terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n58

856 O Espírito sabe por antecipação como desencarnará?
– Sabe que o gênero de vida escolhido o expõe a desencarnar mais
de uma maneira do que de outra. Sabe igualmente quais as lutas que terá
de enfrentar para evitá-la e, se Deus o permitir, não fracassará.

857 Há homens que enfrentam os perigos dos combates com a
convicção de que sua hora não chegou; há algum fundamento nessa
confiança?
– Freqüentemente, o homem tem o pressentimento de seu fim, como
pode ter o de que não morrerá ainda. Esse pressentimento vem por meio
dos seus protetores, que querem adverti-lo para estar pronto para partir,
ou estimulam sua coragem nos momentos em que é mais necessária.
Pode vir ainda pela intuição que tem da existência escolhida, ou da missão
que aceitou e sabe que deve cumprir. (Veja as questões 411 e 522.)

858 Por que os que pressentem a morte a temem menos que os
outros?
– É o homem que teme a morte e não o Espírito; aquele que a pressente
pensa mais como Espírito do que como homem: ele a compreende
como sua libertação e a espera.

859 Se a morte não pode ser evitada, ocorre o mesmo com todos
os acidentes que nos atingem no decorrer da vida?
– Freqüentemente esses acidentes são pequenas coisas para as
quais podemos vos prevenir e, algumas vezes, fazer com que as eviteis,
dirigindo vosso pensamento, porque não gostamos de vos ver sofrer; mas
isso é de pouca importância para a vida que escolhestes. A fatalidade, verdadeiramente,
consiste apenas na hora em que deveis nascer e morrer.

859 a Há fatos que, forçosamente, devam acontecer e que a vontade
dos Espíritos não podem afastar?
– Sim, mas vós, antes de encarnar, vistes e pressentistes quando
fizestes vossa escolha. Entretanto, não acrediteis que tudo o que acontece
está escrito, como se diz. Um acontecimento é, muitas vezes, a
conseqüência de um ato que praticastes por livre vontade, caso contrário
o acontecimento não teria ocorrido. Se queimais o dedo, é conseqüência
de vossa imprudência e ação sobre a matéria. Apenas as grandes dores,
os acontecimentos importantes que podem influir na evolução moral, são
previstos por Deus, já que são úteis para a vossa depuração e instrução.

860 O homem, por sua vontade e ações, pode fazer com que os
acontecimentos que deveriam ocorrer não ocorram, e vice-versa?
– Pode, desde que esse desvio aparente caiba na ordem geral da
vida que escolheu. Depois, para fazer o bem, como é seu dever e único
objetivo da vida, ele pode impedir o mal, especialmente aquele que poderia
contribuir para um mal maior.

861 O homem que comete um homicídio sabe, ao escolher sua
existência, que se tornará um assassino?
– Não. Sabe que, escolhendo uma determinada espécie de vida,
poderá ter a possibilidade de matar um de seus semelhantes, mas não
sabe se o fará porque há nele, quase sempre, uma decisão antes de
cometer qualquer ação; portanto, aquele que delibera sobre uma coisa é
sempre livre para fazê-la ou não. Se o Espírito soubesse antecipadamente
que, como homem, deveria cometer um assassinato, é porque isso estava
predestinado. Sabei que ninguém foi predestinado ao crime e todo
crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do
livre-arbítrio.
Além disso, confundis sempre duas coisas bem distintas: os acontecimentos
materiais da vida e os atos da vida moral. Se algumas vezes
existe fatalidade, é nos acontecimentos materiais cuja causa está fora de
vós e são independentes de vossa vontade. Quanto aos atos da vida
moral, esses emanam sempre do próprio homem, que sempre tem, conseqüentemente,
a liberdade de escolha. Para esses atos, nunca existe
fatalidade.

862 Existem pessoas para as quais nada sai bem e que um mau
gênio parece perseguir em todas as suas ações; não está aí o que
podemos chamar de fatalidade?
– É uma fatalidade, se quiserdes chamar assim, mas é decorrente da
escolha que essa pessoa fez para a presente existência, porque há pessoas
que quiseram ser provadas por uma vida de decepção, para exercitar
sua paciência e sua resignação. Não acrediteis, entretanto, que essa fatalidade
seja absoluta; muitas vezes é o resultado do falso caminho que
tomaram e que nada têm a ver com sua inteligência e suas aptidões. Aquele
que deseja atravessar um rio a nado sem saber nadar tem grande probabilidade
de se afogar; assim é com a maioria dos acontecimentos da vida.
Se o homem somente empreendesse coisas compatíveis e de acordo
com suas capacidades, quase sempre teria êxito. O que faz com que se
perca é seu amor-próprio e sua ambição, que o fazem sair de seu caminho
e o induzem a considerar como vocação o desejo de satisfazer certas
paixões. Ele fracassa e é por sua culpa; mas, em vez de admiti-la espontaneamente,
prefere acusar sua estrela. Seria melhor ter sido um bom
trabalhador e ganho honestamente a vida do que ser um mau poeta e
morrer de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse se colocar
em seu lugar.

863 Os costumes sociais não obrigam o homem a seguir determinado
caminho em vez de outro, e ele não está submetido ao controle
da opinião geral na escolha de suas ocupações? O que se chama
de respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?
– São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus. Se a
eles se submetem, é porque lhes convêm, e isso é ainda um ato de seu
livre-arbítrio, uma vez que, se quisessem, poderiam libertar-se deles; então,
por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar,
mas seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a abandoná-
lo. Ninguém levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública,
enquanto Deus levará em conta o sacrifício que fizerem à sua vaidade.
Isso não quer dizer que seja preciso afrontar essa opinião sem necessida-
de, como fazem algumas pessoas que têm mais originalidade do que verdadeira
filosofia. Há tanto desatino em alguém se fazer objeto de crítica ou
parecer um animal selvagem quanto existe sabedoria em descer voluntariamente
e sem reclamar, quando não se pode permanecer no topo da escala.

864 Existem pessoas para as quais a sorte é contrária, outras
parecem favorecidas, pois tudo lhes sai bem; a que se deve isso?
– Freqüentemente porque elas sabem orientar-se melhor; mas isso
pode ser também um gênero de prova. O sucesso as embriaga; elas confiam
em seu destino e freqüentemente acabam pagando mais tarde esses
mesmos sucessos com cruéis revezes, que poderiam ter evitado com a
prudência.

865 Como explicar a sorte que favorece certas pessoas nas circunstâncias
em que nem a vontade nem a inteligência interferem? O
jogo, por exemplo?
– Alguns Espíritos escolheram antecipadamente certas espécies de
prazer; a sorte que os favorece é uma tentação. Quem ganha como homem
perde como Espírito; é uma prova para seu orgulho e sua cobiça.

866 A fatalidade que parece marcar os destinos materiais de nossa
vida seria, também, o efeito de nosso livre-arbítrio?
– Vós mesmos escolhestes vossa prova; quanto mais for rude e melhor
a suportardes, mais vos elevareis. Aqueles que passam a vida na abundância
e na felicidade humana são Espíritos fracos, que permanecem
estacionários. Assim, o número de desafortunados ultrapassa em muito o
dos felizes neste mundo, já que os Espíritos procuram, na maior parte, a
prova que será mais proveitosa. Eles vêm muito bem a futilidade de vossas
grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre
inquieta, apesar da ausência da dor. (Veja a questão 525 e seguintes)

867 De onde vem a expressão nascer sob uma boa estrela?
– Velha superstição que ligava as estrelas ao destino de cada
homem. É uma simbologia que algumas pessoas fazem a tolice de levar
a sério.

CONHECIMENTO DO FUTURO
868 O futuro pode ser revelado ao homem?
– Em princípio, o futuro é desconhecido e apenas em casos raros ou
excepcionais Deus permite que seja revelado.

869 Com que objetivo o futuro é oculto ao homem?
– Se conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com
a mesma liberdade, porque seria dominado pelo pensamento de que, se
uma coisa deve acontecer, não tem por que se preocupar, ou procuraria
dificultar o acontecimento. Deus quis que assim fosse, para que cada um
cooperasse no cumprimento das coisas, até mesmo daquelas a que gostaria
de se opor. Assim, preparais, vós mesmos, freqüentemente sem
desconfiar disso, os acontecimentos que sucederão no curso de vossa
vida.

