição; ela é o resultado da infração à lei. O mesmo acontece com
todas as coisas.

NATUREZA DAS PENALIDADES E PRAZERES FUTUROS
965 As penalidades e os prazeres da alma após a morte têm
algo de material?
– Elas não podem ser materiais, porque a alma não é matéria: o bom
senso o diz. Essas penalidades e prazeres nada têm de carnal e, entretanto,
são mil vezes mais intensos que aqueles que experimentais na Terra,
porque o Espírito, uma vez liberto do corpo, é mais impressionável; a matéria
não enfraquece mais suas sensações. (Veja as questões 237 e 257).
966 Por que o homem faz das penalidades e dos prazeres da
vida futura uma idéia freqüentemente tão grosseira e absurda?
– É porque sua inteligência ainda não se desenvolveu bastante. A
criança compreende como o adulto? Aliás, também depende daquilo que
lhe ensinaram: eis aí por que há a necessidade de uma reforma.
Vossa linguagem é muito incompleta para exprimir o que existe além
do vosso entendimento; por isso, foi necessário fazer comparações, e são
essas imagens e figuras que tomastes pela realidade; mas, à medida que
o homem se esclarece, seu pensamento compreende as coisas que sua
linguagem não pode exprimir.

967 Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?
– Consiste em conhecer todas as coisas; não ter ódio, ciúme, inveja,
ambição e nenhuma das paixões que fazem a infelicidade dos homens. O
amor que os une é a fonte de uma suprema felicidade. Eles não experimentam
as necessidades e sofrimentos nem as angústias da vida material;
ficam felizes com o bem que fazem. Porém, a felicidade dos Espíritos é
sempre proporcional à sua elevação. Só os Espíritos puros desfrutam, é
bem verdade, da felicidade suprema, mas todos os outros são também
felizes. Entre os maus e os perfeitos existe uma infinidade de graus em que
os prazeres são relativos à condição moral. Aqueles que estão bastante
adiantados compreendem a felicidade dos mais avançados e desejam
igualmente alcançá-la, o que é para eles um motivo de estímulo e não de
ciúme. Sabem que depende deles consegui-la e trabalham para esse fim,
mas com a calma da boa consciência, e são felizes por não sofrerem
como os maus.

968 Colocais a ausência das necessidades materiais entre as
condições de felicidade para os bons Espíritos; mas a satisfação dessas
necessidades não é, para o homem, uma fonte de prazeres?
– Sim, de prazeres selvagens; e quando não podeis satisfazer essas
necessidades, é uma tortura.

969 O que devemos entender quando se diz que os Espíritos puros
estão reunidos no seio de Deus e ocupados em cantar louvores?
– É um modo de dizer, uma simbologia, para fazer entender o que eles
têm das perfeições de Deus, já que O vêem e O compreendem, mas não
a deveis tomar ao pé da letra como fazeis com muitas outras. Tudo na
natureza, desde o grão de areia, canta, ou seja, proclama o poder, a sabedoria
e a bondade de Deus. Não acrediteis que os Espíritos bem-aventurados
vivam em contemplação por toda a eternidade; seria uma felicidade
estúpida e monótona e seria ainda mais, uma felicidade egoísta, uma
vez que sua existência seria uma inutilidade sem fim. Eles não têm mais as
aflições da existência corporal: isso já é um prazer. Aliás, como já dissemos,
conhecem e sabem todas as coisas; empregam útil e proveitosamente
a inteligência que adquiriram para ajudar no progresso dos outros Espíritos:
é sua ocupação e ao mesmo tempo um prazer.

970 Como são os sofrimentos dos Espíritos inferiores?
– São tão variados quanto as causas que os produziram e proporcionais
ao grau de inferioridade, como os prazeres o são para os graus de
superioridade. Podem resumir-se assim: invejar tudo o que lhes falta para
serem felizes e não poderem obtê-lo; ver a felicidade e não poder atingi-la;
desgosto, ciúme, raiva, desespero daquilo que os impede de ser felizes;
remorso, ansiedade moral indefinível. Têm o desejo de todos os prazeres
e não podem satisfazê-los, é o que os tortura.

971 A influência que os Espíritos exercem uns sobre os outros é
sempre boa?
– Sempre boa da parte dos Espíritos bons, sem dúvida. Mas os Espíritos
perversos procuram desviar do caminho do bem e do arrependimento
aqueles que observam ser mais sujeitos de se deixar influenciar e que,
muitas vezes, eles mesmos desviaram para o mal durante a vida corpórea.

971 a Assim, a morte não nos livra da tentação?
– Não; mas a ação que os maus Espíritos exercem sobre os outros
Espíritos é muito menor do que sobre os homens, porque eles não têm
mais o incentivo das paixões materiais. (Veja a questão 996.)

972 Como os maus Espíritos fazem para tentar outros Espíritos,
uma vez que não possuem o auxílio das paixões?
– Se as paixões não existem materialmente, existem no pensamento
dos Espíritos atrasados. Os maus alimentam os pensamentos deles arrastando
suas vítimas para os lugares onde têm o espetáculo dessas paixões
e tudo que pode excitá-las.

972 a Mas por que estimulam essas paixões, uma vez que não
têm mais objetivo real?
– É precisamente para provocar o suplício: o avaro vê o ouro que não
pode possuir; o libertino, orgias das quais não pode fazer parte; o orgulhoso,
honras que inveja e de que não pode desfrutar.

973 Quais são os maiores sofrimentos que podem suportar os
maus Espíritos?
– Não existe descrição possível das torturas morais que são a punição
de certos crimes. Mesmo os que as sofrem teriam dificuldades para
dar uma idéia delas; mas, certamente, a mais horrível é o fato de pensarem
estar condenados para sempre. (Veja a questão 101.)

974 De onde vem a doutrina do fogo eterno?
– É uma imagem, assim como tantas outras tomadas como realidade.

974 a Esse medo não pode resultar em algo bom?
– Reparai que ele não serve de freio nem mesmo para aqueles que o
ensinam. Se ensinais coisas que a razão rejeita mais tarde, fareis surgir
uma situação que não será nem durável nem salutar.

975 Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?
– Sim, é o que faz seu suplício; porque compreendem que são privados
dela por sua culpa e por essa razão o Espírito, livre da matéria, deseja
ardentemente uma nova existência corporal, porque cada existência pode
abreviar a duração desse suplício, se for bem empregada. É então que faz
a escolha das provas pelas quais poderá reparar suas faltas; porque, sabei,
o Espírito sofre por todo mal que praticou ou de que foi causa voluntária,
por todo bem que poderia ter feito e não fez e pelo mal que resulta do bem
que deixou de fazer. O Espírito no mundo espiritual não tem mais o véu da
matéria. Como se tivesse saído do nevoeiro, ele vê o que causa o seu
afastamento da felicidade; então, sofre mais, porque compreende quanto
foi culpado. Não há mais ilusão: ele vê a realidade das coisas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n64

946 O que pensar do suicida que tem por objetivo escapar das
misérias e decepções deste mundo?
– Pobres Espíritos, que não têm coragem de suportar as misérias da
existência! Deus ajuda aqueles que sofrem, e não aos que não têm força
nem coragem. As aflições da vida são provas ou expiações; felizes aqueles
que as suportam sem queixas, porque serão recompensados! Infelizes,
ao contrário, os que esperam sua salvação do que, na incredulidade deles,
chamam de acaso ou sorte! O acaso ou a sorte, para me servir da
vossa linguagem, podem, de fato, favorecê-los transitoriamente, mas é
para fazê-los sentir mais tarde e mais cruelmente o vazio dessas palavras.

946 a Aqueles que conduziram um infeliz a esse ato de desespero
sofrerão as conseqüências disso?
– Como são infelizes! Pois responderão por homicídio.
947 O homem que na necessidade se deixa morrer de desespero
pode ser considerado um suicida?
– É um suicida; mas os que o levaram a isso ou que poderiam impedilo
são mais culpados que ele, e a indulgência o espera. Entretanto, não
acrediteis que seja inteiramente absolvido se lhe faltaram firmeza e perseverança
e se não usou sua inteligência para superar as dificuldades. Infeliz
dele, principalmente se seu desespero se originou do orgulho; quero dizer,
se é desses homens a quem o orgulho paralisa os recursos da inteligência,
que se envergonham por depender do trabalho de suas mãos e que
preferem morrer de fome a renunciar ao que eles chamam de posição
social! Não haverá cem vezes mais grandeza e dignidade em lutar contra a
adversidade do que enfrentar a crítica de um mundo fútil e egoísta, que
tem boa vontade apenas para com aqueles a quem nada falta, e vos dá as
costas quando tendes necessidade dele? Sacrificar a vida em consideração
a esse mundo é uma coisa estúpida, porque para esse mundo isso
não tem valor.

948 O suicídio que tem por objetivo escapar da vergonha de uma
má ação é tão condenável quanto aquele que é causado por desespero?
– O suicídio nesse caso não apaga o erro; pelo contrário, haverá dois
em vez de um. Quando se teve a coragem de fazer o mal, é preciso ter a
coragem de suportar as conseqüências. A Providência a tudo julga e, de
acordo com a causa, pode, algumas vezes, diminuir seus rigores.

949 O suicídio pode ser desculpável quando tem por objetivo
impedir que a vergonha recaia sobre filhos ou sobre a família?
– Aquele que age desse modo não procede bem, embora acredite
que o faça. A Providência leva isso em conta, porque é uma expiação que
se impõe a si mesmo. Ele atenua seu erro pela intenção, mas não deixa de
cometer um erro. Portanto, eliminai os abusos da sociedade e os vossos
preconceitos e não tereis mais suicídios.

950 O que pensar daquele que tira a própria vida na esperança
de atingir mais cedo uma vida melhor?
– Outra loucura! Se fizer o bem a atingirá mais cedo. Pelo suicídio
retarda sua entrada num mundo melhor, e ele mesmo pedirá para vir terminar
essa vida que encurtou por uma falsa idéia. Um erro, seja qual for,
nunca abre o santuário dos eleitos.

951 O sacrifício da vida não é algumas vezes meritório, quando
tem por objetivo salvar a de outras pessoas ou ser útil aos seus semelhantes?
– Isso é sublime, de acordo com a intenção, e nesse caso o sacrifício
da vida não é um suicídio, mas um sacrifício inútil. Porém, está fora dos
desígnios divinos se é ofuscado pelo orgulho. Um sacrifício é apenas meritório
pelo desinteresse. Algumas vezes, esse sacrifício esconde uma
segunda intenção, que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.

952 O homem que morre vitimado pelo abuso de paixões que
sabia apressariam o seu fim, mas às quais não tem mais o poder de
resistir por ter se habituado a fazer delas verdadeiras necessidades
físicas, comete suicídio?
– É um suicídio moral. Deveis compreender que o homem é duplamente
culpado nesse caso. Nele há, além da falta de coragem, a ignorância
e, acima de tudo, o esquecimento de Deus.

952 a Ele é mais ou menos culpado do que aquele que tira a
própria vida por desespero?
– É mais culpado, por ter tido tempo de reconhecer seu suicídio. Naquele
que o comete de súbito existe algumas vezes uma espécie de
alucinação obsessiva próxima à loucura; o outro será punido com mais
rigor, porque as penalidades são sempre proporcionais à consciência que
se tem dos erros cometidos.

953 Quando uma pessoa vê diante de si uma morte inevitável e
terrível, é culpada por abreviar em alguns instantes seus sofrimentos
por uma morte voluntária?
– Sempre se é culpado por não aguardar o termo fixado por Deus.
Quem poderá assegurar, aliás, se o fim chegou, apesar das aparências, e
que não se pode receber um socorro inesperado no último momento?

