16 Aqueles que acreditam nessa doutrina pretendem nela encontrar
a demonstração de alguns atributos de Deus. Sendo os mundos
infinitos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio ou
o nada em nenhuma parte, Deus está, portanto, em toda parte; Deus,
estando por toda parte, uma vez que tudo é parte integrante de Deus,
dá a todos os fenômenos da natureza uma razão de ser inteligente. O
que se pode opor a esse raciocínio?
– A razão. Refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer o
absurdo disso.
17 É permitido ao homem conhecer o princípio das coisas?
– Não, Deus não permite que tudo seja revelado ao homem aqui na Terra.
18 O homem penetrará um dia no mistério das coisas que lhe são
ocultas?
– O véu se levanta para ele à medida que se depura; mas, para compreender
algumas coisas, precisa de faculdades, dons, que ainda não possui.
19 O homem não pode, pelas investigações das ciências, penetrar
em alguns dos segredos da natureza?
– A ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas,
mas não pode ultrapassar os limites fixados por Deus.
20 Fora das investigações da ciência, é permitido ao homem receber
comunicações de uma ordem mais elevada sobre o que escapa
ao alcance dos seus sentidos?
– Sim, se Deus julgar útil, pode revelar o que a ciência não consegue
apreender.
21 A matéria existe desde o princípio, como Deus, ou foi criada
por Ele em determinado momento?
– Somente Deus o sabe. Entretanto, há uma coisa que a vossa razão
deve deduzir: é que Deus, modelo de amor e caridade, nunca esteve
inativo. Por mais remoto que possa vos parecer o início de sua ação, acaso
o podereis imaginar por um segundo sequer na ociosidade?
22 Define-se, geralmente, a matéria como sendo o que tem extensão,
o que pode causar impressão aos nossos sentidos, o que é
impenetrável. Essas definições são exatas?
– Do vosso ponto de vista são exatas, visto que somente falais do que
conheceis. Mas a matéria existe em estados que para vós são desconhecidos.
Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que não cause nenhuma
impressão aos vossos sentidos; entretanto, é sempre matéria, embora
para vós não o seja.
22 a Que definição podeis dar da matéria?
– A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que ele
se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.
23 O que é o Espírito?
– Espírito é o princípio inteligente do universo.
23 a Qual é a natureza íntima do Espírito?
– Não é fácil explicar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele
não é nada, visto que o Espírito não é algo palpável, mas para nós é alguma
coisa. Sabei bem: o nada não é coisa nenhuma, o nada não existe.
24 Espírito é sinônimo de inteligência?
– A inteligência é um atributo essencial do Espírito, mas ambos se confundem
num princípio comum, de modo que, para vós, são a mesma coisa.
25 O Espírito é independente da matéria ou é apenas uma propriedade
dela, como as cores são propriedades da luz e o som uma propriedade
do ar?
– Ambos são distintos, mas é preciso a união do Espírito e da matéria
para que a inteligência se manifeste na matéria.
25 a Essa união é igualmente necessária para a manifestação do
Espírito? (Entendemos, aqui, por espírito o princípio inteligente, e não
as individualidades designadas sob esse nome).
– Ela é necessária para vós, porque não sois organizados para perceber
o Espírito sem a matéria; vossos sentidos não são feitos para isso.
26 Pode-se conceber o Espírito sem a matéria e a matéria sem o
Espírito?
– Pode-se, sem dúvida, pelo pensamento.
27 Haveria, assim, dois elementos gerais do universo: a matéria
e o Espírito?
– Sim, e acima de tudo Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Deus,
Espírito e matéria são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.
Mas ao elemento material é preciso acrescentar o fluido universal, que faz o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, muito
grosseira para que o Espírito possa ter uma ação sobre ela. Ainda que sob
certo ponto de vista se possa incluí-lo no elemento material, ele se distingue
por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse matéria, não haveria
razão para que o Espírito não o fosse também. Ele está colocado entre o
Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria; suscetível, por suas
inumeráveis combinações com ela e sob a ação do Espírito, de poder produzir
uma infinita variedade de coisas das quais conheceis apenas uma pequena
parte. Esse fluido universal, primitivo, ou elementar, sendo o agente que o Espírito
utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de
dispersão e nunca adquiriria as propriedades que a força da gravidade lhe dá.
27 a Seria esse fluido o que designamos sob o nome de eletricidade?
– Dissemos que ele é suscetível de inumeráveis combinações; o que
chamais fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal,
que é, propriamente falando, uma matéria mais perfeita, mais sutil e
que se pode considerar como independente.
28 Uma vez que o próprio Espírito é alguma coisa, não seria mais
exato e menos sujeito a confusões designar esses dois elementos
gerais pelas palavras: matéria inerte e matéria inteligente?
– As palavras pouco nos importam; cabe a vós formular vossa linguagem
de maneira a vos entenderdes. Vossas controvérsias surgem quase sempre
do que não compreendeis sobre as palavras que usais, porque vossa linguagem
é incompleta para as coisas que os vossos sentidos não percebem.
29 A ponderabilidade2 é um atributo essencial da matéria?
– Da matéria, assim como a entendeis, sim; mas não da matéria considerada
como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma esse
fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o princípio
de vossa matéria pesada.
30 A matéria é formada de um único ou de vários elementos?
– De um único elemento primitivo. Os corpos que considerais
simples não são verdadeiros elementos, mas transformações da matéria
primitiva.
Serão 1019 perguntas e respostas, 15 por dia. Essa é uma entrevista real, com um espirito iluminado. Muitas vezes falhamos, e a culpa de falharmos é nossa, por deixar passar despercebido ou ignorar as oportunidades e os ensinamentos que Deus nos proporciona.