870 Mas se é útil que o futuro seja oculto, por que Deus permite
algumas vezes sua revelação?
– Permite, quando esse conhecimento prévio deva facilitar o cumprimento
de algo em vez de dificultá-lo, ficando obrigado o homem a agir de
modo diferente do que faria sem esse conhecimento. Além disso, é, freqüentemente,
uma prova. A perspectiva de um acontecimento pode
despertar pensamentos bons ou maus. Se um homem souber, por exemplo,
que receberá uma herança com que não contava, pode ser que essa
revelação desperte nele a cobiça, pela expectativa de aumentar seus prazeres
terrestres, pelo desejo de se apossar de imediato da herança,
desejando, talvez, a morte daquele que lhe deve deixar a fortuna. Ou,
então, essa perspectiva pode despertar-lhe bons sentimentos e pensamentos
generosos. Se a predição não se cumpre, sofrerá uma outra prova:
a decepção. Mas ele não terá, por isso, mérito ou demérito pelos pensamentos
bons ou maus que a expectativa do acontecimento ocasionou.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n57

841 Deve-se, em respeito à liberdade de consciência, deixar que
se propaguem doutrinas nocivas e pode-se, sem prejudicar essa liberdade,
procurar trazer de volta ao caminho da verdade aqueles que
se perderam ao admitir falsos princípios?
– Certamente que sim; e até mesmo se deve. Mas ensinai a exemplo
de Jesus, pela doçura e persuasão, e não pela força, o que seria pior que
a crença daquele a quem se quer convencer. Se há algo que seja permitido
impor é o bem e a fraternidade. Mas não acreditamos que o meio de
levá-los a admitir seja agindo com violência: a convicção não se impõe.

842 Todas as doutrinas têm a pretensão de ser a única expressão
da verdade; como se pode reconhecer a que tem o direito de se
posicionar assim?
– Será aquela que faz mais homens de bem e menos hipócritas, ou
seja, pela prática da lei de amor e de caridade em sua maior pureza e sua
aplicação mais abrangente. A esse sinal reconheceis que uma doutrina é
boa, já que toda doutrina que semear a desunião e estabelecer uma demarcação
entre os filhos de Deus só pode ser falsa e nociva.

LIVRE-ARBÍTRIO
843 O homem tem sempre o livre-arbítrio?
– Uma vez que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livrearbítrio
o homem seria como uma máquina.

844 O homem desfruta de seu livre-arbítrio desde seu nascimento?
– Há liberdade de agir desde que haja a liberdade de fazer. Nos primeiros
tempos da vida a liberdade é quase nula; ela vai evoluindo e seus
objetivos mudam de acordo com o desenvolvimento das faculdades. A
criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua
idade, aplica seu livre-arbítrio às escolhas que lhe são necessárias.

845 As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer
não são um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?
– As predisposições instintivas são do Espírito antes de sua encarnação;
conforme é mais ou menos adiantado, podem levá-lo a praticar
atos condenáveis, e ele será auxiliado nisso pelos Espíritos com essas
mesmas tendências, mas não há arrebatamento irresistível quando se
tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (Veja a questão
361.)

846 O organismo tem influência sobre os atos da vida? E se tem,
ela não acaba anulando o livre-arbítrio?
– O Espírito está certamente influenciado pela matéria que o pode entravar
em suas manifestações; eis por que, nos mundos onde os corpos
são menos materiais, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade.
Porém, não é o instrumento que dá as faculdades. Além disso, é preciso
separar aqui as faculdades morais das intelectuais; se um homem tem o
instinto assassino, é seguramente seu próprio Espírito que o possui e o
transmite, e não seus órgãos. Aquele que canaliza o pensamento para a
vida da matéria torna-se semelhante ao irracional e, pior ainda, porque não
pensa mais em se prevenir contra o mal, e é nisso que é culpado, uma vez
que age assim por sua vontade. (Veja a questão 367 e segs. – “Influência do
organismo”.)

847 A anormalidade das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?
– Aquele cuja inteligência é perturbada por uma causa qualquer não é
mais senhor de seu pensamento e assim não tem mais liberdade. Essa
anormalidade é, muitas vezes, uma punição para o Espírito que, numa
outra encarnação, pode ter sido fútil e orgulhoso e ter feito mau uso de
suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um deficiente mental,
como o escravizador no corpo de um escravo e o mau rico no de um
mendigo. Porém, o Espírito sofreu esse constrangimento com perfeita consciência.
Está aí a ação da matéria. (Veja a questão 371 e seguintes)

848 Os desatinos das faculdades intelectuais causadas pela embriaguez
é desculpa para atos condenáveis?
– Não, porque o bêbado voluntariamente se privou de sua razão para
satisfazer paixões brutais; em vez de uma falta, comete duas.

849 No homem primitivo, a faculdade dominante é o instinto ou o
livre-arbítrio?
– É o instinto, o que não o impede de agir com total liberdade em
certas circunstâncias; como a criança, ele aplica essa liberdade às suas
necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Porém, como vós,
sois mais esclarecidos do que um selvagem e também mais responsáveis
pelo que fazeis.

850 A posição social não é, algumas vezes, um obstáculo à total
liberdade dos atos?
– O mundo tem, sem dúvida, suas exigências. Deus é justo e tudo
leva em conta, mas vos deixa a responsabilidade do pouco esforço que
fazeis para superar os obstáculos.

FATALIDADE
851 Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o
sentido que se dá a essa palavra, ou seja, todos os acontecimentos
são predeterminados? Nesse caso, como fica o livre-arbítrio?
– A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar
e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de
destino, que é a própria conseqüência da posição que ele próprio escolheu
e em que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto
às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livrearbítrio
quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir.
Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode
influir de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, ao lhe mostrar de
forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a
vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.

852 Há pessoas que parecem ser perseguidas por uma fatalidade,
independentemente de seu modo de agir; a infelicidade não é um destino?
– São, talvez, provas que devem suportar e que escolheram. Mas
definitivamente não deveis acusar o destino pelo que, freqüentemente, é
apenas a conseqüência de vossas próprias faltas. Nos males que vos
afligem, esforçais-vos para que vossa consciência esteja pura, e já vos
sentireis bastante consolados.

853 a Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não
morreremos se a hora não é chegada?
– Não, não morrereis, e sobre isso há milhares de exemplos; mas
quando a hora chegar, nada poderá impedir. Deus sabe por antecipação
qual o gênero de morte que terás na Terra e, muitas vezes, vosso Espírito
também sabe, porque isso foi revelado quando fez a escolha desta ou
daquela existência.

854 Por causa da inevitável hora da morte, as precauções que se
tomam para evitá-la são inúteis?
– Não. As precauções que tomais são sugeridas para evitar a morte
que vos ameaça, são meios para que ela não ocorra.

855 Qual é o objetivo da Providência ao nos fazer correr dos
perigos que não têm conseqüências?
– Quando vossa vida é colocada em perigo, é uma advertência que
vós mesmo desejastes, a fim de vos desviardes do mal e vos tornardes
melhor. Quando escapais desse perigo, ainda sob a influência do risco
que passastes, refletis seriamente, conforme a ação mais ou menos forte
dos bons Espíritos sobre vós para vos melhorardes. O mau Espírito, voltando
a tentação (digo mau subentendendo o mal que ainda existe nele),
pensa que escapará do mesmo modo a outros perigos e novamente deixa
se dominar pelas paixões. Pelos perigos que correis, Deus vos lembra de
vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinardes a causa
e a natureza do perigo, vereis que, muitas vezes, as conseqüências
são a punição de uma falta cometida ou de um dever não cumprido. Deus
vos adverte assim para vos recolherdes em vós mesmos e vos corrigirdes.
(Veja as questões 526 e 532.)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n56

826 Em que condição o homem poderia desfrutar de liberdade
absoluta?
– Na de eremita no deserto. Desde que haja dois homens juntos, há
direitos a respeitar e nenhum deles tem mais liberdade absoluta.

827 A obrigação de respeitar os direitos dos outros tira do homem
o direito de ser senhor de si?
– De jeito nenhum, porque esse é um direito que a natureza lhe concede.

828 Como conciliar as opiniões liberais de certos homens com a
tirania que, muitas vezes, eles mesmos praticam no lar e com os seus
subordinados?
– Eles têm da lei natural só a compreensão, porém contrabalançada
pelo orgulho e egoísmo. Quando esses princípios não são uma comédia
calculadamente representada, o homem tem a perfeita noção de como
deveria agir, mas não o faz.