953 a Concebe-se que em circunstâncias comuns o suicídio seja
condenável, mas suponhamos o caso em que a morte é inevitável e a
vida seja abreviada apenas por alguns instantes.
– É sempre uma falta de resignação e submissão à vontade do
Criador.

953 b Quais são, nesse caso, as conseqüências dessa ação?
– Uma expiação proporcional à gravidade do erro, de acordo com as
circunstâncias, como sempre.

954 Uma imprudência que compromete a vida sem necessidade
é repreensível?
– Não existe culpabilidade se não há intenção ou consciência positiva
de fazer o mal.

955 As mulheres que, em certos países, se fazem queimar nas
piras cinerárias1 voluntariamente junto com o cadáver do marido podem
ser consideradas suicidas, e sofrem as conseqüências disso?
– Elas obedecem a um preconceito e muitas vezes mais pela força do
que por vontade própria. Acreditam cumprir um dever, e aí não se caracteriza
o suicídio. São desculpáveis pelo pouco desenvolvimento moral da
maioria delas e pela ignorância. Esses costumes bárbaros e estúpidos
desaparecem com a civilização.

956 Aqueles que, não podendo suportar a perda das pessoas
queridas, se matam na esperança de reencontrá-las, atingem seu
objetivo?
– O resultado é completamente diferente do que esperam: em vez de
se unirem às pessoas de sua afeição, afastam-se delas por mais tempo,
porque Deus não pode recompensar um ato de covardia e o insulto que é
feito ao duvidarem de Sua Providência. Eles pagarão esse instante de
loucura com desgostos maiores que os que acreditam abreviar e não terão
mais para recompensá-los a satisfação que esperavam. (Veja a questão
934 e seguintes)

957 Quais são, em geral, as conseqüências do suicídio sobre o
Espírito?
– As conseqüências do suicídio são muito diversas: não existem penalidades
fixas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que
o provocaram; mas uma conseqüência da qual o suicida não pode escapar
é o desapontamento. Além disso, a sorte não é a mesma para todos:
depende das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente; outros,
em nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam.

958 Por que o homem tem instintivamente horror ao nada?
– Porque o nada não existe.

959 De onde vem para o homem o sentimento instintivo da vida
futura?
– Já dissemos: antes de sua encarnação, o Espírito conhecia todas
as coisas, e a alma guarda uma vaga lembrança do que sabia e do que viu
em seu estado espiritual. (Veja a questão 393.)

960 De onde vem a crença que se encontra em todos os povos
das penalidades e recompensas futuras?
– É sempre a mesma coisa: pressentimento da realidade trazida ao
homem pelo Espírito nele encarnado. Porque, sabei-o, não é em vão que
uma voz interior vos fala; o erro está em não escutá-la com bastante atenção.
Se pensásseis bem nisso e mais freqüentemente, melhores vos
tornaríeis.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n63

931 Por que, na sociedade, as classes sofredoras são mais numerosas
do que as felizes?
– Nenhuma é perfeitamente feliz, e o que se acredita ser felicidade
esconde freqüentemente grandes aflições. O sofrimento está por toda parte.
Entretanto, para responder ao vosso pensamento, direi que as classes
que chamais de sofredoras são mais numerosas, porque a Terra é um
lugar de expiação. Quando o homem fizer dela sua morada do bem e dos
bons Espíritos, não mais será infeliz e viverá no paraíso terrestre.

932 Por que, no mundo, os maus têm geralmente maior influência
sobre os bons?
– É pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os
bons são tímidos; quando estes últimos quiserem, dominarão.

933 Se muitas vezes o homem é o causador de seus sofrimentos
materiais, também será dos morais?
– Mais ainda, porque os sofrimentos materiais são algumas vezes independentes
da vontade; mas o orgulho ferido, a ambição frustrada, a
ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, enfim, são
torturas da alma.
A inveja e o ciúme! Felizes aqueles que não conhecem esses dois
vermes roedores! Com a inveja e o ciúme não há calma nem repouso
possível para aquele que está atacado desses males: os objetos de sua
cobiça, seu ódio, seu despeito se dirigem a ele como fantasmas que não
lhes dão nenhuma trégua e o perseguem até durante o sono. O invejoso
e o ciumento vivem num estado de febre contínua. Será essa uma situação
desejável, e não compreendeis que com suas paixões o homem criou
para si suplícios voluntários, e que a Terra torna-se para ele um verdadeiro
inferno?

934 Por que a perda das pessoas queridas nos causa um desgosto
tanto mais legítimo quanto irreparável e independente de nossa
vontade?
– Esse motivo de desgosto atinge tanto o rico quanto o pobre: é uma
prova ou uma expiação, é a lei comum. Mas é uma consolação poder se
comunicar com os amigos pelos meios que tendes, enquanto esperais
outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.

935 O que pensar das pessoas que vêem as comunicações dos
Espíritos como uma profanação?
– Não pode haver nisso profanação quando há recolhimento e quando
a evocação é feita com respeito e dignidade. O que prova isso é que
os Espíritos que se afeiçoam a vós vêm com prazer, ficam felizes com
vossa lembrança e por se comunicarem convosco. Haveria profanação se
fizessem disso uma leviandade.

936 Como as dores inconsoláveis dos encarnados afetam os Espíritos
que partiram?
– O Espírito é sensível à lembrança e aos lamentos daqueles que
amou, mas uma dor incessante e irracional o afeta dolorosamente, porque
vê nessa dor excessiva uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus
e um obstáculo ao adiantamento dos que choram e, talvez, ao reencontro
entre todos.

937 As decepções causadas pela ingratidão e a fragilidade da
amizade também não são para o homem de coração uma fonte de
amargura?
– Sim; mas já vos ensinamos a lastimar os ingratos e amigos infiéis: eles
serão mais infelizes que vós. A ingratidão é filha do egoísmo, e o egoísmo
encontrará mais tarde corações insensíveis, como ele mesmo foi. Pensai
em todos que fizeram mais o bem do que vós, que valeram muito mais do
que vós, e que foram pagos com ingratidão. Pensai que o próprio Jesus foi
zombado e desprezado quando na Terra, tratado de velhaco e de impostor,
e não vos espanteis que o mesmo possa acontecer convosco. Que o bem
que fizestes seja vossa recompensa neste mundo, e não vos preocupeis
com o que dizem aqueles que o receberam. A ingratidão é uma prova para
vossa persistência em fazer o bem e será levada em conta. Os ingratos
serão tanto mais punidos quanto maior tiver sido a sua ingratidão.

938 As decepções causadas pela ingratidão não predispõe a
endurecer o coração e fechá-lo à sensibilidade?
– Isso seria um erro, porque o homem de coração, como dizeis, está
sempre feliz com o bem que faz. Ele sabe que se pelo bem que faz não o
reconhecerem nesta vida, na outra o farão, e que ao ingrato restará a
vergonha e o remorso.

938 a Esse pensamento não impede seu coração de ser magoado;
portanto, isso não poderia originar a idéia de que seria mais feliz
se fosse menos sensível?
– Sim, se preferir a felicidade do egoísta, que é muito triste! Que ele
saiba que os amigos ingratos que o abandonam não são dignos de sua
amizade e que se enganou sobre eles; portanto, não deve lamentar sua
perda. Mais tarde, encontrará outros que o compreenderão melhor. Lamentai
aqueles que têm para convosco um comportamento ingrato que
não merecestes, porque terão amarga recompensa, um triste retorno; e
também não vos aflijais com isso: é o meio de vos colocar acima deles.

UNIÕES ANTIPÁTICAS
939 Se os Espíritos simpáticos são levados a se unir, como é
que, entre os encarnados, a afeição seja freqüente apenas de um
lado, e que o amor mais sincero seja muitas vezes acolhido com indiferença
e até mesmo com repulsa? Como, além disso, a mais viva
afeição de dois seres pode se transformar em antipatia e ódio?
– Vós não compreendeis, porque é uma punição passageira. Aliás,
quantos não há que acreditam amar perdidamente, porque julgam apenas
pelas aparências, e quando são obrigados a viver com as pessoas amadas,
não tardam a reconhecer que é apenas uma atração física! Não basta
estar apaixonado por uma pessoa que vos agrada e que tem muitas qualidades;
é na convivência real que podereis apreciá-la. Quantas uniões há
que, de início, parecem não ser simpáticas; porém, depois de um e outro
se conhecerem e se estudarem bem terminam por se amar com um amor
terno e durável, porque se baseia na estima! Não se pode esquecer que é
o Espírito que ama, e não o corpo, e quando a ilusão material se dissipa, o
Espírito vê a realidade.
Há duas espécies de afeição: a do corpo e da alma, e toma-se freqüentemente
uma pela outra. A afeição da alma, quando é pura e simpática,
é durável; a do corpo é passageira. Eis por que muitas vezes os
que pensavam se amar com um amor eterno se odeiam quando acaba a
ilusão.

940 A falta de simpatia entre os seres que têm de viver juntos
não é igualmente uma fonte de desgostos amarga e que envenena
toda a existência?
– Muito amarga, de fato; mas é uma dessas infelicidades de que,
freqüentemente, sois os principais responsáveis. Primeiro, são vossas leis
que estão erradas. Por que acreditais que Deus obriga a ficar com aqueles
que vos desagradam? E depois, nessas uniões, procurais muitas vezes
mais a satisfação do orgulho e da ambição do que a felicidade de uma
afeição mútua. Então suportais a conseqüência de vossos preconceitos.

940 a Mas, nesse caso, não existe quase sempre uma vítima
inocente?
– Sim, e é para ela uma dura expiação. Mas a responsabilidade de
sua infelicidade recairá sobre quem a causou. Se a luz da verdade já penetrou
sua alma, terá consolação em sua fé no futuro; além disso, à medida
que os preconceitos forem enfraquecendo, as causas dessas infelicidades
íntimas também desaparecerão.

MEDO DA MORTE
941 O medo da morte é para muitas pessoas um motivo de perplexidade;
de onde vem esse medo, se têm o futuro diante de si?
– É um erro terem esse medo. Mas o que quereis! Procura-se convencê-
las desde crianças de que existe um inferno e um paraíso, e que é
mais certo irem para o inferno, porque lhe dizem que ao agirem de acordo
com a natureza cometem um pecado mortal para a alma: então, quando
se tornam adultas, se têm algum discernimento, não podem admitir isso, e
tornam-se ateus ou materialistas. É assim que se conduzem as pessoas a
crer que além da vida presente não há mais nada, e as que persistiram em
suas crenças de infância temem esse fogo eterno que deve queimá-las
sem destruí-las.
A morte, entretanto, não inspira ao justo nenhum temor, porque, com
a fé, tem a certeza do futuro; a esperança lhe faz esperar uma vida melhor,
e a caridade que praticou dá-lhe a certeza de que não encontrará no mundo
para onde vai nenhum ser do qual deva temer o olhar. (Veja a questão
730.)


942 Certas pessoas não acharão esses conselhos banais para
serem felizes na Terra? Não verão o que chamam de lugares-comuns,
verdades repetidas? E não dirão que, definitivamente, o segredo para
ser feliz é saber suportar sua infelicidade?
– Há os que dirão isso, e serão muitos. Mas ocorre o mesmo com
certos doentes a quem o médico prescreve a dieta: gostariam de ser
curados sem remédios e continuar a se predispor às indigestões.

