quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n59

871 Uma vez que Deus sabe tudo, sabe, igualmente, se um homem
deve fracassar ou não numa prova? Nesse caso, qual é a necessidade
dessa prova, que nada acrescentará ao que Deus já sabe a
respeito desse homem?
– É o mesmo que perguntar por que Deus não criou o homem perfeito
e realizado; (Veja a questão 119.) por que o homem passa pela infância
antes de atingir a idade adulta. (Veja a questão 379.) A prova não tem a
finalidade de esclarecer a Deus sobre o mérito dessa pessoa, visto que
sabe perfeitamente para que a prova lhe serve, mas, sim, para a deixar
com toda a responsabilidade de sua ação, uma vez que é livre para fazer
ou não. Tendo o homem a escolha entre o bem e o mal, a prova tem a
finalidade de colocá-lo em luta com a tentação do mal e lhe deixar todo o
mérito da resistência. Embora saiba muito bem, antecipadamente, se triunfará
ou não, Deus não pode, em Sua justiça, puni-lo nem recompensá-lo
por um ato que ainda não foi praticado. (Veja a questão 258.)


873 O sentimento de justiça é natural ou é resultado de idéias
adquiridas?
– É tão natural que vos revoltais com o pensamento de uma injustiça.
O progresso moral desenvolve, sem dúvida, esse sentimento, mas não o
dá: Deus o colocou no coração do homem; por isso encontrareis, muitas
vezes, nos homens simples e primitivos noções mais exatas de justiça do
que naqueles que têm muito conhecimento.

874 Se a justiça é uma lei natural, por que os homens a entendem
de maneiras diferentes, e que um considere justo o que parece
injusto a outro?
– É que à Lei se misturam freqüentemente paixões que alteram esse
sentimento, como acontece com a maior parte dos outros sentimentos
naturais, e fazem o homem ver as coisas sob um falso ponto de vista.

875 Como se pode definir a justiça?
– A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.

875 a O que determina esses direitos?
– São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural.
Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e caráter, essas
leis estabeleceram direitos que variaram com o progresso dos
conhecimentos. Observai que as vossas leis atuais, sem serem perfeitas,
já não consagram os mesmos direitos da Idade Média. No entanto, esses
direitos antiquados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais
naquela época. O direito estabelecido pelos homens nem sempre,
portanto, está de acordo com a justiça. Regula apenas algumas relações
sociais, enquanto, na vida particular, há uma imensidão de atos unicamente
inerentes à consciência de cada um.

876 Fora do direito consagrado pela lei humana, qual é a base da
justiça fundada sobre a lei natural?
– O Cristo disse: “Não façais aos outros o que não quereis que vos
façam”. Deus colocou no coração do homem a regra de toda a verdadeira
justiça pelo desejo que cada um tem de ver respeitados os seus direitos.
Na incerteza do que fazer em relação ao semelhante numa determinada
circunstância, o homem deve perguntar-se como desejaria que se fizesse
com ele na mesma circunstância: Deus não poderia lhe dar um guia mais
seguro do que a própria consciência.

877 A necessidade para o homem de viver em sociedade lhe
impõe obrigações particulares?
– Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes.
Aquele que respeitar esses direitos sempre será justo. Em vosso mundo,
onde tantos homens não praticam a lei da justiça, cada um usa de represálias,
e isso gera perturbação e confusão em vossa sociedade. A vida
social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

878 Podendo o homem se enganar sobre a extensão de seu direito,
quem pode fazê-lo conhecer esse limite?
– O limite do direito será sempre o de dar aos seus semelhantes o
mesmo que quer para si, em circunstâncias iguais e reciprocamente.

878 a Mas se cada um conceder a si mesmo os direitos de seu
semelhante, em que se torna a subordinação em relação aos superiores?
Não causará a anarquia de todos os poderes?
– Os direitos naturais são os mesmos para todos, desde o menor até
o maior; Deus não fez uns mais puros que outros, e todos são iguais diante
d’Ele. Esses direitos são eternos. Porém, os direitos que o homem
estabeleceu desaparecem com suas instituições. Cada um percebe bem
sua força ou fraqueza e saberá sempre ter uma certa consideração com
aquele que a mereça por sua virtude e sabedoria. É importante destacar
isso, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres e
mereçam essa consideração. A subordinação não será comprometida
quando a autoridade for exercida com sabedoria.

879 Qual deve ser o caráter do homem que praticasse a justiça
em toda a sua pureza?
– Do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porque praticaria também
o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.

DIREITO DE PROPRIEDADE. ROUBO
880 Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
– O de viver. Ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu
semelhante nem fazer o que possa comprometer sua existência física.

881 O direito de viver dá ao homem o direito de juntar o necessário
para viver e repousar, quando não puder mais trabalhar?
– Sim, mas deve fazê-lo socialmente, como a abelha, por um trabalho
honesto, e não juntar como um egoísta. Até mesmo certos animais lhe dão
o exemplo do que é previdência.

882 O homem tem o direito de defender o que juntou pelo seu
trabalho?
– A lei de Deus diz: “Não roubarás”; e Jesus: “É preciso dar a César o
que é de César”.

883 O desejo de possuir é natural?
– Sim, mas quando é apenas para si e para satisfação pessoal é
egoísmo.

883 a Será legítimo o desejo de possuir, para não se tornar peso
para ninguém?
– Existem homens insaciáveis que acumulam bens sem proveito para
ninguém, só para satisfazer as paixões. Acreditais que isso seja bem visto
por Deus? Aquele que, ao contrário, junta por seu trabalho para ajudar
seus semelhantes pratica a lei de amor e caridade e seu trabalho é abençoado
por Deus.

884 O que é uma propriedade legítima?
– Só é propriedade legítima a que foi adquirida sem prejudicar ninguém.
(Veja a questão 808.)

885 O direito de propriedade é ilimitado?
– Sem dúvida, tudo o que é adquirido de forma legítima é uma propriedade.
Porém, como dissemos, a legislação dos homens, sendo
imperfeita, consagra freqüentemente direitos que a justiça natural reprova.
É por essa razão que os homens reformam suas leis à medida que o progresso
se realiza e compreendem melhor a justiça. O que parece perfeito
num século é bárbaro no seguinte. (Veja a questão 795.)