828 a Como serão considerados na vida espiritual os que procederam
assim neste mundo?
– Quanto mais inteligência tenha um homem para compreender um
princípio, menos é desculpável por não aplicá-lo a si mesmo. Eu vos digo,
em verdade, que o homem simples, mas sincero, está mais avançado no
caminho de Deus do que aquele que quer parecer o que não é.

ESCRAVIDÃO
829 Há homens que são, por natureza, destinados a ser propriedades
de outros homens?
– Toda sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de
Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso,
como desaparecerão pouco a pouco todos os abusos.

830 Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, os
que dela se aproveitam são condenáveis, por agirem seguindo um
procedimento que parece natural?
– O mal é sempre o mal e todos os sofismas não farão com que uma
má ação se torne boa. Mas a responsabilidade do mal é relativa aos meios
de que se dispõe para compreendê-la. Aquele que tira proveito da lei da
escravidão é sempre culpado da violação da lei natural; mas, nisso, como
em todas as coisas, a culpa é relativa. A escravidão, tendo se firmado nos
costumes de alguns povos, tornou possível ao homem aproveitar-se dela
de boa-fé, como de uma coisa que parecia natural; mas a partir do momento
que sua razão se mostrou mais desenvolvida e, acima de tudo,
esclarecida pelas luzes do Cristianismo, demostrando que o escravo é
um ser igual diante de Deus, não há mais desculpa que justifique a escravidão.

831 A desigualdade natural das aptidões não coloca algumas
raças humanas sob a dependência de outras mais inteligentes?
– Sim, mas para erguê-las e não para embrutecê-las ainda mais pela
escravidão. Os homens têm considerado durante muito tempo algumas
raças humanas como animais de braços e mãos e se julgaram no direito
de vendê-los como animais de carga. Eles acreditam possuir um sangue
mais puro, insensatos que vêem apenas a matéria! Não é o sangue que é
mais ou menos puro, mas o Espírito. (Veja as questões 361 e 803.)

832 Há homens que tratam seus escravos com humanidade, que
não lhes deixam faltar nada e pensam que a liberdade até os exporia
a piores privações; o que dizeis deles?
– Digo que esses cuidam melhor de seus interesses. Têm também
muito cuidado com seus bois e cavalos, para tirar mais proveito deles no
mercado. Não são tão culpados quanto os que os maltratam, mas dispõem
deles como de uma mercadoria ao impedir o direito de serem livres.

LIBERDADE DE PENSAR
833 Há no homem alguma coisa livre de qualquer constrangimento
e da qual desfruta de uma liberdade absoluta?
– É pelo pensamento que o homem desfruta de uma liberdade sem
limites, porque o pensamento desconhece obstáculos. Pode-se deter seu
vôo, mas não aniquilá-lo.

834 O homem é responsável por seu pensamento?
– É responsável diante de Deus; somente Deus, podendo conhecê-
lo, o condena ou o absolve segundo Sua justiça.

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA
835 A liberdade de consciência é uma conseqüência da de pensar?
– A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem,
como todos os outros pensamentos.

836 O homem tem direito de colocar obstáculos à liberdade de
consciência?
– Não, nem à liberdade de pensar. Pertence apenas a Deus o direito
de julgar a consciência. Se os homens regulam por suas leis as relações
de homem para homem, Deus, pelas leis da natureza, regula as relações
do homem com Deus.

837 Qual o resultado dos obstáculos postos à liberdade de
consciência?
– Constranger os homens a agir de modo diferente do que pensam,
torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é uma das características
da verdadeira civilização e do progresso.

838 Toda crença é respeitável mesmo que seja notoriamente falsa?
– Toda crença é respeitável quando é sincera e conduz à prática do
bem. As crenças condenáveis são as que conduzem ao mal.

839 É repreensível escandalizar na sua crença aquele que não
pensa como nós?
– É falta de caridade e ofende a liberdade de pensamento.
840 Será atentar contra a liberdade de consciência impor restrições
às crenças que provocam problemas à sociedade?
– Podem-se reprimir os atos, mas a crença íntima é inacessível.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n55

811 A igualdade absoluta das riquezas é possível e alguma vez
já existiu?
– Não, ela não é possível. A diversidade das faculdades e do caráter
entre os homens se opõe a essa igualdade.

811 a Entretanto, há homens que acreditam que aí está o remédio
para os males da sociedade; que dizeis disso?
– São posições sistemáticas ou ambições ciumentas; eles não compreendem
que a igualdade com que sonham seria logo rompida pela força
das coisas. Combatei o egoísmo, que é a vossa praga social, e não procureis
fantasias.

812 Se a igualdade das riquezas não é possível, ocorre o mesmo
com o bem-estar?
– Não, porque o bem-estar é relativo e cada um poderia dele desfrutar,
se o entendesse bem, já que o verdadeiro bem-estar é empregar o
tempo ao seu gosto e não em trabalhos para os quais não se sente nenhum
prazer; e como cada um tem aptidões diferentes, não haveria nenhum
trabalho útil por fazer. O equilíbrio existe em tudo, é o homem que quer
alterá-lo.

812 a Os homens poderão se entender?
– Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça.

813 Há pessoas que passam privação e miséria por sua culpa; a
sociedade pode ser responsável por isso?
– Sim, já o dissemos: ela é muitas vezes a principal causa dessas
situações; aliás, não é de sua responsabilidade cuidar da educação moral
dos seus membros? É, muitas vezes, a má-educação que os levou a falsear
o julgamento em vez de sufocar neles as tendências nocivas. (Veja a
questão 685.)

PROVAS DE RIQUEZA E DE MISÉRIA
814 Por que Deus deu a uns riquezas e poder e a outros a miséria?
– Para experimentar cada um de maneiras diferentes. Aliás, vós já o
sabeis, essas provas foram os próprios Espíritos que escolheram e, muitas
vezes, nelas fracassam.

815 Qual das duas provas é a mais terrível para o homem, a
miséria ou a riqueza?
– Tanto uma como outra; a miséria provoca a lamentação contra a
Providência; a riqueza estimula todos os excessos.

816 Se o rico tem mais tentações, não tem também mais meios
de fazer o bem?
– É justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta, orgulhoso e
insaciável. Suas necessidades aumentam com a riqueza e ele acredita
nunca ter o suficiente.

IGUALDADE DOS DIREITOS DO
HOMEM E DA MULHER
817 O homem e a mulher são iguais diante de Deus e têm os
mesmos direitos?
– Sim; Deus deu a ambos a compreensão do bem e do mal e a
capacidade de progredir.

818 De onde vem a inferioridade moral da mulher em alguns
países?
– Do domínio injusto e cruel que o homem impôs sobre ela. É um
resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza.
Para os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o
direito.

819 Com que objetivo a mulher é mais fraca fisicamente do que o
homem?
– Para assinalar suas funções diferenciadas e particulares. Ao homem
cabem os trabalhos rudes, por ser mais forte; à mulher, os trabalhos mais
leves, e ambos devem se ajudar mutuamente nas provas da vida.

820 A fraqueza física da mulher não a coloca naturalmente sob a
dependência do homem?
– Deus deu a uns a força para proteger o fraco, e não para que lhes
imponham seu domínio.

821 As funções às quais a mulher é destinada pela natureza têm
importância tão grande quanto as do homem?
– Sim, e até maiores; é ela quem dá ao homem as primeiras noções
da vida.

822 Ambos, sendo iguais diante da lei de Deus, devem ser também
diante da lei dos homens?
– É o primeiro princípio de justiça: não façais aos outros o que não
quereis que vos façam.

822 a Assim, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve
consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher?
– De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada um esteja no
seu devido lugar; que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior,
cada um de acordo com sua aptidão. A lei humana, para ser justa, deve
consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio
concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher
segue o progresso da civilização, sua subjugação marcha com a barbárie.
Os sexos, aliás, existem apenas no corpo físico; uma vez que os Espíritos
podem encarnar em um ou outro, não há diferença entre eles nesse aspecto
e, conseqüentemente, devem desfrutar dos mesmos direitos.

IGUALDADE DIANTE DO TÚMULO
823 De onde vem o desejo do homem de perpetuar sua memória
com monumentos fúnebres?
– Último ato de orgulho.