DESGOSTO DA VIDA. SUICÍDIO
943 De onde vem o desgosto pela vida que se apodera de certos
indivíduos sem motivos razoáveis?
– Efeito da ociosidade, da falta de fé e freqüentemente da satisfação
plena de seus apetites e vontades, do tédio. Para aquele que exerce suas
atividades com um objetivo útil e de acordo com suas aptidões naturais, o
trabalho não tem nada de árido, e a vida escoa mais rapidamente. Suporta
as contingências da vida com mais paciência e resignação quanto age tendo
em vista uma felicidade mais sólida e mais durável que o espera.

944 O homem tem o direito de dispor de sua própria vida?
– Não, apenas Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma
transgressão dessa lei.

944 a O suicídio não é sempre voluntário?
– O louco que se mata não sabe o que faz.

945 O que pensar do suicídio que tem como causa o desgosto da
vida?
– Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes teria
sido pesada!

sábado, 19 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n62

916 O egoísmo, longe de diminuir, aumenta com a civilização, que
parece excitá-lo e mantê-lo; como a causa poderá destruir o efeito?
– Quanto maior o mal, mais se torna horrível. Será preciso que o egoísmo
cause muito mal para fazer compreender a necessidade de extingui-lo.
Quando os homens tiverem se libertado do egoísmo que os domina, viverão
como irmãos, não se fazendo nenhum mal, ajudando-se mutuamente
pelo sentimento natural da solidariedade; então o forte será o apoio e não
opressor do fraco, e não se verão mais homens desprovidos do indispensável
para viver, porque todos praticarão a lei da justiça. É o reino do bem
que os Espíritos estão encarregados de preparar. (Veja a questão 784.)

917 Qual o meio de destruir o egoísmo?
– De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de extinguir é o
egoísmo, porque se liga à influência da matéria da qual o homem, ainda
muito próximo de sua origem, não se pode libertar. Tudo concorre para
manter essa influência: suas leis, sua organização social, sua educação.
O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a
material, e principalmente com a compreensão que o Espiritismo vos dá
do futuro real, e não desnaturado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo
bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as
crenças, transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo
está fundado sobre a importância da personalidade; portanto, o Espiritismo
bem compreendido, repito, mostra as coisas de tão alto que o
sentimento da personalidade desaparece, de alguma forma, perante a imensidão.
Ao destruir essa importância, ou pelo menos ao fazer vê-la como é,
combate necessariamente o egoísmo.
É o choque que o homem experimenta do egoísmo dos outros que o
torna freqüentemente egoísta por si mesmo, porque ele sente a necessidade
de se colocar na defensiva. Ao ver que os outros pensam só em si
mesmos e não nos demais, é conduzido a se ocupar de si mais do que
dos outros. Que o princípio da caridade e da fraternidade seja a base das
instituições sociais, das relações legais de povo para povo e de homem
para homem, e o homem pensará menos em sua pessoa quando vir que
outros pensam nisso; ele sofrerá a influência moralizadora do exemplo e
do contato. Em face da atual intensidade do egoísmo humano, é preciso
uma verdadeira virtude para se desprender de sua personalidade em favor
dos outros, que freqüentemente não sabem agradecer. É principalmente
para os que possuem essa virtude que o reino dos céus está aberto; é
especialmente para eles que está reservada a felicidade dos eleitos, porque
eu vos digo em verdade que, no dia da justiça, quem tiver apenas
pensado em si mesmo será colocado de lado e sofrerá no seu abandono.
(Veja a questão 785.)
Fénelon

CARACTERÍSTICAS DO HOMEM DE BEM
918 Por que sinais pode-se reconhecer num homem o progresso
real que deve elevar seu Espírito na hierarquia espírita?
– O Espírito prova sua elevação quando todos os atos de sua vida são
a prática da lei de Deus e quando compreende por antecipação a vida
espiritual.

CONHECIMENTO DE SI MESMO
919 Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida
e resistir aos arrastamentos do mal?
– Um sábio da Antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”.

919 a Concebemos toda sabedoria desse ensinamento, mas a
dificuldade está precisamente em conhecer-se a si mesmo; qual é o
meio de conseguir isso?
– Fazei o que eu fazia quando estava na Terra: no fim do dia, interrogava
minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava
se não havia faltado com o dever, se ninguém tinha do que se queixar de
mim. Foi assim que consegui me conhecer e ver o que havia reformado
em mim. Aquele que, a cada noite, se lembrasse de todas as suas ações
do dia e se perguntasse o que fez de bom ou de mau, orando a Deus e ao
seu anjo de guarda para esclarecê-lo, adquiriria uma grande força para se
aperfeiçoar porque, acreditai em mim, Deus o assistiria. Interrogai-vos sobre
essas questões e perguntai o que fizestes e com que objetivo agistes
em determinada circunstância, se fizestes qualquer coisa que censuraríeis
em outras pessoas, se fizestes uma ação que não ousaríeis confessar.
Perguntai-vos ainda isso: se agradasse a Deus me chamar nesse momento,
teria eu, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, o que
temer diante de alguém? Examinai o que podeis ter feito contra Deus,
depois contra vosso próximo e, por fim, contra vós mesmos. As respostas
serão um repouso para vossa consciência ou a indicação de um mal que
é preciso curar.
O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do melhoramento
individual. Mas, direis, como proceder a esse julgamento? Não se tem a
ilusão do amor-próprio que ameniza as faltas e as desculpa? O avaro acredita
ser simplesmente econômico e previdente; o orgulhoso acredita
somente ter dignidade. Isso não deixa de ser verdade, mas tendes um
meio de controle que não pode vos enganar. Quando estiverdes indecisos
sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a qualificaríeis
se fosse feita por outra pessoa; se a censurais nos outros, não poderá ser
mais legítima em vós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça.
Procurai, assim, saber o que os outros pensam, e não negligencieis a
opinião dos opositores, porque estes não têm nenhum interesse em dissimular
a verdade e, muitas vezes, Deus os coloca ao vosso lado como um
espelho, para vos advertir com mais franqueza do que faria um amigo.
Que aquele que tem a vontade séria de se melhorar sonde sua consciência,
a fim de arrancar de si as más tendências, como arranca as más ervas
de seu jardim. Que faça o balanço de sua jornada moral, como o mercador
faz a de suas perdas e lucros, e eu vos asseguro que isso resultará em
seu benefício. Se puder dizer a si mesmo que seu dia foi bom, pode dormir
em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida.
Submetei à análise questões claras e precisas e não temeis multiplicá-
las: pode-se muito bem dedicar alguns minutos para conquistar uma
felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias visando a juntar o que vos
dê repouso na velhice? Esse repouso não é objeto de todos os vossos
desejos, o objetivo que vos faz suportar fadigas e privações momentâneas?
Pois bem! O que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas
enfermidades do corpo, ao lado daquele que espera o homem de bem?
Não vale a pena fazer algum esforço? Sei que muitos dizem que o presente
é positivo e o futuro incerto; portanto, eis aí, precisamente, o pensamento
de que estamos encarregados de destruir em vós, porque desejamos que
compreendais esse futuro de maneira que não possa deixar nenhuma dúvida
na vossa alma. Eis por que chamamos inicialmente vossa atenção
para os fenômenos que impressionavam os vossos sentidos e depois vos
demos as instruções que cada um está encarregado de divulgar. Foi com
esse objetivo que ditamosO Livro dos Espíritos.

920 O homem pode desfrutar na Terra de uma felicidade completa?
– Não, uma vez que a vida lhe foi dada como prova ou expiação; mas
depende dele amenizar esses males e ser tão feliz quanto se pode ser na
Terra.

921 Concebe-se que o homem será feliz na Terra quando a humanidade
estiver transformada. Mas, enquanto isso, cada um pode
garantir para si uma felicidade relativa?
– O homem é quase sempre o agente de sua própria infelicidade. Ao
praticar a lei de Deus, se pouparia dos males e desfrutaria de uma felicidade
tão grande quanto o comporta sua existência grosseira.

922 A felicidade terrena é relativa à posição de cada um; o que
basta à felicidade de um faz a infelicidade de outro. Existe, entretanto,
uma medida de felicidade comum a todos os homens?
– Para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, a
pureza da consciência e a fé no futuro.

923 O que é supérfluo para uns não se torna necessário para
outros e, reciprocamente, conforme suas posições na sociedade?
– Sim, de acordo com vossas idéias materiais, preconceitos e ambição,
e todos os caprichos ridículos aos quais o futuro fará justiça quando
compreenderdes a verdade. Sem dúvida, aquele que tinha um valor de
cinqüenta mil de renda e que agora só tem dez acredita ser bem infeliz,
porque não pode mais ter uma grande soma, ter o que chama de sua
posição, seus cavalos, criados, satisfazer todas as suas paixões, etc. Acredita
não ter o necessário; mas, francamente, achais que ele tem direito de
se lamentar, quando ao seu lado há quem morre de fome e frio e não tem
um abrigo para repousar a cabeça? O homem sábio, para ser feliz, olha
abaixo de si e nunca acima, a não ser para elevar sua alma ao infinito. (Veja
a questão 715.)

924 Existem males que independem da maneira de agir e que
atingem até o homem mais justo; tem ele algum meio de se preservar
deles?
– Ele deve se resignar e suportá-los sem lamentações, se quiser progredir;
mas sempre possui uma consolação na sua consciência que lhe
dá a esperança de um futuro melhor, se faz o que é preciso para obtê-lo.

925 Por que Deus favorece com os dons da riqueza certos homens
que não parecem merecê-los?
– É um favor que se apresenta aos olhos daqueles que vêem apenas
o presente; mas, sabei bem, a riqueza é uma prova freqüentemente mais
perigosa do que a pobreza. (Veja a questão 814 e seguintes)

926 A civilização, ao criar novas necessidades, não é a fonte de
novas aflições?
– Os males desse mundo ocorrem em razão das necessidades falsas
que criais. Aquele que sabe limitar seus desejos e vê sem inveja o que
está acima de si poupa-se das decepções nessa vida. O mais rico dos
homens é aquele que tem menos necessidades.
Invejais os prazeres daqueles que parecem os mais felizes do mundo;
mas sabeis o que lhes está reservado? Se desfrutam desses prazeres
somente para si, são egoístas, então virá o reverso. De preferência, lastimai-
os. Deus permite algumas vezes que o mau prospere, mas essa
felicidade não é para ser invejada, porque a pagará com lágrimas amargas.
Se o justo é infeliz, é uma prova que lhe será levada em conta, se a
suporta com coragem; lembrai-vos dessas palavras de Jesus: “Felizes os
que sofrem pois serão consolados”.

927 O supérfluo não é certamente indispensável à felicidade, mas
o mesmo não acontece com o necessário. Não é real a infelicidade
daqueles que não têm o necessário?
– O homem só é verdadeiramente infeliz quando sofre com a falta do
que é necessário à vida e à saúde do corpo. Essa carência talvez ocorra
por sua própria culpa; então, deve queixar-se somente de si mesmo. Se for
causada por outros, a responsabilidade recai sobre aquele que a causar.

928 Pela especialidade das aptidões naturais, Deus indica evidentemente
nossa vocação neste mundo. Muitos males não surgem
por não seguirmos essa vocação?
– É verdade, e são freqüentemente os pais que, por orgulho ou vaidade,
fazem seus filhos saírem do caminho traçado pela natureza e, por causa
desse deslocamento, comprometem sua felicidade. Serão responsabilizados
por isso.

