segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n51

751 Como se explica que alguns povos, já avançados do ponto
de vista intelectual, matem crianças e isso seja dos costumes e consagrado
pela legislação?
– O desenvolvimento intelectual não pressupõe a necessidade do
bem; um Espírito Superior em inteligência pode ser mau. É aquele que
viveu muito sem se melhorar: apenas sabe.

CRUELDADE
752 Pode-se ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?
– É o instinto de destruição no que há de pior. Se a destruição é, às
vezes, uma necessidade, a crueldade nunca é; é sempre o resultado de
uma natureza má.

753 Como se explica que a crueldade seja a característica predominante
dos povos primitivos?
– Entre os povos primitivos, como os chamais, a matéria prepondera
sobre o Espírito; eles se abandonam aos instintos bárbaros e, como não
têm outras necessidades além da vida corporal, pensam somente em sua
conservação pessoal, e é isso que os torna geralmente cruéis. Além do
mais, os povos cujo desenvolvimento é imperfeito estão sob o domínio de
Espíritos igualmente imperfeitos que lhes são simpáticos, até que povos
mais avançados venham destruir ou enfraquecer essa influência.

754 A crueldade não vem da ausência do senso moral?
– Diremos melhor, que o senso moral não está desenvolvido, mas não
que esteja ausente, porque ele existe, como princípio, em todos os homens;
é esse senso moral que os faz mais tarde serem bons e humanos.
Ele existe, portanto, no selvagem, mas está como o princípio do perfume
está no germe da flor antes de desabrochar.

755 Como se explica existirem, no seio da civilização mais avançada,
seres algumas vezes tão cruéis quanto os selvagens?
– Exatamente como numa árvore carregada de bons frutos há os que
ainda não amadureceram, não atingiram o pleno desenvolvimento. São, se
o quiserdes, selvagens que têm da civilização apenas o hábito, lobos extraviados
no meio de ovelhas. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados
podem encarnar em meio a homens avançados na esperança de avançarem;
mas, sendo a prova muito pesada, a natureza primitiva os domina.

756 A sociedade dos homens de bem estará um dia livre dos
malfeitores?
– A humanidade progride; esses homens dominados pelo instinto do
mal que se acham deslocados entre as pessoas de bem desaparecerão
pouco a pouco, como o mau grão é separado do bom depois de selecionado.
Então renascerão sob um outro corpo e, como terão mais experiência,
compreenderão melhor o bem e o mal. Tendes um exemplo disso nas
plantas e nos animais que o homem conseguiu aperfeiçoar e nos quais
desenvolveu qualidades novas. Pois bem! É somente depois de muitas
gerações que o aperfeiçoamento se torna completo. É a imagem das diferentes
existências do homem.

DUELO
757 O duelo pode ser considerado como legítima defesa?
– Não; é um assassinato e um costume absurdo, digno de bárbaros.
Com uma civilização mais adiantada e moralizada, o homem compreenderá
que o duelo é tão ridículo quanto os combates que se consideraram
antigamente como o juízo de Deus.

758 O duelo pode ser considerado como um assassinato por parte
daquele que, conhecendo sua própria fraqueza, está quase certo de
que vai morrer?
– É um suicida.

758 a E quando as probabilidades são iguais, é um assassinato
ou um suicídio?
– Ambos.

759 Qual é o valor do que se chama ponto de honra em matéria
de duelo?
– Orgulho e vaidade: duas chagas da humanidade.

759 a Mas não há casos em que a honra se encontra verdadeiramente
ofendida e um recuo seria covardia?
– Isso depende dos costumes e dos usos; cada país e cada século
tem sobre isso uma visão diferente; quando os homens forem melhores e
mais adiantados em moral compreenderão que o verdadeiro ponto de honra
está acima das paixões terrenas e não é nem matando nem deixando-se
matar que se repara um erro.

PENA DE MORTE
760 A pena de morte desaparecerá um dia da legislação humana?
– A pena de morte desaparecerá incontestavelmente e sua supressão
marcará um progresso na humanidade. Quando os homens estiverem
mais esclarecidos, a pena de morte será completamente abolida da Terra,
os homens não terão mais necessidade de serem julgados pelos homens.
Falo de um tempo que ainda está muito distante de vós.

761 A lei de conservação assegura ao homem o direito de preservar
sua própria vida; não usa desse direito quando elimina da sociedade
um membro perigoso?
– Há outros meios de se preservar do perigo sem precisar matar. É necessário,
aliás, abrir ao criminoso a porta do arrependimento, e não fechá-la.

762 Se a pena de morte pode ser banida das sociedades civilizadas,
não foi uma necessidade nas épocas menos avançadas?
– Necessidade não é bem a palavra. O homem acha sempre uma
coisa necessária quando não encontra justificativa melhor; mas, à medida
que se esclarece, compreende mais acertadamente o que é justo ou injusto
e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância, em
nome da justiça.

763 A restrição dos casos em que se aplica a pena de morte é
um indício de progresso na civilização?
– Podeis duvidar disso? Vosso Espírito não se revolta ao ler a narrativa
das carnificinas humanas de antigamente em nome da justiça e em honra
da Divindade? Das torturas que sofria o condenado, e mesmo um simples
suspeito, para lhe arrancar, pelo excesso dos sofrimentos, a confissão de
um crime que muitas vezes não cometeu? Pois bem! Se tivésseis vivido
naquele tempo, teríeis achado isso muito natural e talvez, se juízes fôsseis,
teríeis feito o mesmo. É assim que o justo de uma época parece bárbaro
em outra. As leis divinas são as únicas eternas; as leis humanas mudam
com o progresso e ainda mudarão até que sejam colocadas em harmonia
com as leis divinas.

764 Jesus ensinou: “Quem matou pela espada morrerá pela espada”.
Essas palavras não são a consagração da pena de talião2 e a
morte aplicada ao homicida não é a aplicação dessa pena?
– Tomai cuidado! Tendes vos enganado sobre essas palavras como
sobre muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus; é Ele que a aplica.
Todos vós sofreis a cada instante essa penalidade, porque sois punidos
pelos erros que cometeis, nessa vida ou em outra; aquele que fez sofrer
seus semelhantes estará numa posição em que ele mesmo sofrerá o que
tiver causado. Esse é o sentido dessas palavras de Jesus, que também
disse: “Perdoai aos vossos inimigos”, e ensinou a pedir a Deus para perdoar
vossas ofensas como vós mesmos tiverdes perdoado, ou seja, na mesma
proporção em que perdoardes. Deveis compreender bem isso.

765 O que pensar da pena de morte aplicada em nome de Deus?
– É tomar o lugar de Deus na justiça. Os que agem assim estão longe
de compreender Deus e ainda têm muito a expiar. A pena de morte é
também um crime quando aplicada em nome de Deus, e os que a ordenam
são responsáveis por assassinato.