823 a Mas a suntuosidade dos monumentos fúnebres, muitas
vezes, não é feita pelos parentes que desejam honrar a memória do
falecido e não pelo próprio falecido?
– Orgulho dos parentes que desejam glorificar a si mesmos. Nem
sempre é pelo morto que se fazem todas essas demonstrações: é por
amor-próprio, pelo mundo e para ostentar riqueza. Acreditais que a lembrança
de um ser querido seja menos durável no coração do pobre, porque
só pode colocar uma flor no túmulo do seu parente? Acreditais que o
mármore salva do esquecimento aquele que foi inútil na Terra?

824 Reprovais de modo absoluto a pompa dos funerais?
– Não; quando honram a memória de um homem de bem, é justa e
um bom exemplo.

825 Há posições no mundo em que o homem pode se vangloriar
de desfrutar de liberdade absoluta?
– Não, porque todos necessitam uns dos outros, tanto os pequenos
quanto os grandes.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n54

796 A severidade das leis penais não é uma necessidade no
estado atual da sociedade?
– Uma sociedade depravada certamente tem necessidade de leis mais
severas. Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de
feito em vez de secar a fonte do mal. Só a educação pode reformar os
homens, que então não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.

797 Como o homem poderia ser levado a reformar suas leis?
– Isso ocorre naturalmente pela força das coisas e a influência dos
homens de bem que o conduzem no caminho do progresso. Já se reformaram
muitas e se reformarão outras. Esperai!
INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO SOBRE O PROGRESSO

798 O Espiritismo será para todos ou permanecerá como privilégio
de algumas pessoas?
– Certamente, ele se tornará uma convicção íntima de todos e marcará
uma nova era na história da humanidade, porque está na ordem natural
das coisas, na natureza, e é chegado o tempo de ocupar o seu lugar entre
os conhecimentos humanos.
Entretanto, haverá grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses
do que contra a convicção, porque não podemos desconhecer que
há pessoas interessadas em combatê-lo, uns por amor-próprio, outros por
interesses materiais. Mas os opositores, ao se encontrarem cada vez mais
isolados, serão forçados a pensar como todo o mundo, sob pena de se
tornarem ridículos.

799 De que maneira o Espiritismo pode contribuir para o progresso?
– Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, e
fazendo os homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse.
A vida futura, não estando mais encoberta pela dúvida, fará o homem
O LIVRO DOS ESPÍRITOS . PARTE TERCEIRA
267
compreender melhor que pode, desde agora, no presente, preparar seu
futuro. Ao destruir os preconceitos de seitas, de castas e de raças, ensina
aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos.

800 Não é de temer que o Espiritismo não possa vencer a indiferença
dos homens e seu apego às coisas materiais?
– Seria conhecer pouco os homens, se pensássemos que uma causa
qualquer pudesse transformá-los como por encantamento. As idéias
se modificam pouco a pouco, de acordo com os indivíduos, e são necessárias
gerações para apagar completamente os traços dos velhos hábitos.
A transformação só pode, portanto, se operar a longo prazo, gradualmente,
passo a passo. A cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo
veio rasgá-lo de uma vez e, conseguindo corrigir no homem um único
defeito que seja, já o terá habilitado a dar um grande passo que representa,
para ele, um grande bem, porque facilitará os outros que terá que dar.

801 Por que os Espíritos não ensinaram em todos os tempos o
que ensinam hoje?
– Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não se pode
dar ao recém-nascido um alimento que não poderá digerir. Cada coisa
tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam
ou adulteraram, mas que podem compreender agora. Com o
seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber
a semente que vai frutificar agora.

802 Uma vez que o Espiritismo deve marcar um progresso na
humanidade, por que os Espíritos não aceleram esse progresso com
manifestações tão generalizadas e evidentes que convençam até os
mais descrentes?
– Quereis ver milagres; mas Deus espalha milagres a mãos cheias
diante dos vossos olhos e, ainda assim, há homens que o renegam. Por
acaso o próprio Cristo convenceu seus contemporâneos com os prodígios
que realizou? Não vedes hoje homens negarem os fatos mais evidentes
que se passam sob seus olhos? Não há os que dizem que não acreditariam
mesmo se vissem? Não; não é por prodígios que Deus quer
encaminhar os homens. Em sua bondade, quer deixar o mérito de se convencerem
pela razão.

803 Todos os homens são iguais diante de Deus?
– Sim, todos tendem ao mesmo objetivo e Deus fez suas leis para
todos. Muitas vezes, dizeis: “O Sol nasce para todos” e dizeis aí uma verdade
maior e mais geral do que pensais.

804 Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os
homens?
– Deus criou todos os Espíritos iguais; mas, como cada um viveu mais
ou menos, conseqüentemente, adquiriu maior ou menor experiência; a
diferença está na experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio. Daí uns
se aperfeiçoarem mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões
diversas. A variedade dessas aptidões é necessária, para que cada um
possa concorrer com os desígnios da Providência no limite do desenvolvimento
de suas forças físicas e intelectuais. O que um não pode ou não
sabe fazer o outro faz; é assim que cada um tem o seu papel útil. Depois,
todos os mundos sendo solidários uns com os outros, é natural que habitantes
de mundos superiores, na sua maioria criados antes do vosso,
venham aqui habitar para dar o exemplo. (Veja a questão 361.)

805 Ao passar de um mundo superior a outro inferior, o Espírito
conserva a integridade das faculdades adquiridas?
– Sim, já dissemos, o Espírito que progrediu não regride; pode escolher,
no estado de Espírito, um corpo mais grosseiro ou uma posição mais
precária do que a anterior, mas tudo isso deve sempre lhe servir de ensinamento
e ajudá-lo a progredir. (Veja a questão 180.)

DESIGUALDADES SOCIAIS
806 A desigualdade das condições sociais é uma lei da natureza?
– Não. É obra do homem e não de Deus.

806 a Essa desigualdade desaparecerá um dia?
– Apenas as Leis de Deus são eternas. Vós não vedes essa desigualdade
se apagar pouco a pouco todos os dias? Desaparecerá juntamente
com o predomínio do orgulho e do egoísmo, apenas restará a diferença do
merecimento. Chegará o dia em que os membros da grande família dos
filhos de Deus não se olharão como de sangue mais ou menos puro, porque
apenas o Espírito é mais ou menos puro, e isso não depende da
posição social.

807 O que pensar dos que abusam da superioridade de sua posição
social para oprimir o fraco em seu proveito?
– Esses se lamentarão: infelizes deles! Serão por sua vez oprimidos:
renascerão numa existência em que suportarão tudo o que fizeram os
outros suportar. (Veja as questões 273 e 684.)

DESIGUALDADE DAS RIQUEZAS
808 A desigualdade das riquezas não tem origem na desigualdade
das aptidões, que dá a uns maiores meios de aquisição do que a
outros?
– Sim e não; e da astúcia e do roubo, que me dizeis vós?

808 a Mas a riqueza herdada, portanto, não é fruto das más
paixões?
– Que sabeis disso? Voltai à origem dela e vereis que nem sempre é
pura. Sabeis lá se no princípio não foi fruto de roubo ou de injustiça? Porém,
além da origem, que pode não ser boa, acreditais que a cobiça da
riqueza, mesmo da bem adquirida, os desejos secretos que se concebem
para possuí-la o mais rapidamente possível sejam sentimentos louváveis?
É isso que Deus julga e vos asseguro que esse julgamento é mais severo
do que o dos homens.

809 Se uma riqueza foi mal adquirida, os que a herdam mais
tarde são responsáveis por isso?
– Sem dúvida, eles não são responsáveis pelo mal que outros fizeram,
principalmente porque ignoram o fato; mas convém saber que a riqueza,
muitas vezes, chega às mãos de um homem apenas para lhe favorecer a
ocasião de reparar uma injustiça. Felizes os que compreenderem isso! Ao
fazer justiça em nome daquele que cometeu a injustiça, a reparação será
levada em conta para ambos, porque, muitas vezes, quem cometeu a
injustiça é que inspira essa ação aos herdeiros.