928 a Assim, acharíeis justo que um filho de um homem bem
posicionado na sociedade fizesse tamancos, por exemplo, se for essa
sua aptidão?
– Não é preciso cair no absurdo nem exagerar. A civilização tem suas
necessidades. Por que o filho de um homem bem posicionado, como
dizeis, faria tamancos, se pode fazer outra coisa? Ele poderá sempre se
tornar útil na medida de suas aptidões, se não as contrariar. Assim, por
exemplo, em vez de ser um mau advogado, poderia talvez tornar-se um
bom mecânico, etc.

929 Existem pessoas que, sentindo-se carentes de todos os recursos,
mesmo que a abundância reine ao seu redor, têm somente a
morte como perspectiva; nesse caso o que devem fazer? Devem se
deixar morrer de fome?
– Não se deve nunca ter a idéia de se deixar morrer de fome porque
sempre encontrará um meio de se alimentar, se o orgulho não se colocar
entre a necessidade e o trabalho. Diz-se freqüentemente: não há nenhuma
profissão humilhante, nenhum trabalho desonra; diz-se para os outros
e não para si.

930 É evidente que, isento dos preconceitos sociais pelos quais
se deixa dominar, o homem sempre encontrará um trabalho qualquer
que o ajude a viver, mesmo deslocado de sua posição; mas entre as
pessoas que não têm preconceitos ou que os colocam de lado não
existem aquelas que estão na impossibilidade de prover às suas necessidades
em conseqüência de doenças ou outras causas independentes
de sua vontade?
– Numa sociedade organizada de acordo com a lei do Cristo ninguém
deve morrer de fome.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n61

900 Para quem acumula sem cessar e sem fazer o bem a ninguém
será válida como desculpa a idéia de que acumula para deixar
mais aos herdeiros?
– É um compromisso de má consciência.

901 Há dois avarentos: o primeiro priva-se do necessário e morre
sobre seu tesouro; o segundo é somente avarento para os outros;
mas pródigo para si mesmo, enquanto recua diante do mais breve
sacrifício para prestar um serviço ou fazer uma coisa útil, nenhum
custo é bastante para satisfazer seus gostos e paixões. Peça-lhe um
favor, e ele sempre é difícil; mas quando quer realizar uma fantasia,
tem sempre o bastante. Qual é o mais culpável e qual deles ficará em
pior situação no mundo dos Espíritos?
– Aquele que desfruta das coisas; ele é mais egoísta do que avarento:
o outro já vive uma parte de sua punição.

902 É errado desejar a riqueza para fazer o bem?
– O sentimento é louvável, sem dúvida, quando é puro; mas será
esse desejo desinteressado e não esconderá nenhuma segunda intenção
pessoal? A primeira pessoa à qual se deseja fazer o bem não é freqüentemente
a si mesmo?

903 É errado estudar os defeitos dos outros?
– Se é para divulgação e crítica há grande erro, porque é faltar com a
caridade. Porém, se a análise resultar em seu proveito pessoal evitandoos
para si mesmo, isso pode algumas vezes ser útil. Mas é preciso não
esquecer que a indulgência com os defeitos dos outros é uma das virtudes
contidas na caridade. Antes de censurar os outros pelas imperfeições,
vede se não se pode dizer o mesmo de vós. Empenhai-vos em ter as
qualidades opostas aos defeitos que criticais nos outros, esse é o meio de
vos tornardes superiores; se os censurais por serem mesquinhos, sede
generosos; por serem orgulhosos, sede humildes e modestos; por serem
duros, sede dóceis; por agirem com baixeza, sede grandes em todas as
ações. Em uma palavra, fazei de maneira que não se possa aplicar a vós
estas palavras de Jesus: “Vê um cisco no olho de seu vizinho e não vê
uma trave no seu”.

904 É errado investigar e revelar os males da sociedade?
– Depende do sentimento com que se faz; se o escritor quer apenas
produzir escândalo, é um prazer pessoal que procura, apresentando quadros
que mostram antes um mau do que bom exemplo. Apesar de ter feito
uma avaliação, como Espírito, pode ser punido por essa espécie de prazer
que tem em revelar o mal.

904 a Como, nesse caso, julgar a pureza das intenções e a sinceridade
do escritor?
– Isso nem sempre é útil mas,se escreve coisas boas, aproveitai-as.
Se forem más, ignorai-as. É uma questão de consciência dele. Afinal, se
deseja provar sua sinceridade, deve apoiar o que escreve com seu próprio
exemplo.

905 Certos autores publicaram obras belíssimas, de elevada
moral, que ajudam o progresso da humanidade, mas eles mesmos
não tiram delas nenhum proveito; como Espíritos, será levado em conta
o bem que fizeram com essas obras?
– A moral sem as ações é a semente sem trabalho. De que serve a
semente se não é multiplicada para vos alimentar? Esses homens são
mais culpáveis, porque tiveram a inteligência para compreender. Não praticando
os ensinamentos que deram aos outros, renunciaram a colher seus
próprios frutos.

906 É errado, ao fazer o bem, ter consciência disso e reconhecê-lo?
– Tendo consciência do mal que faz, deve o homem também ter consciência
do bem e saber se age bem ou mal. Ponderando suas ações
diante das leis divinas, e principalmente na lei de justiça, amor e caridade,
é que poderá dizer se elas são boas ou más, aprová-las ou não. Ele não
estará errado quando reconhecer que venceu suas más tendências e fica
satisfeito, desde que não se envaideça, porque então cairá em outra falta.
(Veja a questão 919.)

PAIXÕES
907 O princípio das paixões, sendo natural, é mau em si mesmo?
– Não. A paixão está no excesso acrescentado à vontade, já que o
princípio foi dado ao homem para o bem, e as paixões podem levá-lo a
realizar grandes coisas. É no seu abuso que está a causa do mal.
908 Como definir o limite em que as paixões deixam de ser boas
ou más?
– As paixões são semelhantes a um cavalo, que é útil quando é dominado
e perigoso quando domina. Reconhecei que uma paixão torna-se
perigosa no momento em que deixais de governá-la e resultar qualquer
prejuízo para vós ou para os outros.

909 O homem poderia sempre vencer suas más tendências pelos
seus esforços?
– Sim, e algumas vezes com pouco esforço; é a vontade que lhe falta.
Como são poucos dentre vós os que se esforçam!

910 O homem pode encontrar nos Espíritos uma assistência eficaz
para superar suas paixões?
– Se ele orar a Deus e a seu protetor com sinceridade, os bons Espíritos
certamente virão em sua ajuda, porque é missão deles. (Veja a
questão 459.)

911 Não existem paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade
não tenha o poder de superá-las?
– Há muitas pessoas que dizem: Eu quero, mas a vontade está apenas
nos lábios. Querem, mas estão bem satisfeitas que assim não seja.
Quando o homem não acredita poder vencer suas paixões, é que seu
Espírito se satisfaz nisso por conseqüência de sua inferioridade. Aquele
que procura reprimi-las compreende sua natureza espiritual; vencê-las é,
para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria.

912 Qual o meio mais eficaz de combater a predominância da
natureza corporal?
– Praticar o desprendimento.

913 Entre os vícios, qual se pode considerar o pior?
– Já dissemos várias vezes: é o egoísmo; dele deriva todo mal. Estudai
todos os vícios e vereis que no fundo de todos existe egoísmo. Vós os
combatereis inutilmente e não conseguireis arrancá-los enquanto não
tiverdes atacado o mal pela raiz, enquanto não tiverdes destruído a causa.
Que todos os vossos esforços tendam para esse objetivo, porque aí está
a verdadeira chaga da sociedade. Aquele que deseja se aproximar, já nesta
vida, da perfeição moral, deve arrancar de seu coração todo sentimento
de egoísmo, por ser incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele
neutraliza todas as outras qualidades.

914 Parece bem difícil extinguir inteiramente o egoísmo do coração
do homem se ele estiver baseado no interesse pessoal; pode-se
conseguir isso?
– À medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais,
dão menos valor às materiais. É preciso reformar as instituições humanas
que estimulam e mantêm o egoísmo. Isso depende da educação.

915 O egoísmo, sendo próprio da espécie humana, não será sempre
um obstáculo para que reine o bem absoluto na Terra?
– É certo que o egoísmo é o maior mal, mas ele se prende à inferioridade
dos Espíritos encarnados na Terra, e não à humanidade em si mesma;
os Espíritos, ao se depurarem nas sucessivas encarnações, perdem o
egoísmo como perdem outras impurezas. Não tendes na Terra algum homem
desprovido de egoísmo e praticando a caridade? Há mais do que
imaginais, porém pouco os conheceis, porque a virtude não se põe em
evidência; se há um, por que não haveria dez? Se há dez, por que não
haveria mil e assim por diante?

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n60

CARIDADE E AMOR AO PRÓXIMO
886 Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a
entendia Jesus?
– Benevolência com todos, indulgência com as imperfeições dos
outros, perdão das ofensas.

887 Jesus também disse: “Amai até mesmo os inimigos”. Porém,
o amor aos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais? A
inimizade não provém da falta de simpatia entre os Espíritos?
– Sem dúvida, não se pode ter pelos inimigos um amor terno e apaixonado;
não foi o que Jesus quis dizer. Amar aos inimigos é perdoar e
pagar o mal com o bem. Agindo assim nos tornamos superiores a eles;
pela vingança, nos colocamos abaixo deles.

888 O que pensar da esmola?
– O homem reduzido a pedir esmola se degrada moral e fisicamente:
ele se embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça,
deve-se prover a vida do fraco sem humilhação e garantir a existência
daqueles que não podem trabalhar sem deixar sua vida sujeita ao acaso e
à boa vontade.

888 a Vós reprovais a esmola?
– Não; não é a esmola que é reprovável, é muitas vezes a maneira
como é dada. O homem de bem que compreende a caridade, como Jesus,
vai até o infeliz sem esperar que ele estenda a mão.
A verdadeira caridade é sempre boa e benevolente, tanto no ato quanto
na forma. Um serviço que nos é oferecido com delicadeza tem seu valor
aumentado; mas se é feito com ostentação, a necessidade pode fazer
com que seja aceito, porém o coração não se sente tocado.
Lembrai-vos também que a ostentação tira, aos olhos de Deus, o
mérito do benefício. Jesus ensinou: “Que a mão esquerda não saiba o que
faz a direita”, ensinando a não ofuscar a caridade com o orgulho.
É preciso distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O
mais necessitado nem sempre é aquele que pede; o temor da humilhação
tolhe o verdadeiro pobre, que sofre sem se lamentar; é a esse que o homem
verdadeiramente humano deve procurar sem ostentação.
Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei. Lei divina pela qual Deus
governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados;
a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.
Nunca vos esqueçais de que o Espírito, seja qual for seu grau de
adiantamento, sua situação como reencarnado ou no mundo espiritual,
está sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um
inferior diante do qual tem esses mesmos deveres a cumprir.
Sede caridosos, praticando não apenas a caridade que tira do bolso
a esmola que dais friamente àquele que ousa pedir, mas a que vos leve ao
encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos de
vossos semelhantes. Em vez de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os
e moralizai-os. Sede doces e benevolentes para todos que são inferiores;
sede doces e benevolentes mesmo em relação aos seres mais insignificantes
da criação e tereis obedecido à lei de Deus.
São Vicente de Paulo

889 Não existem homens reduzidos a mendigos por sua própria
culpa?
– Sem dúvida; mas se uma boa educação moral lhes ensinasse a
praticar a lei de Deus, não cairiam nos excessos que causam sua perdição;
é daí, especialmente, que depende o melhoramento de vosso globo.
(Veja a questão 707.)

