quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n27

391 A antipatia entre duas pessoas se manifesta primeiro naquela
cujo Espírito é pior ou melhor?
– Tanto em um quanto no outro, mas as causas e os efeitos são diferentes.
Um Espírito mau tem antipatia contra qualquer pessoa que possa
julgá-lo e desmascará-lo. Ao ver uma pessoa pela primeira vez, sabe que vai
ser desaprovado; seu afastamento dessa pessoa se transforma em ódio,
em ciúme, e lhe inspira o desejo de fazer o mal. O Espírito bom sente repulsa
pelo mau porque sabe que não será compreendido e não partilharão dos
mesmos sentimentos, mas, seguro de sua superioridade, não tem contra o
outro ódio ou ciúme, contenta-se em evitá-lo e lastimá-lo.

ESQUECIMENTO DO PASSADO
392 Por que o Espírito encarnado perde a lembrança de seu passado?
– O homem não pode nem deve saber tudo. Deus em Sua sabedoria
quer assim. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria
deslumbrado, como aquele que passa sem transição do escuro para a
luz.O esquecimento do passado o faz sentir-se mais senhor de si.

393 Como o homem pode ser responsável por atos e reparar
faltas das quais não tem consciência? Como pode aproveitar a experiência
adquirida em existências caídas no esquecimento? Poderia se
conceber que as adversidades da vida fossem para ele uma lição ao
se lembrar do que as originou; mas, a partir do momento que não se
lembra, cada existência é para ele como a primeira e está, assim,
sempre recomeçando. Como conciliar isso com a justiça de Deus?
– A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor
distinguir o bem do mal. Onde estaria o mérito, ao se lembrar de todo
o passado? Quando o Espírito volta à sua vida primitiva (a vida espírita),
toda sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas que cometeu
e que são a causa de seu sofrimento e o que poderia impedi-lo de cometê-
las. Compreende que a posição que lhe foi dada foi justa e procura
então uma nova existência em que poderia reparar aquela que acabou.
Escolhe provas parecidas com as que passou ou as lutas que acredita
serem úteis para o seu adiantamento, e pede a Espíritos Superiores para
ajudá-lo nessa nova tarefa que empreende, porque sabe que o Espírito
que lhe será dado por guia nessa nova existência procurará fazê-lo reparar
suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que cometeu. Essa
mesma intuição é o pensamento, o desejo maldoso que freqüentemente
vos aparece e ao qual resistis instintivamente, atribuindo a maior parte das
vezes essa resistência aos princípios recebidos de vossos pais, enquanto
é a voz da consciência que vos fala. Essa voz é a lembrança do passado,
que vos adverte para não recair nas faltas que já cometestes. O Espírito,
ao entrar nessa nova existência, se suporta essas provas com coragem e
resiste, eleva-se e sobe na hierarquia dos Espíritos, quando volta para o
meio deles.

394 Nos mundos mais avançados que o nosso, onde os habitantes
não são oprimidos por todas as nossas necessidades físicas e
enfermidades, os homens compreendem que são mais felizes do que
nós? A felicidade, em geral, é relativa. Nós a sentimos em comparação
a um estado menos feliz. Como, definitivamente, alguns desses
mundos, ainda que melhores que o nosso, não estão no estado de
perfeição, os homens que os habitam devem ter seus motivos de aborrecimentos.
Entre nós, o rico, que não tem angústias de necessidades
materiais como o pobre, tem, ainda assim, outras que tornam sua
vida amarga. Portanto, pergunto: em sua posição, os habitantes desses
mundos não se crêem tão infelizes quanto nós e não se lamentam
de sua sorte, já que não têm lembrança de uma existência inferior
para servir de comparação?
– Para isso, é preciso dar duas respostas diferentes. Há mundos,
entre esses que citastes, onde os habitantes têm uma lembrança muito
clara e precisa de suas existências passadas; estes, vós o compreendeis,
podem e sabem apreciar a felicidade que Deus lhes permite saborear. Há
outros onde os habitantes, como dissestes, colocados em melhores condições
do que vós, na Terra não têm grandes aborrecimentos nem
infelicidades. Esses não apreciam sua felicidade pelo fato de não se lembrarem
de um estado ainda mais infeliz. Entretanto, se não a apreciam
como homens, apreciam como Espíritos.

395 Podemos ter algumas revelações de nossas existências anteriores?
– Nem sempre. Muitos sabem, entretanto, o que foram e o que fizeram;
se fosse permitido dizer abertamente, fariam singulares revelações
sobre o passado.