810 Sem se afastar da legalidade, qualquer um pode dispor de
seus bens de uma maneira mais ou menos justa. É responsável, depois
de sua morte, pelas disposições que haja feito?
– Toda ação tem seus frutos; os frutos das boas ações são doces; os
outros são sempre amargos. Entendei bem isso, sempre.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n53

781 O homem pode deter a marcha do progresso?
– Não; mas pode impedi-lo algumas vezes.

781 a O que pensar dos homens que tentam deter essa marcha
e fazer retroceder a humanidade?
– Pobres seres que serão punidos por suas próprias ações. Serão
arrastados pela torrente que querem deter.

782 Não há homens que impedem o progresso com sua boa-fé,
pensando favorecê-lo porque o vêem sob seu ponto de vista e, muitas
vezes, onde ele não está?
– São como uma pequena pedra colocada sob a roda de um grande
carro e que não o impede de avançar.

783 O aperfeiçoamento da humanidade segue sempre uma marcha
progressiva e lenta?
– Há o progresso regular e lento que resulta da força das coisas; mas
quando um povo não avança rápido o suficiente a Providência provoca,
de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.
Muitas vezes, o homem percebe nessas transformações apenas a
desordem e a confusão momentâneas que atingem seus interesses materiais.
Porém, aquele que eleva o pensamento acima dos interesses
pessoais admira os desígnios da Providência, que do mal faz surgir o
bem. É a tempestade e a agitação que purificam a atmosfera após a
perturbação.

784 A perversidade do homem é muito grande. Não parece recuar
em vez de avançar, pelo menos do ponto de vista moral?
– Engano vosso. Observai bem o conjunto e vereis que o homem
avança, uma vez que compreende melhor o que é o mal e a cada dia
corrige abusos. É preciso o mal chegar a extremos para fazer compreender
a necessidade do bem e das reformas.

785 Qual é o maior obstáculo ao progresso?
– O orgulho e o egoísmo; quero falar do progresso moral, uma vez
que o progresso intelectual avança sempre e parece, aliás, à primeira vista,
dar ao egoísmo e ao orgulho força duplicada ao desenvolver a ambição
e o amor às riquezas, que, por sua vez, estimulam o homem às pesquisas
que esclarecem seu Espírito.É assim que tudo se relaciona no mundo
moral como no físico e que do próprio mal pode sair o bem; mas essa
situação não durará muito tempo, mudará à medida que o homem compreender
melhor que além dos prazeres terrestres há uma felicidade
infinitamente mais durável.(Veja “O Egoísmo”, Parte Terceira, cap. 12.)

POVOS DEGENERADOS
786 A história nos mostra muitos povos que, após os abalos que
sofreram, caíram na barbárie; onde está o progresso nesse caso?
– Quando vossa casa ameaça desabar a derrubais para reconstruir
uma mais sólida e mais cômoda; mas, até que esteja reconstruída, há
problemas e confusão na vossa casa.
Compreendei o seguinte: éreis pobres e habitáveis um casebre; tornais-
vos rico e o deixais para habitar um palácio. Depois, um pobre diabo,
como vós, vem tomar vosso lugar no casebre e ainda fica muito contente,
porque antes não tinha abrigo. Pois bem! Aprendei que os Espíritos encarnados
nesse povo degenerado não são aqueles que o compuseram no
tempo de seu esplendor; os de então, que avançaram, foram para habitações
mais perfeitas, progrediram, enquanto outros menos avançados vieram
e tomaram o lugar, que também, por sua vez, deixarão.

787 Não há raças que por sua natureza são rebeldes ao progresso?
– Sim, mas estas se destroem, corporalmente, a cada dia.

787 a Qual será a sorte futura das almas que animam essas raças?
– Elas chegarão como todas à perfeição ao passar por outras existências:
Deus não deserda ninguém.

787 b Assim, os homens mais civilizados podem ter sido selvagens
e antropófagos?
– Vós mesmo o fostes, mais de uma vez, antes de ser o que sois.

788 Os povos são individualidades coletivas que, como os indivíduos,
passam pela infância, idade adulta e velhice; essa verdade constatada
pela história não nos faz concluir que os mais adiantados deste
século terão seu declínio e fim, como os da Antiguidade?
– Os povos materialistas, que vivem somente a vida do corpo, aqueles
cuja grandeza é fundada apenas sobre a força e a extensão territorial,
nascem, crescem e morrem, porque a força de um povo se esgota como
a de um homem. Aqueles cujas leis egoístas retardam o progresso das
luzes e da caridade morrem, porque a luz mata as trevas e a caridade mata
o egoísmo; mas há para os povos, como para os indivíduos, a vida da
alma. Aqueles, porém, cujas leis se harmonizam com as leis eternas do
Criador viverão e serão o farol dos outros povos.

789 O progresso reunirá um dia todos os povos da Terra numa
única nação?
– Não numa única nação, isso é impossível, uma vez que da diversidade
dos climas nascem costumes e necessidades diferentes que
constituem as nacionalidades; é por isso que sempre precisarão de leis
apropriadas a esses costumes e necessidades. Mas a caridade não conhece
diferenças nem faz distinção entre os homens pela cor. Quando a
lei de Deus for a base da lei humana em todos os lugares, os povos praticarão
a caridade entre si, como os indivíduos, de homem para homem;
então, viverão felizes e em paz, porque ninguém fará mal a seu vizinho,
nem viverão à custa uns dos outros.

790 A civilização é um progresso ou, conforme alguns filósofos,
uma decadência da humanidade?
– Progresso incompleto; o homem não passa subitamente da infância
à idade adulta.

790 a É racional condenar a civilização?
– Primeiramente condenai aqueles que abusam dela e não a obra de
Deus.

791 A civilização se depurará um dia de modo a fazer desaparecer
os males que tenha produzido?
– Sim, quando a moral também estiver tão desenvolvido quanto a
inteligência. O fruto não pode vir antes da flor.

792 Por que a civilização não realiza imediatamente todo o bem
que poderia produzir?
– Porque os homens ainda não estão prontos nem dispostos a obter
esse bem.

792 a Não seria também porque, ao criar novas necessidades,
ela superexcita novas paixões?
– Sim, e porque nem todas as faculdades do Espírito progridem a um
só tempo; é preciso tempo para tudo. Não podeis esperar frutos perfeitos
de uma civilização incompleta. (Veja as questões 751 e 780.)

793 Com que sinais se pode reconhecer uma civilização completa?
– Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar
bem avançados, pelas grandes descobertas e invenções maravilhosas, e
estais melhor alojados e vestidos do que os selvagens. Mas apenas tereis
verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando tiverdes banido
da sociedade os vícios que a desonram e viverdes como irmãos praticando
a caridade cristã. Até lá, sois somente povos esclarecidos, que
percorreram apenas a primeira fase da civilização.

794 A sociedade poderia ser regida só pelas leis naturais sem a
colaboração das leis humanas?
– Poderia se as compreendesse bem, se o homem tivesse vontade
suficiente para praticá-las; mas a sociedade tem suas exigências e precisa
de leis particulares.

795 Qual a causa da instabilidade das leis humanas?
– Nos tempos da barbárie, são os mais fortes que fazem as leis, e as
fazem para se beneficiarem. Foi preciso modificá-las muito, à medida que
os homens compreenderam melhor a justiça. As leis humanas são mais
estáveis quanto mais se aproximam da verdadeira justiça, isto é, conforme
sejam as mesmas e iguais para todos e se identifiquem com a lei natural.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n52

766 A vida social é uma obrigação natural?
– Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus
deu-lhe a palavra e todas as demais faculdades necessárias ao relacionamento.

767 O isolamento absoluto é contrário à lei natural?
– Sim, uma vez que os homens procuram por instinto a sociedade,
para que todos possam concorrer para o progresso ao se ajudarem mutuamente.

768 O homem, ao procurar viver em sociedade, apenas obedece
a um sentimento pessoal, ou há um objetivo providencial mais geral?
– O homem deve progredir, mas não pode fazer isso sozinho porque
não dispõe de todas as faculdades; eis por que precisa se relacionar com
outros homens. No isolamento, se embrutece e se enfraquece.

VIDA DE ISOLAMENTO. VOTO DE SILÊNCIO
769 Compreende-se, como princípio geral, que a vida social faça
parte na natureza; mas, como todos os gostos estão também na natureza,
por que o gosto pelo isolamento absoluto seria condenável se o
homem encontra nele sua satisfação?
– Satisfação de egoísta. Há também homens que encontram satisfação
em se embriagar; vós os aprovais? Deus não pode ter por agradável
uma vida em que o homem se condena a não ser útil a ninguém.