AMOR MATERNO E FILIAL
890 O amor materno é uma virtude ou um sentimento instintivo
comum aos humanos e animais?
– Tanto um quanto outro. A natureza deu à mãe o amor pelos filhos no
interesse de sua conservação; mas no animal esse amor está limitado às
necessidades materiais e termina quando os cuidados tornam-se inúteis.
No homem, ele persiste por toda a vida e comporta um devotamento e um
desinteresse que são virtudes. Sobrevive até mesmo à morte e prossegue
no mundo espiritual. Observai bem que há nele outra coisa a mais que no
animal. (Veja as questões 205 e 385.)

891 Uma vez que o amor materno está na natureza, por que há
mães que odeiam seus filhos desde o nascimento?
– É algumas vezes uma prova escolhida pelo Espírito da criança, ou
uma expiação, se ele mesmo foi um mau pai, mãe ou um mau filho em
uma outra existência. (Veja a questão 392.) Em todos os casos, a mãe ruim
só pode ser animada por um mau Espírito que se empenha em dificultar a
existência do filho para que ele fracasse nas provas que aceitou. Mas essa
violação das leis da natureza não ficará impune e o Espírito da criança será
recompensado pelos obstáculos que tenha superado.

892 Quando os pais têm filhos que causam desgostos, não são
perdoáveis por não terem a mesma ternura que teriam em caso
contrário?
– Não, porque é um encargo a eles confiado e é sua missão fazer
todos os esforços para reconduzi-los ao bem (Veja as questões 582 e 583.)
Além disso, esses desgostos são freqüentemente o resultado dos maus
costumes que foram dados desde o berço: eles então colhem o que
semearam.

893 Qual a mais meritória de todas as virtudes?
– Todas as virtudes têm seu mérito, porque indicam progresso no
caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento
das más tendências; mas a sublimidade da virtude é o sacrifício
do interesse pessoal pelo bem de seu próximo, sem segundas intenções.
A mais merecedora das virtudes nasce da mais desinteressada caridade.

894 Há pessoas que fazem o bem de maneira espontânea, sem
precisar vencer nenhum sentimento contrário; têm tanto mérito quanto
as que têm de lutar contra sua própria natureza e que a superam?
– As que não têm de lutar é porque nelas o progresso está realizado.
Lutaram antes e venceram. Para estas os bons sentimentos não custam
nenhum esforço e suas ações parecem todas naturais: para elas o bem
tornou-se um hábito. Deve-se honrá-las como a velhos guerreiros que
conquistaram respeito.
Como ainda estais bem longe da perfeição, esses exemplos espantam
pelo contraste e são mais admirados por serem raros; mas sabei que,
nos mundos mais avançados, o que aqui é exceção lá é a regra. O sentimento
do bem é espontâneo por toda parte, porque são habitados só por
bons Espíritos, e uma única má intenção seria para eles uma exceção
monstruosa. Por isso nesses mundos os homens são felizes. E assim será
na Terra quando a humanidade se transformar, compreender e praticar a
caridade em seu verdadeiro sentido.

895 Além dos defeitos e vícios sobre os quais ninguém se enganaria,
qual o sinal mais característico da imperfeição?
– O interesse pessoal. As qualidades morais são, freqüentemente,
como banho de ouro sobre um objeto de cobre que não resiste à pedra de
toque1. Um homem pode ter qualidades reais que fazem dele, diante de
todos, um homem de bem. Mas essas qualidades, ainda que sejam um
progresso, nem sempre resistem a certas provas, e basta tocar no interes-
se pessoal para colocar o fundo a descoberto. O verdadeiro desinteresse
é coisa tão rara na Terra que é admirado como um fenômeno quando se
apresenta.
O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque
quanto mais o homem se prende aos bens deste mundo menos
compreende sua destinação. Pelo desinteresse, ao contrário, prova que
vê o futuro sob um ponto de vista mais elevado.

896 Existem pessoas desinteressadas e sem discernimento, que
esbanjam seus bens sem proveito real por falta de um uso criterioso.
Terão, por isso, algum mérito?
– Elas têm o mérito do desinteresse, mas não do bem que poderiam
fazer. Se o desinteresse é uma virtude, a extravagância é sempre, pelo
menos, falta de senso. A riqueza não é dada a alguns para ser jogada ao
vento, nem a outros para ser trancada numa caixa-forte. É um depósito ou
um empréstimo de que deverão prestar contas, porque terão de responder
por todo bem que poderiam ter feito e não fizeram, e por todas as
lágrimas que poderiam secar com o dinheiro que deram aos que não
tinham necessidade.

897 É repreensível aquele que faz o bem, sem visar recompensa
na Terra, mas na esperança de ser recompensado na outra vida, para
que lá sua posição seja melhor? Esse pensamento prejudica seu progresso?
– É preciso fazer o bem pela caridade, com desinteresse.

897 a Entretanto, cada um tem o desejo natural de progredir,
para sair do estado aflitivo desta vida; os próprios Espíritos nos ensinam
a praticar o bem com esse objetivo; será, então, um mal ao pensar
que fazendo o bem podemos esperar mais do que na Terra?
– Certamente que não; mas aquele que faz o bem sem segundas
intenções e pelo único prazer de ser agradável a Deus e ao próximo já está
num certo grau de adiantamento que lhe permitirá atingir muito mais cedo
a felicidade do que seu irmão que, mais positivo, faz o bem calculadamente
e não por uma ação espontânea e natural de seu coração. (Veja a
questão 894.)

897 b Não há aqui uma distinção a fazer entre o bem que se
pode fazer ao próximo e o esforço que se faz para corrigir as próprias
faltas? Concebemos que fazer o bem com o pensamento de que será
levado em conta em outra vida é pouco meritório. Mas corrigir-se, vencer
as paixões, melhorar o caráter para se aproximar dos bons Espíritos
e se elevar será igualmente um sinal de inferioridade?
– Não, não. Quando dizemos fazer o bem, queremos dizer ser caridoso.
Aquele que calcula o que cada boa ação pode lhe render na vida
futura, assim como na terrestre, age como egoísta. Porém, não há nenhum
egoísmo em desejar se melhorar para se aproximar de Deus, porque
esse deve ser o objetivo para o qual cada um de nós deve se dirigir.

898 Uma vez que a vida no corpo é temporária e que nosso futuro
deve ser a principal preocupação, é útil o esforço para adquirir conhecimentos
científicos referentes apenas às coisas e às necessidades
materiais?
– Sem dúvida. Inicialmente isso fará aliviar vossos irmãos; depois, vosso
Espírito se elevará mais rápido se já progrediu em inteligência; no intervalo
das encarnações, aprendereis em uma hora o que levaria anos na Terra.
Todo conhecimento é útil; todos contribuem para o progresso, porque o
Espírito para chegar à perfeição deve saber de tudo. Como o progresso
tem de se realizar em todos os sentidos, todas as idéias adquiridas contribuem
para o desenvolvimento do Espírito.

899 Dois homens são ricos: um nasceu na riqueza e nunca conheceu
a necessidade; o outro deve sua riqueza ao trabalho. Tanto um quanto
outro a empregam para satisfação pessoal. Qual o mais culpável?
– Aquele que conheceu os sofrimentos. Ele sabe o que é sofrer. Conhece
a dor mas não a alivia nos outros porque muito freqüentemente nem se
lembra dela.

900 Para quem acumula sem cessar e sem fazer o bem a ninguém
será válida como desculpa a idéia de que acumula para deixar
mais aos herdeiros?
– É um compromisso de má consciência.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n59

871 Uma vez que Deus sabe tudo, sabe, igualmente, se um homem
deve fracassar ou não numa prova? Nesse caso, qual é a necessidade
dessa prova, que nada acrescentará ao que Deus já sabe a
respeito desse homem?
– É o mesmo que perguntar por que Deus não criou o homem perfeito
e realizado; (Veja a questão 119.) por que o homem passa pela infância
antes de atingir a idade adulta. (Veja a questão 379.) A prova não tem a
finalidade de esclarecer a Deus sobre o mérito dessa pessoa, visto que
sabe perfeitamente para que a prova lhe serve, mas, sim, para a deixar
com toda a responsabilidade de sua ação, uma vez que é livre para fazer
ou não. Tendo o homem a escolha entre o bem e o mal, a prova tem a
finalidade de colocá-lo em luta com a tentação do mal e lhe deixar todo o
mérito da resistência. Embora saiba muito bem, antecipadamente, se triunfará
ou não, Deus não pode, em Sua justiça, puni-lo nem recompensá-lo
por um ato que ainda não foi praticado. (Veja a questão 258.)


873 O sentimento de justiça é natural ou é resultado de idéias
adquiridas?
– É tão natural que vos revoltais com o pensamento de uma injustiça.
O progresso moral desenvolve, sem dúvida, esse sentimento, mas não o
dá: Deus o colocou no coração do homem; por isso encontrareis, muitas
vezes, nos homens simples e primitivos noções mais exatas de justiça do
que naqueles que têm muito conhecimento.

874 Se a justiça é uma lei natural, por que os homens a entendem
de maneiras diferentes, e que um considere justo o que parece
injusto a outro?
– É que à Lei se misturam freqüentemente paixões que alteram esse
sentimento, como acontece com a maior parte dos outros sentimentos
naturais, e fazem o homem ver as coisas sob um falso ponto de vista.

875 Como se pode definir a justiça?
– A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.

875 a O que determina esses direitos?
– São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural.
Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e caráter, essas
leis estabeleceram direitos que variaram com o progresso dos
conhecimentos. Observai que as vossas leis atuais, sem serem perfeitas,
já não consagram os mesmos direitos da Idade Média. No entanto, esses
direitos antiquados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais
naquela época. O direito estabelecido pelos homens nem sempre,
portanto, está de acordo com a justiça. Regula apenas algumas relações
sociais, enquanto, na vida particular, há uma imensidão de atos unicamente
inerentes à consciência de cada um.

876 Fora do direito consagrado pela lei humana, qual é a base da
justiça fundada sobre a lei natural?
– O Cristo disse: “Não façais aos outros o que não quereis que vos
façam”. Deus colocou no coração do homem a regra de toda a verdadeira
justiça pelo desejo que cada um tem de ver respeitados os seus direitos.
Na incerteza do que fazer em relação ao semelhante numa determinada
circunstância, o homem deve perguntar-se como desejaria que se fizesse
com ele na mesma circunstância: Deus não poderia lhe dar um guia mais
seguro do que a própria consciência.

877 A necessidade para o homem de viver em sociedade lhe
impõe obrigações particulares?
– Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes.
Aquele que respeitar esses direitos sempre será justo. Em vosso mundo,
onde tantos homens não praticam a lei da justiça, cada um usa de represálias,
e isso gera perturbação e confusão em vossa sociedade. A vida
social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

878 Podendo o homem se enganar sobre a extensão de seu direito,
quem pode fazê-lo conhecer esse limite?
– O limite do direito será sempre o de dar aos seus semelhantes o
mesmo que quer para si, em circunstâncias iguais e reciprocamente.

878 a Mas se cada um conceder a si mesmo os direitos de seu
semelhante, em que se torna a subordinação em relação aos superiores?
Não causará a anarquia de todos os poderes?
– Os direitos naturais são os mesmos para todos, desde o menor até
o maior; Deus não fez uns mais puros que outros, e todos são iguais diante
d’Ele. Esses direitos são eternos. Porém, os direitos que o homem
estabeleceu desaparecem com suas instituições. Cada um percebe bem
sua força ou fraqueza e saberá sempre ter uma certa consideração com
aquele que a mereça por sua virtude e sabedoria. É importante destacar
isso, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres e
mereçam essa consideração. A subordinação não será comprometida
quando a autoridade for exercida com sabedoria.

