796 A severidade das leis penais não é uma necessidade no
estado atual da sociedade?
– Uma sociedade depravada certamente tem necessidade de leis mais
severas. Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de
feito em vez de secar a fonte do mal. Só a educação pode reformar os
homens, que então não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.
797 Como o homem poderia ser levado a reformar suas leis?
– Isso ocorre naturalmente pela força das coisas e a influência dos
homens de bem que o conduzem no caminho do progresso. Já se reformaram
muitas e se reformarão outras. Esperai!
INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO SOBRE O PROGRESSO
798 O Espiritismo será para todos ou permanecerá como privilégio
de algumas pessoas?
– Certamente, ele se tornará uma convicção íntima de todos e marcará
uma nova era na história da humanidade, porque está na ordem natural
das coisas, na natureza, e é chegado o tempo de ocupar o seu lugar entre
os conhecimentos humanos.
Entretanto, haverá grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses
do que contra a convicção, porque não podemos desconhecer que
há pessoas interessadas em combatê-lo, uns por amor-próprio, outros por
interesses materiais. Mas os opositores, ao se encontrarem cada vez mais
isolados, serão forçados a pensar como todo o mundo, sob pena de se
tornarem ridículos.
799 De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
– Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, e
fazendo os homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse.
A vida futura, não estando mais encoberta pela dúvida, fará o homem
O LIVRO DOS ESPÍRITOS . PARTE TERCEIRA
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compreender melhor que pode, desde agora, no presente, preparar seu
futuro. Ao destruir os preconceitos de seitas, de castas e de raças, ensina
aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos.
800 Não é de temer que o Espiritismo não possa vencer a indiferença
dos homens e seu apego às coisas materiais?
– Seria conhecer pouco os homens, se pensássemos que uma causa
qualquer pudesse transformá-los como por encantamento. As idéias
se modificam pouco a pouco, de acordo com os indivíduos, e são necessárias
gerações para apagar completamente os traços dos velhos hábitos.
A transformação só pode, portanto, se operar a longo prazo, gradualmente,
passo a passo. A cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo
veio rasgá-lo de uma vez e, conseguindo corrigir no homem um único
defeito que seja, já o terá habilitado a dar um grande passo que representa,
para ele, um grande bem, porque facilitará os outros que terá que dar.
801 Por que os Espíritos não ensinaram em todos os tempos o
que ensinam hoje?
– Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não se pode
dar ao recém-nascido um alimento que não poderá digerir. Cada coisa
tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam
ou adulteraram, mas que podem compreender agora. Com o
seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber
a semente que vai frutificar agora.
802 Uma vez que o Espiritismo deve marcar um progresso na
humanidade, por que os Espíritos não aceleram esse progresso com
manifestações tão generalizadas e evidentes que convençam até os
mais descrentes?
– Quereis ver milagres; mas Deus espalha milagres a mãos cheias
diante dos vossos olhos e, ainda assim, há homens que o renegam. Por
acaso o próprio Cristo convenceu seus contemporâneos com os prodígios
que realizou? Não vedes hoje homens negarem os fatos mais evidentes
que se passam sob seus olhos? Não há os que dizem que não acreditariam
mesmo se vissem? Não; não é por prodígios que Deus quer
encaminhar os homens. Em sua bondade, quer deixar o mérito de se convencerem
pela razão.
803 Todos os homens são iguais diante de Deus?
– Sim, todos tendem ao mesmo objetivo e Deus fez suas leis para
todos. Muitas vezes, dizeis: “O Sol nasce para todos” e dizeis aí uma verdade
maior e mais geral do que pensais.
804 Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os
homens?
– Deus criou todos os Espíritos iguais; mas, como cada um viveu mais
ou menos, conseqüentemente, adquiriu maior ou menor experiência; a
diferença está na experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio. Daí uns
se aperfeiçoarem mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões
diversas. A variedade dessas aptidões é necessária, para que cada um
possa concorrer com os desígnios da Providência no limite do desenvolvimento
de suas forças físicas e intelectuais. O que um não pode ou não
sabe fazer o outro faz; é assim que cada um tem o seu papel útil. Depois,
todos os mundos sendo solidários uns com os outros, é natural que habitantes
de mundos superiores, na sua maioria criados antes do vosso,
venham aqui habitar para dar o exemplo. (Veja a questão 361.)
805 Ao passar de um mundo superior a outro inferior, o Espírito
conserva a integridade das faculdades adquiridas?
– Sim, já dissemos, o Espírito que progrediu não regride; pode escolher,
no estado de Espírito, um corpo mais grosseiro ou uma posição mais
precária do que a anterior, mas tudo isso deve sempre lhe servir de ensinamento
e ajudá-lo a progredir. (Veja a questão 180.)
DESIGUALDADES SOCIAIS
806 A desigualdade das condições sociais é uma lei da natureza?
– Não. É obra do homem e não de Deus.
806 a Essa desigualdade desaparecerá um dia?
– Apenas as Leis de Deus são eternas. Vós não vedes essa desigualdade
se apagar pouco a pouco todos os dias? Desaparecerá juntamente
com o predomínio do orgulho e do egoísmo, apenas restará a diferença do
merecimento. Chegará o dia em que os membros da grande família dos
filhos de Deus não se olharão como de sangue mais ou menos puro, porque
apenas o Espírito é mais ou menos puro, e isso não depende da
posição social.
807 O que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição
social para oprimir o fraco em seu proveito?
– Esses se lamentarão: infelizes deles! Serão por sua vez oprimidos:
renascerão numa existência em que suportarão tudo o que fizeram os
outros suportar. (Veja as questões 273 e 684.)
DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS
808 A desigualdade das riquezas não tem origem na desigualdade
das aptidões, que dá a uns maiores meios de aquisição do que a
outros?
– Sim e não; e da astúcia e do roubo, que me dizeis vós?
808 a Mas a riqueza herdada, portanto, não é fruto das más
paixões?
– Que sabeis disso? Voltai à origem dela e vereis que nem sempre é
pura. Sabeis lá se no princípio não foi fruto de roubo ou de injustiça? Porém,
além da origem, que pode não ser boa, acreditais que a cobiça da
riqueza, mesmo da bem adquirida, os desejos secretos que se concebem
para possuí-la o mais rapidamente possível sejam sentimentos louváveis?
É isso que Deus julga e vos asseguro que esse julgamento é mais severo
do que o dos homens.
809 Se uma riqueza foi mal adquirida, os que a herdam mais
tarde são responsáveis por isso?
– Sem dúvida, eles não são responsáveis pelo mal que outros fizeram,
principalmente porque ignoram o fato; mas convém saber que a riqueza,
muitas vezes, chega às mãos de um homem apenas para lhe favorecer a
ocasião de reparar uma injustiça. Felizes os que compreenderem isso! Ao
fazer justiça em nome daquele que cometeu a injustiça, a reparação será
levada em conta para ambos, porque, muitas vezes, quem cometeu a
injustiça é que inspira essa ação aos herdeiros.
810 Sem se afastar da legalidade, qualquer um pode dispor de
seus bens de uma maneira mais ou menos justa. É responsável, depois
de sua morte, pelas disposições que haja feito?
– Toda ação tem seus frutos; os frutos das boas ações são doces; os
outros são sempre amargos. Entendei bem isso, sempre.
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