770 O que pensar dos homens que escolhem viver em reclusão
absoluta para fugir do contato nocivo do mundo?
– Duplo egoísmo.

770 a Mas se esse retiro tiver por objetivo uma expiação ao lhe
impor uma privação pesarosa, não é meritório?
– Fazer antes o bem do que o mal é a melhor expiação. Ao evitarem
um mal, caem em outro, uma vez que se esquecem da lei de amor e de
caridade.

771 O que pensar daqueles que fogem do mundo para se devotar
ao alívio dos sofredores?
– Esses se elevam ao se rebaixarem. Têm duplo mérito por se colocarem
acima dos prazeres materiais e por fazerem o bem cumprindo a lei do
trabalho.

771 a E aqueles que procuram no retiro a tranqüilidade de que
precisam para alguns trabalhos?
– Esse não é absolutamente um retiro egoísta. Eles não se isolam da
sociedade, uma vez que trabalham para ela.

772 O que pensar do voto de silêncio determinado por certas
seitas desde a Antiguidade?
– Perguntai antes se a palavra é um dom natural e porque Deus a
concedeu ao homem. Deus reprova o abuso e não o uso das faculdades
que concedeu. Entretanto, há momentos em que o silêncio pode ser útil.
No silêncio vos concentrais; vosso Espírito torna-se mais livre e pode então
entrar em comunicação conosco. Mas voto de silêncio é uma tolice.
Sem dúvida, os que consideram essas privações voluntárias como atos
de virtude têm uma boa intenção, mas se enganam porque não compreendem
verdadeiramente o alcance das leis de Deus.

773 Por que, entre os animais, pais e filhos deixam de se reconhecer
assim que os filhos não necessitam mais de cuidados?
– Os animais vivem vida material e não moral. A ternura da mãe com
seus filhotes tem origem no instinto de conservação de suas crias; quando
eles podem cuidar de si mesmos, sua tarefa está cumprida, a natureza
não exige deles mais nada; por isso os abandona, para se ocupar com os
outros recém-chegados.

774 Há pessoas que deduzem, do abandono dos pequenos animais
por seus pais, que entre os homens os laços de família são apenas
resultado dos costumes sociais e não uma lei natural; que devemos
pensar disso?
– O homem tem destinação diferente dos animais; por que, então,
querer se parecer com eles? Para o homem, há outra coisa além das
necessidades físicas: a necessidade do progresso. Os laços sociais são
necessários ao progresso e os de família estreitam os sociais: eis por que
fazem parte da lei natural. Deus quis que os homens aprendessem assim,
a se amar como irmãos. (Veja a questão 205.)

775 Qual seria, para a sociedade, o resultado do relaxamento
dos laços de família?
– Um agravamento do egoísmo.

776 O estado natural e a lei natural são a mesma coisa?
– Não. O estado natural é o estado primitivo. A civilização é incompatível
com o estado natural, enquanto a lei natural contribui para o progresso
da humanidade.

777 No estado natural, o homem, por ter menos necessidades,
não tem todos os tormentos que cria para si mesmo num estado mais
avançado; o que pensar da opinião que considera esse estado como
a mais perfeita felicidade sobre a Terra?
– Que quereis! É a felicidade do bruto; há pessoas que não a compreendem
de outro modo. É ser feliz à maneira dos bárbaros. Também as crianças
são mais felizes do que os adultos.

778 O homem pode regredir para o estado natural?
– Não; o homem deve progredir sempre e não pode retornar à infância.
Se progride, é porque Deus assim quer; pensar que possa regredir à
sua condição primitiva seria negar a lei do progresso.

MARCHA DO PROGRESSO
779 O homem traz em si o impulso de progredir ou o progresso é
apenas fruto de um ensinamento?
– O homem se desenvolve naturalmente, mas nem todos progridem
ao mesmo tempo e do mesmo modo; é assim que os mais avançados
ajudam pelo contato social o progresso dos outros.

780 O progresso moral é sempre acompanhado do intelectual?
– É sua conseqüência, mas nem sempre o segue imediatamente.
(Veja as questões 192 e 365.)

780 a Como o avanço intelectual pode gerar o progresso moral?
– Ao fazer compreender o bem e o mal; o homem, então, pode escolher.
O desenvolvimento do livre-arbítrio segue o da inteligência e aumenta
a responsabilidade dos seus atos.

780 b Por que os povos mais esclarecidos são, muitas vezes, os
mais pervertidos?
– O progresso completo é a meta; mas os povos, como os indivíduos,
o alcançam apenas passo a passo. Enquanto o sentido moral não estiver
plenamente desenvolvido, eles se servem de sua inteligência para fazer o
mal. O moral e a inteligência são duas forças que se equilibram apenas
com o tempo. (Veja as questões 365 e 751.)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n51

751 Como se explica que alguns povos, já avançados do ponto
de vista intelectual, matem crianças e isso seja dos costumes e consagrado
pela legislação?
– O desenvolvimento intelectual não pressupõe a necessidade do
bem; um Espírito Superior em inteligência pode ser mau. É aquele que
viveu muito sem se melhorar: apenas sabe.

CRUELDADE
752 Pode-se ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?
– É o instinto de destruição no que há de pior. Se a destruição é, às
vezes, uma necessidade, a crueldade nunca é; é sempre o resultado de
uma natureza má.

753 Como se explica que a crueldade seja a característica predominante
dos povos primitivos?
– Entre os povos primitivos, como os chamais, a matéria prepondera
sobre o Espírito; eles se abandonam aos instintos bárbaros e, como não
têm outras necessidades além da vida corporal, pensam somente em sua
conservação pessoal, e é isso que os torna geralmente cruéis. Além do
mais, os povos cujo desenvolvimento é imperfeito estão sob o domínio de
Espíritos igualmente imperfeitos que lhes são simpáticos, até que povos
mais avançados venham destruir ou enfraquecer essa influência.

754 A crueldade não vem da ausência do senso moral?
– Diremos melhor, que o senso moral não está desenvolvido, mas não
que esteja ausente, porque ele existe, como princípio, em todos os homens;
é esse senso moral que os faz mais tarde serem bons e humanos.
Ele existe, portanto, no selvagem, mas está como o princípio do perfume
está no germe da flor antes de desabrochar.

755 Como se explica existirem, no seio da civilização mais avançada,
seres algumas vezes tão cruéis quanto os selvagens?
– Exatamente como numa árvore carregada de bons frutos há os que
ainda não amadureceram, não atingiram o pleno desenvolvimento. São, se
o quiserdes, selvagens que têm da civilização apenas o hábito, lobos extraviados
no meio de ovelhas. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados
podem encarnar em meio a homens avançados na esperança de avançarem;
mas, sendo a prova muito pesada, a natureza primitiva os domina.

756 A sociedade dos homens de bem estará um dia livre dos
malfeitores?
– A humanidade progride; esses homens dominados pelo instinto do
mal que se acham deslocados entre as pessoas de bem desaparecerão
pouco a pouco, como o mau grão é separado do bom depois de selecionado.
Então renascerão sob um outro corpo e, como terão mais experiência,
compreenderão melhor o bem e o mal. Tendes um exemplo disso nas
plantas e nos animais que o homem conseguiu aperfeiçoar e nos quais
desenvolveu qualidades novas. Pois bem! É somente depois de muitas
gerações que o aperfeiçoamento se torna completo. É a imagem das diferentes
existências do homem.

DUELO
757 O duelo pode ser considerado como legítima defesa?
– Não; é um assassinato e um costume absurdo, digno de bárbaros.
Com uma civilização mais adiantada e moralizada, o homem compreenderá
que o duelo é tão ridículo quanto os combates que se consideraram
antigamente como o juízo de Deus.

758 O duelo pode ser considerado como um assassinato por parte
daquele que, conhecendo sua própria fraqueza, está quase certo de
que vai morrer?
– É um suicida.

758 a E quando as probabilidades são iguais, é um assassinato
ou um suicídio?
– Ambos.

759 Qual é o valor do que se chama ponto de honra em matéria
de duelo?
– Orgulho e vaidade: duas chagas da humanidade.

759 a Mas não há casos em que a honra se encontra verdadeiramente
ofendida e um recuo seria covardia?
– Isso depende dos costumes e dos usos; cada país e cada século
tem sobre isso uma visão diferente; quando os homens forem melhores e
mais adiantados em moral compreenderão que o verdadeiro ponto de honra
está acima das paixões terrenas e não é nem matando nem deixando-se
matar que se repara um erro.