879 Qual deve ser o caráter do homem que praticasse a justiça
em toda a sua pureza?
– Do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porque praticaria também
o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.

DIREITO DE PROPRIEDADE. ROUBO
880 Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
– O de viver. Ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu
semelhante nem fazer o que possa comprometer sua existência física.

881 O direito de viver dá ao homem o direito de juntar o necessário
para viver e repousar, quando não puder mais trabalhar?
– Sim, mas deve fazê-lo socialmente, como a abelha, por um trabalho
honesto, e não juntar como um egoísta. Até mesmo certos animais lhe dão
o exemplo do que é previdência.

882 O homem tem o direito de defender o que juntou pelo seu
trabalho?
– A lei de Deus diz: “Não roubarás”; e Jesus: “É preciso dar a César o
que é de César”.

883 O desejo de possuir é natural?
– Sim, mas quando é apenas para si e para satisfação pessoal é
egoísmo.

883 a Será legítimo o desejo de possuir, para não se tornar peso
para ninguém?
– Existem homens insaciáveis que acumulam bens sem proveito para
ninguém, só para satisfazer as paixões. Acreditais que isso seja bem visto
por Deus? Aquele que, ao contrário, junta por seu trabalho para ajudar
seus semelhantes pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado
por Deus.

884 O que é uma propriedade legítima?
– Só é propriedade legítima a que foi adquirida sem prejudicar ninguém.
(Veja a questão 808.)

885 O direito de propriedade é ilimitado?
– Sem dúvida, tudo o que é adquirido de forma legítima é uma propriedade.
Porém, como dissemos, a legislação dos homens, sendo
imperfeita, consagra freqüentemente direitos que a justiça natural reprova.
É por essa razão que os homens reformam suas leis à medida que o progresso
se realiza e compreendem melhor a justiça. O que parece perfeito
num século é bárbaro no seguinte. (Veja a questão 795.)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n58

856 O Espírito sabe por antecipação como desencarnará?
– Sabe que o gênero de vida escolhido o expõe a desencarnar mais
de uma maneira do que de outra. Sabe igualmente quais as lutas que terá
de enfrentar para evitá-la e, se Deus o permitir, não fracassará.

857 Há homens que enfrentam os perigos dos combates com a
convicção de que sua hora não chegou; há algum fundamento nessa
confiança?
– Freqüentemente, o homem tem o pressentimento de seu fim, como
pode ter o de que não morrerá ainda. Esse pressentimento vem por meio
dos seus protetores, que querem adverti-lo para estar pronto para partir,
ou estimulam sua coragem nos momentos em que é mais necessária.
Pode vir ainda pela intuição que tem da existência escolhida, ou da missão
que aceitou e sabe que deve cumprir. (Veja as questões 411 e 522.)

858 Por que os que pressentem a morte a temem menos que os
outros?
– É o homem que teme a morte e não o Espírito; aquele que a pressente
pensa mais como Espírito do que como homem: ele a compreende
como sua libertação e a espera.

859 Se a morte não pode ser evitada, ocorre o mesmo com todos
os acidentes que nos atingem no decorrer da vida?
– Freqüentemente esses acidentes são pequenas coisas para as
quais podemos vos prevenir e, algumas vezes, fazer com que as eviteis,
dirigindo vosso pensamento, porque não gostamos de vos ver sofrer; mas
isso é de pouca importância para a vida que escolhestes. A fatalidade, verdadeiramente,
consiste apenas na hora em que deveis nascer e morrer.

859 a Há fatos que, forçosamente, devam acontecer e que a vontade
dos Espíritos não podem afastar?
– Sim, mas vós, antes de encarnar, vistes e pressentistes quando
fizestes vossa escolha. Entretanto, não acrediteis que tudo o que acontece
está escrito, como se diz. Um acontecimento é, muitas vezes, a
conseqüência de um ato que praticastes por livre vontade, caso contrário
o acontecimento não teria ocorrido. Se queimais o dedo, é conseqüência
de vossa imprudência e ação sobre a matéria. Apenas as grandes dores,
os acontecimentos importantes que podem influir na evolução moral, são
previstos por Deus, já que são úteis para a vossa depuração e instrução.

860 O homem, por sua vontade e ações, pode fazer com que os
acontecimentos que deveriam ocorrer não ocorram, e vice-versa?
– Pode, desde que esse desvio aparente caiba na ordem geral da
vida que escolheu. Depois, para fazer o bem, como é seu dever e único
objetivo da vida, ele pode impedir o mal, especialmente aquele que poderia
contribuir para um mal maior.

861 O homem que comete um homicídio sabe, ao escolher sua
existência, que se tornará um assassino?
– Não. Sabe que, escolhendo uma determinada espécie de vida,
poderá ter a possibilidade de matar um de seus semelhantes, mas não
sabe se o fará porque há nele, quase sempre, uma decisão antes de
cometer qualquer ação; portanto, aquele que delibera sobre uma coisa é
sempre livre para fazê-la ou não. Se o Espírito soubesse antecipadamente
que, como homem, deveria cometer um assassinato, é porque isso estava
predestinado. Sabei que ninguém foi predestinado ao crime e todo
crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do
livre-arbítrio.
Além disso, confundis sempre duas coisas bem distintas: os acontecimentos
materiais da vida e os atos da vida moral. Se algumas vezes
existe fatalidade, é nos acontecimentos materiais cuja causa está fora de
vós e são independentes de vossa vontade. Quanto aos atos da vida
moral, esses emanam sempre do próprio homem, que sempre tem, conseqüentemente,
a liberdade de escolha. Para esses atos, nunca existe
fatalidade.

862 Existem pessoas para as quais nada sai bem e que um mau
gênio parece perseguir em todas as suas ações; não está aí o que
podemos chamar de fatalidade?
– É uma fatalidade, se quiserdes chamar assim, mas é decorrente da
escolha que essa pessoa fez para a presente existência, porque há pessoas
que quiseram ser provadas por uma vida de decepção, para exercitar
sua paciência e sua resignação. Não acrediteis, entretanto, que essa fatalidade
seja absoluta; muitas vezes é o resultado do falso caminho que
tomaram e que nada têm a ver com sua inteligência e suas aptidões. Aquele
que deseja atravessar um rio a nado sem saber nadar tem grande probabilidade
de se afogar; assim é com a maioria dos acontecimentos da vida.
Se o homem somente empreendesse coisas compatíveis e de acordo
com suas capacidades, quase sempre teria êxito. O que faz com que se
perca é seu amor-próprio e sua ambição, que o fazem sair de seu caminho
e o induzem a considerar como vocação o desejo de satisfazer certas
paixões. Ele fracassa e é por sua culpa; mas, em vez de admiti-la espontaneamente,
prefere acusar sua estrela. Seria melhor ter sido um bom
trabalhador e ganho honestamente a vida do que ser um mau poeta e
morrer de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse se colocar
em seu lugar.

863 Os costumes sociais não obrigam o homem a seguir determinado
caminho em vez de outro, e ele não está submetido ao controle
da opinião geral na escolha de suas ocupações? O que se chama
de respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?
– São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus. Se a
eles se submetem, é porque lhes convêm, e isso é ainda um ato de seu
livre-arbítrio, uma vez que, se quisessem, poderiam libertar-se deles; então,
por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar,
mas seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a abandoná-
lo. Ninguém levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública,
enquanto Deus levará em conta o sacrifício que fizerem à sua vaidade.
Isso não quer dizer que seja preciso afrontar essa opinião sem necessida-
de, como fazem algumas pessoas que têm mais originalidade do que verdadeira
filosofia. Há tanto desatino em alguém se fazer objeto de crítica ou
parecer um animal selvagem quanto existe sabedoria em descer voluntariamente
e sem reclamar, quando não se pode permanecer no topo da escala.

864 Existem pessoas para as quais a sorte é contrária, outras
parecem favorecidas, pois tudo lhes sai bem; a que se deve isso?
– Freqüentemente porque elas sabem orientar-se melhor; mas isso
pode ser também um gênero de prova. O sucesso as embriaga; elas confiam
em seu destino e freqüentemente acabam pagando mais tarde esses
mesmos sucessos com cruéis revezes, que poderiam ter evitado com a
prudência.

865 Como explicar a sorte que favorece certas pessoas nas circunstâncias
em que nem a vontade nem a inteligência interferem? O
jogo, por exemplo?
– Alguns Espíritos escolheram antecipadamente certas espécies de
prazer; a sorte que os favorece é uma tentação. Quem ganha como homem
perde como Espírito; é uma prova para seu orgulho e sua cobiça.

866 A fatalidade que parece marcar os destinos materiais de nossa
vida seria, também, o efeito de nosso livre-arbítrio?
– Vós mesmos escolhestes vossa prova; quanto mais for rude e melhor
a suportardes, mais vos elevareis. Aqueles que passam a vida na abundância
e na felicidade humana são Espíritos fracos, que permanecem
estacionários. Assim, o número de desafortunados ultrapassa em muito o
dos felizes neste mundo, já que os Espíritos procuram, na maior parte, a
prova que será mais proveitosa. Eles vêm muito bem a futilidade de vossas
grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre
inquieta, apesar da ausência da dor. (Veja a questão 525 e seguintes)

867 De onde vem a expressão nascer sob uma boa estrela?
– Velha superstição que ligava as estrelas ao destino de cada
homem. É uma simbologia que algumas pessoas fazem a tolice de levar
a sério.

CONHECIMENTO DO FUTURO
868 O futuro pode ser revelado ao homem?
– Em princípio, o futuro é desconhecido e apenas em casos raros ou
excepcionais Deus permite que seja revelado.

869 Com que objetivo o futuro é oculto ao homem?
– Se conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com
a mesma liberdade, porque seria dominado pelo pensamento de que, se
uma coisa deve acontecer, não tem por que se preocupar, ou procuraria
dificultar o acontecimento. Deus quis que assim fosse, para que cada um
cooperasse no cumprimento das coisas, até mesmo daquelas a que gostaria
de se opor. Assim, preparais, vós mesmos, freqüentemente sem
desconfiar disso, os acontecimentos que sucederão no curso de vossa
vida.

870 Mas se é útil que o futuro seja oculto, por que Deus permite
algumas vezes sua revelação?
– Permite, quando esse conhecimento prévio deva facilitar o cumprimento
de algo em vez de dificultá-lo, ficando obrigado o homem a agir de
modo diferente do que faria sem esse conhecimento. Além disso, é, freqüentemente,
uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode
despertar pensamentos bons ou maus. Se um homem souber, por exemplo,
que receberá uma herança com que não contava, pode ser que essa
revelação desperte nele a cobiça, pela expectativa de aumentar seus prazeres
terrestres, pelo desejo de se apossar de imediato da herança,
desejando, talvez, a morte daquele que lhe deve deixar a fortuna. Ou,
então, essa perspectiva pode despertar-lhe bons sentimentos e pensamentos
generosos. Se a predição não se cumpre, sofrerá uma outra prova:
a decepção. Mas ele não terá, por isso, mérito ou demérito pelos pensamentos
bons ou maus que a expectativa do acontecimento ocasionou.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n57

841 Deve-se, em respeito à liberdade de consciência, deixar que
se propaguem doutrinas nocivas e pode-se, sem prejudicar essa liberdade,
procurar trazer de volta ao caminho da verdade aqueles que
se perderam ao admitir falsos princípios?
– Certamente que sim; e até mesmo se deve. Mas ensinai a exemplo
de Jesus, pela doçura e persuasão, e não pela força, o que seria pior que
a crença daquele a quem se quer convencer. Se há algo que seja permitido
impor é o bem e a fraternidade. Mas não acreditamos que o meio de
levá-los a admitir seja agindo com violência: a convicção não se impõe.