396 Certas pessoas acreditam ter uma vaga lembrança de um
passado desconhecido que se apresenta a elas como a imagem passageira
de um sonho, que se procura, em vão, reter. Essa idéia é
apenas ilusão?
– Algumas vezes é real; mas muitas vezes é também ilusão contra a
qual é preciso ficar atento, porque pode ser o efeito de uma imaginação
superexcitada.

397 Nas existências de natureza mais elevadas que a nossa, a
lembrança das existências anteriores é mais precisa?
– Sim; à medida que o corpo se torna menos material, as lembranças
se revelam com mais exatidão. A lembrança do passado é mais
clara para os que habitam mundos de uma ordem superior.

398 Pelo estudo de suas tendências instintivas, que são uma
recordação do passado, o homem pode conhecer os erros que cometeu?
– Sem dúvida, até certo ponto; mas é preciso se dar conta da
melhora que pôde se operar no Espírito e as resoluções que ele tomou
na vida espiritual. A existência atual pode ser bem melhor que a precedente.

398 a Ela pode ser pior? Ou seja, o homem pode cometer numa
existência faltas que não cometeu em existências precedentes?
– Isso depende de seu adiantamento; se não resistir às provas, pode
ser levado a novas faltas, que são conseqüência da posição que escolheu.
Mas, em geral, essas faltas mostram antes um estado estacionário
do que retrógrado, porque o Espírito pode avançar ou estacionar, mas
nunca retroceder.

399 Os acontecimentos da vida corporal são, ao mesmo tempo,
uma expiação pelas faltas passadas e provas que visam ao futuro.
Pode-se dizer que da natureza dessas situações se possa deduzir o
gênero da existência anterior?
– Muito freqüentemente, uma vez que cada um é punido pelos erros
que cometeu; entretanto, não deve ser isso uma regra absoluta. As tendências
instintivas são a melhor indicação, visto que as provas pelas quais
o Espírito passa se referem tanto ao futuro quanto ao passado.

400 O Espírito encarnado permanece espontaneamente no corpo?
– É como perguntar se o prisioneiro se alegra com a prisão. O Espírito
encarnado aspira sem cessar à libertação, e quanto mais o corpo for grosseiro,
mais deseja desembaraçar-se dele.

401 Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
– Não, o Espírito nunca fica inativo. Durante o sono, os laços que o
prendem ao corpo se relaxam e, como o corpo não precisa do Espírito, ele
percorre o espaço e entra em relação mais direta com outros Espíritos.