PENA DE MORTE
760 A pena de morte desaparecerá um dia da legislação humana?
– A pena de morte desaparecerá incontestavelmente e sua supressão
marcará um progresso na humanidade. Quando os homens estiverem
mais esclarecidos, a pena de morte será completamente abolida da Terra,
os homens não terão mais necessidade de serem julgados pelos homens.
Falo de um tempo que ainda está muito distante de vós.

761 A lei de conservação assegura ao homem o direito de preservar
sua própria vida; não usa desse direito quando elimina da sociedade
um membro perigoso?
– Há outros meios de se preservar do perigo sem precisar matar. É necessário,
aliás, abrir ao criminoso a porta do arrependimento, e não fechá-la.

762 Se a pena de morte pode ser banida das sociedades civilizadas,
não foi uma necessidade nas épocas menos avançadas?
– Necessidade não é bem a palavra. O homem acha sempre uma
coisa necessária quando não encontra justificativa melhor; mas, à medida
que se esclarece, compreende mais acertadamente o que é justo ou injusto
e repudia os excessos cometidos nos tempos de ignorância, em
nome da justiça.

763 A restrição dos casos em que se aplica a pena de morte é
um indício de progresso na civilização?
– Podeis duvidar disso? Vosso Espírito não se revolta ao ler a narrativa
das carnificinas humanas de antigamente em nome da justiça e em honra
da Divindade? Das torturas que sofria o condenado, e mesmo um simples
suspeito, para lhe arrancar, pelo excesso dos sofrimentos, a confissão de
um crime que muitas vezes não cometeu? Pois bem! Se tivésseis vivido
naquele tempo, teríeis achado isso muito natural e talvez, se juízes fôsseis,
teríeis feito o mesmo. É assim que o justo de uma época parece bárbaro
em outra. As leis divinas são as únicas eternas; as leis humanas mudam
com o progresso e ainda mudarão até que sejam colocadas em harmonia
com as leis divinas.

764 Jesus ensinou: “Quem matou pela espada morrerá pela espada”.
Essas palavras não são a consagração da pena de talião2 e a
morte aplicada ao homicida não é a aplicação dessa pena?
– Tomai cuidado! Tendes vos enganado sobre essas palavras como
sobre muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus; é Ele que a aplica.
Todos vós sofreis a cada instante essa penalidade, porque sois punidos
pelos erros que cometeis, nessa vida ou em outra; aquele que fez sofrer
seus semelhantes estará numa posição em que ele mesmo sofrerá o que
tiver causado. Esse é o sentido dessas palavras de Jesus, que também
disse: “Perdoai aos vossos inimigos”, e ensinou a pedir a Deus para perdoar
vossas ofensas como vós mesmos tiverdes perdoado, ou seja, na mesma
proporção em que perdoardes. Deveis compreender bem isso.

765 O que pensar da pena de morte aplicada em nome de Deus?
– É tomar o lugar de Deus na justiça. Os que agem assim estão longe
de compreender Deus e ainda têm muito a expiar. A pena de morte é
também um crime quando aplicada em nome de Deus, e os que a ordenam
são responsáveis por assassinato.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n50

736 Os povos que são muito escrupulosos com relação à destruição
dos animais têm um mérito particular?
– É um excesso, mesmo sendo um sentimento louvável em si mesmo; se
se torna abusivo, seu mérito é neutralizado pelos abusos de outras espécies.
Há entre eles mais medo supersticioso do que a verdadeira bondade.

FLAGELOS DESTRUIDORES
737 Com que objetivo os flagelos destruidores atingem a humanidade?
– Para fazê-la progredir mais depressa. Não dissemos que a
destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que ad-
quirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? É preciso ver
o objetivo para apreciar os resultados dele. Vós os julgais somente do
ponto de vista pessoal e os chamais de flagelos por causa do prejuízo que
ocasionam; mas esses aborrecimentos são, na maior parte das vezes,
necessários para fazer chegar mais rapidamente a uma ordem de coisas
melhores e realizar em alguns anos o que exigiria séculos. (Veja a questão
744.)

738 A Providência não poderia empregar para o aperfeiçoamento
da humanidade outros meios que não os flagelos destruidores?
– Sim, pode, e os emprega todos os dias, uma vez que deu a cada
um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. É o homem
que não tira proveito disso; é preciso castigá-lo em seu orgulho e
fazer-lhe sentir sua fraqueza.

738 a Mas nesses flagelos o homem de bem morre como o perverso;
isso é justo?
– Durante a vida, o homem sujeita tudo ao seu corpo; mas, após a
morte, pensa de outro modo e, como já dissemos, a vida do corpo é
pouca coisa; um século de vosso mundo é um relâmpago na eternidade.
Portanto, os sofrimentos que sentis por alguns meses ou alguns dias não
são nada, são um ensinamento para vós e servirão no futuro. Os Espíritos,
que preexistem e sobrevivem a tudo, compõem o mundo real. (Veja a questão
85.) Esses são filhos de Deus e objeto de toda a sua solicitude; os
corpos são apenas trajes sob os quais aparecem no mundo. Nas grandes
calamidades que destroem os homens, é como se um exército tivesse
durante a guerra seus trajes estragados ou perdidos. O general tem mais
cuidado com seus soldados do que com as roupas que usam.

738 b Mas nem por isso as vítimas desses flagelos são menos
vítimas?
– Se considerásseis a vida como ela é, e quanto é insignificante em
relação ao infinito, menos importância lhe daríeis. Essas vítimas encontrarão
numa outra existência uma grande compensação para seus sofrimentos
se souberem suportá-los sem se lamentar.

739 Os flagelos destruidores têm alguma utilidade do ponto de
vista físico, apesar dos males que ocasionam?
– Sim, eles mudam, muitas vezes, as condições de uma região; mas
o bem que resulta disso somente é percebido pelas gerações futuras.

740 Os flagelos não seriam para o homem também provas morais
que os submetem às mais duras necessidades?
– Os flagelos são provas que proporcionam ao homem a ocasião de
exercitar sua inteligência, mostrar sua paciência e sua resignação à vontade
da Providência, e até mesmo multiplicam neles os sentimentos de abnegação,
de desinteresse e de amor ao próximo, se não é dominado pelo egoísmo.

741 É dado ao homem evitar os flagelos que o atormentam?
– Sim, em parte, embora não como se pensa geralmente. Muitos dos
flagelos são a conseqüência de sua imprevidência; à medida que adquire
conhecimentos e experiência, pode preveni-los se souber procurar suas
causas. Porém, entre os males que afligem a humanidade, há os de caráter
geral, que estão nos decretos da Providência, e dos quais cada indivíduo
sente mais ou menos a repercussão. Sobre esses males, o homem pode
apenas se resignar à vontade de Deus; e ainda esses males são, muitas
vezes, agravados pela sua negligência.

GUERRAS
742 Qual é a causa que leva o homem à guerra?
– Predominância da natureza selvagem sobre a espiritual e satisfação
das paixões. No estado de barbárie, os povos conhecem apenas o direito
do mais forte; é por isso que a guerra é para eles um estado normal.
Contudo, à medida que o homem progride, ela se torna menos freqüente,
porque evita as suas causas, e quando é inevitável sabe aliar à sua ação o
sentimento de humanidade.

743 A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?
– Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei
de Deus; então, todos os povos serão irmãos.

744 Qual o objetivo da Providência ao tornar a guerra necessária?
– A liberdade e o progresso.
7
44 a Se a guerra deve ter como efeito conduzir à liberdade,
como se explica que tenha, muitas vezes, por objetivo e resultado a
escravidão?
– Escravidão temporária para abater os povos, a fim de fazê-los progredir
mais rápido.

745 O que pensar daquele que provoca a guerra em seu proveito?
– Esse é o verdadeiro culpado e precisará de muitas reencarnações
para expiar todas as mortes que causou, porque responderá
por todo homem cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição.

ASSASSINATO
746 O assassinato é um crime aos olhos de Deus?
– Sim, um grande crime; porque aquele que tira a vida de seu semelhante
corta uma vida de expiação ou de missão, e aí está o mal.

747 O assassinato tem sempre o mesmo grau de culpabilidade?
– Já o dissemos: Deus é justo, julga mais a intenção do que o fato.