842 Todas as doutrinas têm a pretensão de ser a única expressão
da verdade; como se pode reconhecer a que tem o direito de se
posicionar assim?
– Será aquela que faz mais homens de bem e menos hipócritas, ou
seja, pela prática da lei de amor e de caridade em sua maior pureza e sua
aplicação mais abrangente. A esse sinal reconheceis que uma doutrina é
boa, já que toda doutrina que semear a desunião e estabelecer uma demarcação
entre os filhos de Deus só pode ser falsa e nociva.

LIVRE-ARBÍTRIO
843 O homem tem sempre o livre-arbítrio?
– Uma vez que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livrearbítrio
o homem seria como uma máquina.

844 O homem desfruta de seu livre-arbítrio desde seu nascimento?
– Há liberdade de agir desde que haja a liberdade de fazer. Nos primeiros
tempos da vida a liberdade é quase nula; ela vai evoluindo e seus
objetivos mudam de acordo com o desenvolvimento das faculdades. A
criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua
idade, aplica seu livre-arbítrio às escolhas que lhe são necessárias.

845 As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer
não são um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?
– As predisposições instintivas são do Espírito antes de sua encarnação;
conforme é mais ou menos adiantado, podem levá-lo a praticar
atos condenáveis, e ele será auxiliado nisso pelos Espíritos com essas
mesmas tendências, mas não há arrebatamento irresistível quando se
tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (Veja a questão
361.)

846 O organismo tem influência sobre os atos da vida? E se tem,
ela não acaba anulando o livre-arbítrio?
– O Espírito está certamente influenciado pela matéria que o pode entravar
em suas manifestações; eis por que, nos mundos onde os corpos
são menos materiais, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade.
Porém, não é o instrumento que dá as faculdades. Além disso, é preciso
separar aqui as faculdades morais das intelectuais; se um homem tem o
instinto assassino, é seguramente seu próprio Espírito que o possui e o
transmite, e não seus órgãos. Aquele que canaliza o pensamento para a
vida da matéria torna-se semelhante ao irracional e, pior ainda, porque não
pensa mais em se prevenir contra o mal, e é nisso que é culpado, uma vez
que age assim por sua vontade. (Veja a questão 367 e segs. – “Influência do
organismo”.)

847 A anormalidade das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?
– Aquele cuja inteligência é perturbada por uma causa qualquer não é
mais senhor de seu pensamento e assim não tem mais liberdade. Essa
anormalidade é, muitas vezes, uma punição para o Espírito que, numa
outra encarnação, pode ter sido fútil e orgulhoso e ter feito mau uso de
suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um deficiente mental,
como o escravizador no corpo de um escravo e o mau rico no de um
mendigo. Porém, o Espírito sofreu esse constrangimento com perfeita consciência.
Está aí a ação da matéria. (Veja a questão 371 e seguintes)

848 Os desatinos das faculdades intelectuais causadas pela embriaguez
é desculpa para atos condenáveis?
– Não, porque o bêbado voluntariamente se privou de sua razão para
satisfazer paixões brutais; em vez de uma falta, comete duas.

849 No homem primitivo, a faculdade dominante é o instinto ou o
livre-arbítrio?
– É o instinto, o que não o impede de agir com total liberdade em
certas circunstâncias; como a criança, ele aplica essa liberdade às suas
necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Porém, como vós,
sois mais esclarecidos do que um selvagem e também mais responsáveis
pelo que fazeis.

850 A posição social não é, algumas vezes, um obstáculo à total
liberdade dos atos?
– O mundo tem, sem dúvida, suas exigências. Deus é justo e tudo
leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade do pouco esforço que
fazeis para superar os obstáculos.

FATALIDADE
851 Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o
sentido que se dá a essa palavra, ou seja, todos os acontecimentos
são predeterminados? Nesse caso, como fica o livre-arbítrio?
– A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar
e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de
destino, que é a própria conseqüência da posição que ele próprio escolheu
e em que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto
às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livrearbítrio
quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir.
Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode
influir de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, ao lhe mostrar de
forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a
vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.

852 Há pessoas que parecem ser perseguidas por uma fatalidade,
independentemente de seu modo de agir; a infelicidade não é um destino?
– São, talvez, provas que devem suportar e que escolheram. Mas
definitivamente não deveis acusar o destino pelo que, freqüentemente, é
apenas a conseqüência de vossas próprias faltas. Nos males que vos
afligem, esforçais-vos para que vossa consciência esteja pura, e já vos
sentireis bastante consolados.

853 a Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não
morreremos se a hora não é chegada?
– Não, não morrereis, e sobre isso há milhares de exemplos; mas
quando a hora chegar, nada poderá impedir. Deus sabe por antecipação
qual o gênero de morte que terás na Terra e, muitas vezes, vosso Espírito
também sabe, porque isso foi revelado quando fez a escolha desta ou
daquela existência.

854 Por causa da inevitável hora da morte, as precauções que se
tomam para evitá-la são inúteis?
– Não. As precauções que tomais são sugeridas para evitar a morte
que vos ameaça, são meios para que ela não ocorra.

855 Qual é o objetivo da Providência ao nos fazer correr dos
perigos que não têm conseqüências?
– Quando vossa vida é colocada em perigo, é uma advertência que
vós mesmo desejastes, a fim de vos desviardes do mal e vos tornardes
melhor. Quando escapais desse perigo, ainda sob a influência do risco
que passastes, refletis seriamente, conforme a ação mais ou menos forte
dos bons Espíritos sobre vós para vos melhorardes. O mau Espírito, voltando
a tentação (digo mau subentendendo o mal que ainda existe nele),
pensa que escapará do mesmo modo a outros perigos e novamente deixa
se dominar pelas paixões. Pelos perigos que correis, Deus vos lembra de
vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinardes a causa
e a natureza do perigo, vereis que, muitas vezes, as conseqüências
são a punição de uma falta cometida ou de um dever não cumprido. Deus
vos adverte assim para vos recolherdes em vós mesmos e vos corrigirdes.
(Veja as questões 526 e 532.)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n56

826 Em que condição o homem poderia desfrutar de liberdade
absoluta?
– Na de eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, há
direitos a respeitar e nenhum deles tem mais liberdade absoluta.

827 A obrigação de respeitar os direitos dos outros tira do homem
o direito de ser senhor de si?
– De jeito nenhum, porque esse é um direito que a natureza lhe concede.

828 Como conciliar as opiniões liberais de certos homens com a
tirania que, muitas vezes, eles mesmos praticam no lar e com os seus
subordinados?
– Eles têm da lei natural só a compreensão, porém contrabalançada
pelo orgulho e egoísmo. Quando esses princípios não são uma comédia
calculadamente representada, o homem tem a perfeita noção de como
deveria agir, mas não o faz.

828 a Como serão considerados na vida espiritual os que procederam
assim neste mundo?
– Quanto mais inteligência tenha um homem para compreender um
princípio, menos é desculpável por não aplicá-lo a si mesmo. Eu vos digo,
em verdade, que o homem simples, mas sincero, está mais avançado no
caminho de Deus do que aquele que quer parecer o que não é.

ESCRAVIDÃO
829 Há homens que são, por natureza, destinados a ser propriedades
de outros homens?
– Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de
Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso,
como desaparecerão pouco a pouco todos os abusos.

830 Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, os
que dela se aproveitam são condenáveis, por agirem seguindo um
procedimento que parece natural?
– O mal é sempre o mal e todos os sofismas não farão com que uma
má ação se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos meios
de que se dispõe para compreendê-la. Aquele que tira proveito da lei da
escravidão é sempre culpado da violação da lei natural; mas, nisso, como
em todas as coisas, a culpa é relativa. A escravidão, tendo se firmado nos
costumes de alguns povos, tornou possível ao homem aproveitar-se dela
de boa-fé, como de uma coisa que parecia natural; mas a partir do momento
que sua razão se mostrou mais desenvolvida e, acima de tudo,
esclarecida pelas luzes do Cristianismo, demostrando que o escravo é
um ser igual diante de Deus, não há mais desculpa que justifique a escravidão.

831 A desigualdade natural das aptidões não coloca algumas
raças humanas sob a dependência de outras mais inteligentes?
– Sim, mas para erguê-las e não para embrutecê-las ainda mais pela
escravidão. Os homens têm considerado durante muito tempo algumas
raças humanas como animais de braços e mãos e se julgaram no direito
de vendê-los como animais de carga. Eles acreditam possuir um sangue
mais puro, insensatos que vêem apenas a matéria! Não é o sangue que é
mais ou menos puro, mas o Espírito. (Veja as questões 361 e 803.)

832 Há homens que tratam seus escravos com humanidade, que
não lhes deixam faltar nada e pensam que a liberdade até os exporia
a piores privações; o que dizeis deles?
– Digo que esses cuidam melhor de seus interesses. Têm também
muito cuidado com seus bois e cavalos, para tirar mais proveito deles no
mercado. Não são tão culpados quanto os que os maltratam, mas dispõem
deles como de uma mercadoria ao impedir o direito de serem livres.

LIBERDADE DE PENSAR
833 Há no homem alguma coisa livre de qualquer constrangimento
e da qual desfruta de uma liberdade absoluta?
– É pelo pensamento que o homem desfruta de uma liberdade sem
limites, porque o pensamento desconhece obstáculos. Pode-se deter seu
vôo, mas não aniquilá-lo.

834 O homem é responsável por seu pensamento?
– É responsável diante de Deus; somente Deus, podendo conhecê-
lo, o condena ou o absolve segundo Sua justiça.

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
835 A liberdade de consciência é uma conseqüência da de pensar?
– A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem,
como todos os outros pensamentos.

836 O homem tem direito de colocar obstáculos à liberdade de
consciência?
– Não, nem à liberdade de pensar. Pertence apenas a Deus o direito
de julgar a consciência. Se os homens regulam por suas leis as relações
de homem para homem, Deus, pelas leis da natureza, regula as relações
do homem com Deus.

837 Qual o resultado dos obstáculos postos à liberdade de
consciência?
– Constranger os homens a agir de modo diferente do que pensam,
torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é uma das características
da verdadeira civilização e do progresso.

838 Toda crença é respeitável mesmo que seja notoriamente falsa?
– Toda crença é respeitável quando é sincera e conduz à prática do
bem. As crenças condenáveis são as que conduzem ao mal.

839 É repreensível escandalizar na sua crença aquele que não
pensa como nós?
– É falta de caridade e ofende a liberdade de pensamento.
840 Será atentar contra a liberdade de consciência impor restrições
às crenças que provocam problemas à sociedade?
– Podem-se reprimir os atos, mas a crença íntima é inacessível.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n55

811 A igualdade absoluta das riquezas é possível e alguma vez
já existiu?
– Não, ela não é possível. A diversidade das faculdades e do caráter
entre os homens se opõe a essa igualdade.

811 a Entretanto, há homens que acreditam que aí está o remédio
para os males da sociedade; que dizeis disso?
– São posições sistemáticas ou ambições ciumentas; eles não compreendem
que a igualdade com que sonham seria logo rompida pela força
das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa praga social, e não procureis
fantasias.

