706 Por bens da terra somente devemos entender os produtos
do solo?
– O solo é a fonte primária de onde vêm todos os outros recursos,
que são apenas uma transformação dos produtos do solo; por isso, é
preciso entender por bens da terra tudo o que o homem pode desfrutar
neste mundo.
707 Os meios de subsistência, muitas vezes, faltam a alguns,
mesmo em meio à abundância que os cerca; por quê?
– É pelo egoísmo dos homens em geral e também, freqüentemente,
por negligência deles mesmos. Buscai e achareis; essas palavras não querem
dizer que basta olhar a terra para encontrar o que se deseja, mas que
é preciso procurar com ardor e perseverança e não com fraqueza, sem
se deixar desencorajar pelos obstáculos que, muitas vezes, são apenas
meios de colocar à prova a vossa constância, paciência e firmeza. (Veja a
questão 534.)
708 Não há situações em que os meios de subsistência não dependem
de modo algum da vontade do homem, e a privação até daquilo
que mais necessita é uma conseqüência das circunstâncias?
– É uma prova muitas vezes cruel que deve passar e à qual sabia que
seria exposto. Seu mérito está em sua submissão à vontade de Deus, se
sua inteligência não fornece nenhum meio de se livrar das dificuldades. Se
a morte deve atingi-lo, deve se submeter sem reclamar e compreender
que a hora da verdadeira libertação chegou e que o desespero do último
momento pode lhe fazer perder o fruto de sua resignação.
709 Aqueles que, em certas posições críticas, se viram obrigados
a sacrificar seus semelhantes para se alimentarem deles, cometeram
um crime? Nesse caso, o crime pode ser atenuado pela necessidade
de viver que lhes dá o instinto de conservação?
– Já respondi, ao dizer que há mais mérito em sofrer todas as provas
da vida com coragem e abnegação. Nesse caso, há homicídio e crime de
lesa-natureza, faltas que devem ser duplamente punidas.
710 Nos planetas onde o corpo é mais depurado, os seres vivos
têm necessidade de alimentação?
– Sim, mas os alimentos estão de acordo com sua natureza. Esses
alimentos não seriam muito substanciais para vossos estômagos grosseiros,
do mesmo modo que, para eles, a vossa alimentação também não
serviria.
PRAZERES DOS BENS DA TERRA
711 O uso dos bens da terra é um direito para todos os homens?
– Esse direito é a conseqüência da necessidade de viver. Deus não
pode impor um dever sem dar o meio de satisfazê-lo.
712 Por que Deus colocou o atrativo do prazer na posse e uso
dos bens materiais?
– Para estimular o homem ao cumprimento de sua missão e experimentá-
lo por meio da tentação.
712 a Qual é o objetivo dessa tentação?
– Desenvolver sua razão, que deve preservá-lo dos excessos.
713 Os prazeres têm limites traçados pela natureza?
– Sim, têm o limite do necessário; mas, pelos excessos, chegais ao
extremo exagero e à repulsa e vos punis a vós mesmos.
714 O que pensar do homem que procura nos excessos de toda
espécie um refinamento para seus prazeres?
– Pobre infeliz digno de lástima e não de inveja. Está bem próximo da
morte!
714 a Da morte física ou moral?
– De ambas.
NECESSÁRIO E SUPÉRFLUO
715 Como o homem pode conhecer o limite do necessário?
– Aquele que é sensato o conhece pela intuição; muitos o conhecem
pela experiência e à sua própria custa.
716 A natureza não traçou o limite de nossas necessidades em
nossa estrutura orgânica?
– Sim, mas o homem é insaciável. A natureza traçou o limite às suas
necessidades no seu próprio organismo, mas os vícios lhe alteraram a
constituição e criaram necessidades que não são reais.
717 O que pensar dos que monopolizam os bens da terra para
obter o supérfluo em prejuízo dos que precisam do necessário?
– Eles desconhecem a lei de Deus e terão que responder pelas privações
que impuseram aos outros.
PRIVAÇÕES VOLUNTÁRIAS. MORTIFICAÇÕES
718 A lei de conservação obriga o homem a prover as necessidades
do corpo?
– Sim, sem força e saúde o trabalho é impossível.
719 É condenável ao homem procurar o seu bem-estar?
– O bem-estar é um desejo natural. Os abusos são condenáveis porque
contrariam a lei de conservação. O bem-estar é condenável se foi
adquirido à custa dos outros e se comprometeu o equilíbrio moral e físico
do homem.
720 As privações voluntárias, que resultam numa expiação igualmente
voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus?
– Quanto mais fazeis o bem aos outros mais mérito tereis.
720 a Há privações voluntárias que sejam meritórias?
– Sim, a renúncia aos prazeres inúteis, que liberta o homem da matéria
e eleva sua alma. O meritório é resistir à tentação que o conduz aos
excessos ou ao prazer das coisas inúteis; é tirar do que lhe é necessário
para doar àqueles que não têm o suficiente. Se a privação é apenas fingimento,
é uma zombaria.