402 Como avaliar a liberdade do Espírito durante o sono?
– Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, o Espírito tem mais condições
de exercer seus dons, faculdades do que em vigília; tem a lembrança
do passado e algumas vezes a previsão do futuro; adquire mais poder e
pode entrar em comunicação com outros Espíritos, neste mundo ou em
outro. Quando dizeis: tive um sonho esquisito, horrível, mas que não tem
nada de real, enganais-vos; é, muitas vezes, a lembrança dos lugares e
das coisas que vistes ou que vereis numa outra existência, ou num outro
momento. O corpo, estando entorpecido, faz com que o Espírito se empenhe
em superar suas amarras e investigar o passado ou o futuro.
Pobres homens, que pouco conheceis dos mais simples fenômenos
da vida! Julgai-vos sábios e, entretanto, vos embaraçais com as coisas
mais simples; ficais perturbados com a pergunta de todas as crianças: o
que fazemos quando dormimos? Que são os sonhos?
O sono liberta, em parte, a alma do corpo. Quando dormimos, estamos
momentaneamente no estado em que o homem se encontra após a
morte. Os Espíritos que logo se desligam da matéria, quando desencarnam,
têm um sono consciente. Durante o sono, reúnem-se à sociedade
de outros seres superiores e com eles viajam, conversam e se instruem;
trabalham até mesmo em obras que depois encontram prontas, quando,
pelo desencarne, retornam ao mundo espiritual. Isso deve vos ensinar uma
vez mais a não temer a morte, uma vez que morreis todos os dias, segun-
do a palavra de um santo. Isso para os Espíritos elevados; mas para o
grande número de homens que, ao desencarnar, devem permanecer longas
horas nessa perturbação, nessa incerteza da qual já vos falaram, esses
vão, enquanto dormem, a mundos inferiores à Terra, onde antigas
afeições os evocam, ou vão procurar prazeres talvez ainda mais baixos
que os que têm aí; vão se envolver com doutrinas ainda mais desprezíveis,
ordinárias e nocivas que as que professam em vosso meio. O que gera a
simpatia na Terra não é outra coisa senão o fato de os homens, ao despertar,
se sentirem ligados pelo coração àqueles com quem acabaram de
passar de oito a nove horas de prazer. Isso também explica as antipatias
invencíveis que sentimos intimamente, porque sabemos que essas pessoas
com quem antipatizamos têm uma consciência diferente da nossa e
as conhecemos sem nunca tê-las visto com os olhos. Explica ainda a
nossa indiferença, pois não desejamos fazer novos amigos quando sabemos
que há outras pessoas que nos amam e nos querem bem. Em uma
palavra, o sono influi mais na vossa vida do que pensais. Durante o sono,
os Espíritos encarnados estão sempre se relacionando com o mundo dos
Espíritos e é isso que faz com os Espíritos Superiores consintam, sem
muita repulsa, em encarnar entre vós. Deus quis que em contato com o
vício eles pudessem se renovar na fonte do bem, para não mais falharem,
eles, que vêm instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu para
entrarem em contato com seus amigos do céu; é o recreio após o trabalho,
enquanto esperam a grande libertação, a libertação final que deve
devolvê-los a seu verdadeiro meio.
O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono; mas
notai que nem sempre sonhais, porque nem sempre vos lembrais do que
vistes, ou de tudo o que vistes. É que vossa alma não está em pleno
desdobramento. Muitas vezes, apenas fica a lembrança da perturbação
que acompanha vossa partida ou vossa volta, à qual se acrescenta a do
que fizestes ou do que vos preocupa no estado de vigília; sem isso, como
explicaríeis esses sonhos absurdos que têm tanto os mais sábios quanto
os mais simples? Os maus Espíritos se servem também dos sonhos para
atormentar as almas fracas e medrosas.
Além disso, vereis dentro em pouco se desenvolver uma outra espécie
de sonhos1; ela é tão antiga quanto a que já conheceis, mas a ignorais. O
sonho de Joana D’arc2, o sonho de Jacó3, o sonho dos profetas judeus e de
alguns adivinhos indianos; esse sonho é a lembrança da alma quase inteiramente
desligada do corpo, a lembrança dessa segunda vida de que falamos.
1 - Outra espécie de sonhos: ele se referia à mediunidade (N. E.).
2 - Joana D’Arc: heroína francesa. Comandou os exércitos da França à vitória sobre os ingleses,
orientada por seus sonhos e suas visões (N. E.).
3 - Jacó: patriarca hebreu do Antigo Testamento que viu em sonho uma escada que levava da
Terra ao céu (N. E.).
Procurai distinguir bem essas duas espécies de sonho dentre os que
vos lembrais; sem isso, caireis em contradições e erros que serão funestos
à vossa fé.

403 Por que nem sempre nos lembramos dos sonhos?
– O que chamais de sono é apenas o repouso do corpo, mas o Espírito
está sempre ativo e durante o sono recobra um pouco de sua liberdade
e se corresponde com os que lhe são caros, neste mundo ou em outros.
Sendo o corpo uma matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as
impressões que o Espírito recebeu, visto que o Espírito não as percebeu
pelos órgãos do corpo.

404 O que pensar da significação atribuída aos sonhos?
– Os sonhos não têm o significado que certos adivinhos lhes atribuem.
É um absurdo acreditar que sonhar com isso significa aquilo. São verdadeiros
no sentido de que apresentam imagens reais ao Espírito, mas muitas
vezes não têm relação com o que se passa na vida corporal; são também,
como dissemos, uma lembrança. Algumas vezes, podem ser um pressentimento
do futuro, se Deus o permite, ou a visão do que se passa
nesse momento em um outro lugar para onde a alma se transporta. Não
tendes numerosos exemplos de pessoas que aparecem em sonho e vêm
advertir seus parentes ou amigos do que lhes está acontecendo? O que
são essas aparições, senão a alma ou o Espírito dessas pessoas que vêm
se comunicar com o vosso? Quando estais certos de que o que vistes realmente
aconteceu, não é uma prova de que a imaginação não tomou parte
em nada, principalmente se as ocorrências do sonho não estavam de
modo algum em vosso pensamento enquanto acordados?

405 Vêem-se freqüentemente em sonho coisas que parecem pressentimentos
e que não se realizam; de onde vem isso?
–Elas podem se realizar apenas para o Espírito, ou seja, o Espírito vê
a coisa que deseja porque vai procurá-la. Não deveis esquecer que, durante
o sono, a alma está constantemente sob influência da matéria, às
vezes mais, às vezes menos, e, conseqüentemente, nunca se liberta completamente
das idéias terrenas. Disso resulta que as preocupações enquanto
acordados podem dar àquilo que se vê a aparência do que se
deseja ou do que se teme. A isso verdadeiramente é o que se pode chamar
de efeito da imaginação. Quando se está fortemente preocupado com
uma idéia, liga-se a essa idéia tudo o que se vê.