812 Se a igualdade das riquezas não é possível, ocorre o mesmo
com o bem-estar?
– Não, porque o bem-estar é relativo e cada um poderia dele desfrutar,
se o entendesse bem, já que o verdadeiro bem-estar é empregar o
tempo ao seu gosto e não em trabalhos para os quais não se sente nenhum
prazer; e como cada um tem aptidões diferentes, não haveria nenhum
trabalho útil por fazer. O equilíbrio existe em tudo, é o homem que quer
alterá-lo.

812 a Os homens poderão se entender?
– Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça.

813 Há pessoas que passam privação e miséria por sua culpa; a
sociedade pode ser responsável por isso?
– Sim, já o dissemos: ela é muitas vezes a principal causa dessas
situações; aliás, não é de sua responsabilidade cuidar da educação moral
dos seus membros? É, muitas vezes, a má-educação que os levou a falsear
o julgamento em vez de sufocar neles as tendências nocivas. (Veja a
questão 685.)

PROVAS DE RIQUEZA E DE MISÉRIA
814 Por que Deus deu a uns riquezas e poder e a outros a miséria?
– Para experimentar cada um de maneiras diferentes. Aliás, vós já o
sabeis, essas provas foram os próprios Espíritos que escolheram e, muitas
vezes, nelas fracassam.

815 Qual das duas provas é a mais terrível para o homem, a
miséria ou a riqueza?
– Tanto uma como outra; a miséria provoca a lamentação contra a
Providência; a riqueza estimula todos os excessos.

816 Se o rico tem mais tentações, não tem também mais meios
de fazer o bem?
– É justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e
insaciável. Suas necessidades aumentam com a riqueza e ele acredita
nunca ter o suficiente.

IGUALDADE DOS DIREITOS DO
HOMEM E DA MULHER
817 O homem e a mulher são iguais diante de Deus e têm os
mesmos direitos?
– Sim; Deus deu a ambos a compreensão do bem e do mal e a
capacidade de progredir.

818 De onde vem a inferioridade moral da mulher em alguns
países?
– Do domínio injusto e cruel que o homem impôs sobre ela. É um
resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza.
Para os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o
direito.

819 Com que objetivo a mulher é mais fraca fisicamente do que o
homem?
– Para assinalar suas funções diferenciadas e particulares. Ao homem
cabem os trabalhos rudes, por ser mais forte; à mulher, os trabalhos mais
leves, e ambos devem se ajudar mutuamente nas provas da vida.

820 A fraqueza física da mulher não a coloca naturalmente sob a
dependência do homem?
– Deus deu a uns a força para proteger o fraco, e não para que lhes
imponham seu domínio.

821 As funções às quais a mulher é destinada pela natureza têm
importância tão grande quanto as do homem?
– Sim, e até maiores; é ela quem dá ao homem as primeiras noções
da vida.

822 Ambos, sendo iguais diante da lei de Deus, devem ser também
diante da lei dos homens?
– É o primeiro princípio de justiça: não façais aos outros o que não
quereis que vos façam.

822 a Assim, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve
consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher?
– De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada um esteja no
seu devido lugar; que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior,
cada um de acordo com sua aptidão. A lei humana, para ser justa, deve
consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio
concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher
segue o progresso da civilização, sua subjugação marcha com a barbárie.
Os sexos, aliás, existem apenas no corpo físico; uma vez que os Espíritos
podem encarnar em um ou outro, não há diferença entre eles nesse aspecto
e, conseqüentemente, devem desfrutar dos mesmos direitos.

IGUALDADE DIANTE DO TÚMULO
823 De onde vem o desejo do homem de perpetuar sua memória
com monumentos fúnebres?
– Último ato de orgulho.

823 a Mas a suntuosidade dos monumentos fúnebres, muitas
vezes, não é feita pelos parentes que desejam honrar a memória do
falecido e não pelo próprio falecido?
– Orgulho dos parentes que desejam glorificar a si mesmos. Nem
sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações: é por
amor-próprio, pelo mundo e para ostentar riqueza. Acreditais que a lembrança
de um ser querido seja menos durável no coração do pobre, porque
só pode colocar uma flor no túmulo do seu parente? Acreditais que o
mármore salva do esquecimento aquele que foi inútil na Terra?

824 Reprovais de modo absoluto a pompa dos funerais?
– Não; quando honram a memória de um homem de bem, é justa e
um bom exemplo.

825 Há posições no mundo em que o homem pode se vangloriar
de desfrutar de liberdade absoluta?
– Não, porque todos necessitam uns dos outros, tanto os pequenos
quanto os grandes.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n54

796 A severidade das leis penais não é uma necessidade no
estado atual da sociedade?
– Uma sociedade depravada certamente tem necessidade de leis mais
severas. Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de
feito em vez de secar a fonte do mal. Só a educação pode reformar os
homens, que então não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.

797 Como o homem poderia ser levado a reformar suas leis?
– Isso ocorre naturalmente pela força das coisas e a influência dos
homens de bem que o conduzem no caminho do progresso. Já se reformaram
muitas e se reformarão outras. Esperai!
INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO SOBRE O PROGRESSO

798 O Espiritismo será para todos ou permanecerá como privilégio
de algumas pessoas?
– Certamente, ele se tornará uma convicção íntima de todos e marcará
uma nova era na história da humanidade, porque está na ordem natural
das coisas, na natureza, e é chegado o tempo de ocupar o seu lugar entre
os conhecimentos humanos.
Entretanto, haverá grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses
do que contra a convicção, porque não podemos desconhecer que
há pessoas interessadas em combatê-lo, uns por amor-próprio, outros por
interesses materiais. Mas os opositores, ao se encontrarem cada vez mais
isolados, serão forçados a pensar como todo o mundo, sob pena de se
tornarem ridículos.

799 De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
– Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, e
fazendo os homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse.
A vida futura, não estando mais encoberta pela dúvida, fará o homem
O LIVRO DOS ESPÍRITOS . PARTE TERCEIRA
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compreender melhor que pode, desde agora, no presente, preparar seu
futuro. Ao destruir os preconceitos de seitas, de castas e de raças, ensina
aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos.

800 Não é de temer que o Espiritismo não possa vencer a indiferença
dos homens e seu apego às coisas materiais?
– Seria conhecer pouco os homens, se pensássemos que uma causa
qualquer pudesse transformá-los como por encantamento. As idéias
se modificam pouco a pouco, de acordo com os indivíduos, e são necessárias
gerações para apagar completamente os traços dos velhos hábitos.
A transformação só pode, portanto, se operar a longo prazo, gradualmente,
passo a passo. A cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo
veio rasgá-lo de uma vez e, conseguindo corrigir no homem um único
defeito que seja, já o terá habilitado a dar um grande passo que representa,
para ele, um grande bem, porque facilitará os outros que terá que dar.

801 Por que os Espíritos não ensinaram em todos os tempos o
que ensinam hoje?
– Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não se pode
dar ao recém-nascido um alimento que não poderá digerir. Cada coisa
tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam
ou adulteraram, mas que podem compreender agora. Com o
seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber
a semente que vai frutificar agora.

802 Uma vez que o Espiritismo deve marcar um progresso na
humanidade, por que os Espíritos não aceleram esse progresso com
manifestações tão generalizadas e evidentes que convençam até os
mais descrentes?
– Quereis ver milagres; mas Deus espalha milagres a mãos cheias
diante dos vossos olhos e, ainda assim, há homens que o renegam. Por
acaso o próprio Cristo convenceu seus contemporâneos com os prodígios
que realizou? Não vedes hoje homens negarem os fatos mais evidentes
que se passam sob seus olhos? Não há os que dizem que não acreditariam
mesmo se vissem? Não; não é por prodígios que Deus quer
encaminhar os homens. Em sua bondade, quer deixar o mérito de se convencerem
pela razão.

803 Todos os homens são iguais diante de Deus?
– Sim, todos tendem ao mesmo objetivo e Deus fez suas leis para
todos. Muitas vezes, dizeis: “O Sol nasce para todos” e dizeis aí uma verdade
maior e mais geral do que pensais.

804 Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os
homens?
– Deus criou todos os Espíritos iguais; mas, como cada um viveu mais
ou menos, conseqüentemente, adquiriu maior ou menor experiência; a
diferença está na experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio. Daí uns
se aperfeiçoarem mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões
diversas. A variedade dessas aptidões é necessária, para que cada um
possa concorrer com os desígnios da Providência no limite do desenvolvimento
de suas forças físicas e intelectuais. O que um não pode ou não
sabe fazer o outro faz; é assim que cada um tem o seu papel útil. Depois,
todos os mundos sendo solidários uns com os outros, é natural que habitantes
de mundos superiores, na sua maioria criados antes do vosso,
venham aqui habitar para dar o exemplo. (Veja a questão 361.)

805 Ao passar de um mundo superior a outro inferior, o Espírito
conserva a integridade das faculdades adquiridas?
– Sim, já dissemos, o Espírito que progrediu não regride; pode escolher,
no estado de Espírito, um corpo mais grosseiro ou uma posição mais
precária do que a anterior, mas tudo isso deve sempre lhe servir de ensinamento
e ajudá-lo a progredir. (Veja a questão 180.)

DESIGUALDADES SOCIAIS
806 A desigualdade das condições sociais é uma lei da natureza?
– Não. É obra do homem e não de Deus.

806 a Essa desigualdade desaparecerá um dia?
– Apenas as Leis de Deus são eternas. Vós não vedes essa desigualdade
se apagar pouco a pouco todos os dias? Desaparecerá juntamente
com o predomínio do orgulho e do egoísmo, apenas restará a diferença do
merecimento. Chegará o dia em que os membros da grande família dos
filhos de Deus não se olharão como de sangue mais ou menos puro, porque
apenas o Espírito é mais ou menos puro, e isso não depende da
posição social.

807 O que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição
social para oprimir o fraco em seu proveito?
– Esses se lamentarão: infelizes deles! Serão por sua vez oprimidos:
renascerão numa existência em que suportarão tudo o que fizeram os
outros suportar. (Veja as questões 273 e 684.)

DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS
808 A desigualdade das riquezas não tem origem na desigualdade
das aptidões, que dá a uns maiores meios de aquisição do que a
outros?
– Sim e não; e da astúcia e do roubo, que me dizeis vós?

808 a Mas a riqueza herdada, portanto, não é fruto das más
paixões?
– Que sabeis disso? Voltai à origem dela e vereis que nem sempre é
pura. Sabeis lá se no princípio não foi fruto de roubo ou de injustiça? Porém,
além da origem, que pode não ser boa, acreditais que a cobiça da
riqueza, mesmo da bem adquirida, os desejos secretos que se concebem
para possuí-la o mais rapidamente possível sejam sentimentos louváveis?
É isso que Deus julga e vos asseguro que esse julgamento é mais severo
do que o dos homens.

809 Se uma riqueza foi mal adquirida, os que a herdam mais
tarde são responsáveis por isso?
– Sem dúvida, eles não são responsáveis pelo mal que outros fizeram,
principalmente porque ignoram o fato; mas convém saber que a riqueza,
muitas vezes, chega às mãos de um homem apenas para lhe favorecer a
ocasião de reparar uma injustiça. Felizes os que compreenderem isso! Ao
fazer justiça em nome daquele que cometeu a injustiça, a reparação será
levada em conta para ambos, porque, muitas vezes, quem cometeu a
injustiça é que inspira essa ação aos herdeiros.

810 Sem se afastar da legalidade, qualquer um pode dispor de
seus bens de uma maneira mais ou menos justa. É responsável, depois
de sua morte, pelas disposições que haja feito?
– Toda ação tem seus frutos; os frutos das boas ações são doces; os
outros são sempre amargos. Entendei bem isso, sempre.