748 Perante Deus há justificativa no assassinato em caso de legítima
defesa?
– Somente a necessidade pode desculpá-lo. Mas se o agredido pode
preservar sua vida sem atentar contra a do agressor, deve fazê-lo.

749 O homem é culpado pelos assassinatos que comete durante
a guerra?
– Não, quando constrangido pela força, embora seja culpado pelas
crueldades que comete. O sentimento de humanidade com que se portou
será levado em conta.

750 Qual é mais culpado diante da lei de Deus, aquele que mata
um pai ou aquele que mata uma criança?
– Ambos o são igualmente, porque todo crime é crime.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n49

721 A vida de mortificações ascéticas1 dos devotos e dos místicos,
praticada desde a Antiguidade e entre diferentes povos, é meritória
sob algum ponto de vista?
– Perguntai para o que e a quem ela serve e tereis a resposta. Se
serve apenas àquele que a pratica e o impede de fazer o bem, é egoísmo,
qualquer que seja o pretexto com o qual se disfarce. Renegar-se a si mesmo
e trabalhar para os outros é a verdadeira mortificação, conforme a
caridade cristã.

722 A abstenção de alguns alimentos, regra entre diversos povos,
é fundada na razão?
– Tudo aquilo com que o homem pode se alimentar sem prejuízo para
a sua saúde é permitido. Porém, alguns legisladores resolveram proibir
alguns alimentos com um objetivo útil e, para dar maior autoridade às suas
leis, as apresentaram como se fossem vindas de Deus.

723 A alimentação animal é, para o homem, contrária à lei natural?
– Em vossa constituição física, a carne alimenta a carne; de outro
modo, o homem enfraquece. A lei de conservação dá ao homem o dever
de manter suas forças e sua saúde para cumprir a lei do trabalho. Ele
deve, portanto, se alimentar conforme as exigências de seu organismo.

724 A abstenção de alimento animal ou outro, como purificação,
é meritória?
– Sim, se essa abstenção for em benefício dos outros; mas Deus não
pode ver uma mortificação quando não é séria e útil. Por isso dizemos que
aqueles que se privam apenas na aparência são hipócritas. (Veja a questão
720.)

725 Que pensar das mutilações que se fazem no corpo do homem
e dos animais?
– Por que tal questão? Perguntai, a vós mesmos, ainda uma vez e
sempre, se uma coisa é útil. O que é inútil não pode ser agradável a Deus
e o que é nocivo é sempre desagradável; porque, deveis saber, Deus só é
sensível aos sentimentos daqueles que lhe elevam a alma; é praticando
Sua Lei que podereis vos libertar da matéria terrestre, e não violando-a.

726 Se os sofrimentos deste mundo nos elevam pela maneira
que os suportamos, elevam-nos também os que criamos voluntariamente?
– Os únicos sofrimentos que elevam são os sofrimentos naturais, porque
vêm de Deus; os sofrimentos voluntários não servem para nada quando
não contribuem para o bem dos outros. Por acaso acreditais que avançam
no caminho do progresso os que abreviam sua vida nos rigores sobrehumanos,
como fazem os bonzos2, os faquires3e alguns fanáticos de muitas
seitas? Por que não trabalham antes pelo bem de seus semelhantes? Que
vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem por aquele que está
enfermo; sofram necessidades para o alívio dos infelizes; então, sim, sua
vida será útil e agradável a Deus. Quando os sofrimentos voluntários têm
em vista apenas a si mesmo, é egoísmo; quando se sofre pelos outros, é
caridade: são estes os preceitos do Cristo.

727 Se não devemos criar sofrimentos voluntários sem utilidade
para os outros, devemo-nos preservar daqueles que prevemos ou que
nos ameaçam?
– O instinto de conservação foi dado a todos contra os perigos e os
sofrimentos. Mortificai o Espírito e não vosso corpo, exterminai o vosso
orgulho, sufocai o vosso egoísmo, que parece uma serpente que vos tortura
o coração, e fareis mais por vosso adiantamento do que por meio de
rigores que não são mais deste século.

728 A destruição é uma lei natural?
– É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. O que
chamais destruição é apenas transformação que tem por objetivo a renovação
e o melhoramento dos seres vivos.

728 a O instinto de destruição teria sido dado aos seres vivos por
desígnios providenciais?
– As criaturas são os instrumentos de que Deus se serve para atingir
os seus objetivos. Para se alimentarem, os seres vivos se destroem entre
si com um duplo objetivo: manter o equilíbrio na reprodução, que poderia
tornar-se excessiva, e melhor utilização dos restos do corpo. Mas somente
o corpo é destruído, porque é apenas o acessório, e não a parte essencial.
O princípio inteligente é indestrutível e se elabora nas diferentes metamorfoses1
que sofre.

729 Se a destruição é necessária para a regeneração dos seres,
por que a natureza os cerca com meios de preservação e de conservação?
– Para que a destruição não ocorra antes do tempo preciso. Toda
destruição antecipada dificulta o desenvolvimento do princípio inteligente;
é por isso que Deus deu a cada ser a necessidade de viver e de se
reproduzir.

730 Uma vez que a morte deve nos conduzir a uma vida melhor,
que nos livra dos males desta, e, por isso, mais deveria ser desejada
do que temida, por que o homem tem um horror instintivo que o faz
temê-la?
– Já dissemos, o homem deve procurar prolongar a vida para cumprir
sua tarefa; eis por que Deus lhe deu o instinto de conservação, que o
sustenta nas provas; sem isso, muitas vezes se deixaria levar pelo desencorajamento.
A voz secreta que o faz temer a morte lhe diz que ainda pode
fazer alguma coisa para seu adiantamento. Quando um perigo o ameaça,
é uma advertência para que aproveite o tempo e a morada que Deus lhe
concede. Mas, ingrato! Rende mais vezes graças à sua estrela do que ao
seu Criador.

731 Por que, ao lado dos meios de conservação, a natureza colocou
ao mesmo tempo os agentes destruidores?
– O remédio ao lado do mal, já dissemos, é para manter o equilíbrio e
servir de contrapeso.

732 A necessidade de destruição é a mesma em todos os
mundos?
– É proporcional ao estado mais ou menos material dos mundos e
cessa quando os estados físico e moral estão mais depurados. Nos mundos
mais avançados as condições de existência são completamente
diferentes.

733 A necessidade da destruição existirá sempre entre os homens
na Terra?
– A necessidade de destruição diminui e se reduz entre os homens à
medida que o Espírito se sobrepõe à matéria; é por isso que se constata o
horror à destruição crescer com o desenvolvimento intelectual e moral.

734 Em seu estado atual, o homem tem direito ilimitado de destruição
sobre os animais?
– Esse direito é regido pela necessidade de prover a sua alimentação
e segurança. O abuso nunca foi um direito.

735 O que pensar da destruição que ultrapassa os limites das
necessidades e da segurança? Da caça, por exemplo, quando tem
por objetivo apenas o prazer de destruir sem utilidade?
– Predominância dos maus instintos sobre a natureza espiritual. Toda
destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei
de Deus. Os animais destroem apenas de acordo com suas necessidades;
mas o homem, que tem o livre-arbítrio, destrói sem necessidade; ele
deverá prestar contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida, porque
cede aos maus instintos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n48

706 Por bens da terra somente devemos entender os produtos
do solo?
– O solo é a fonte primária de onde vêm todos os outros recursos,
que são apenas uma transformação dos produtos do solo; por isso, é
preciso entender por bens da terra tudo o que o homem pode desfrutar
neste mundo.

707 Os meios de subsistência, muitas vezes, faltam a alguns,
mesmo em meio à abundância que os cerca; por quê?
– É pelo egoísmo dos homens em geral e também, freqüentemente,
por negligência deles mesmos. Buscai e achareis; essas palavras não querem
dizer que basta olhar a terra para encontrar o que se deseja, mas que
é preciso procurar com ardor e perseverança e não com fraqueza, sem
se deixar desencorajar pelos obstáculos que, muitas vezes, são apenas
meios de colocar à prova a vossa constância, paciência e firmeza. (Veja a
questão 534.)

708 Não há situações em que os meios de subsistência não dependem
de modo algum da vontade do homem, e a privação até daquilo
que mais necessita é uma conseqüência das circunstâncias?
– É uma prova muitas vezes cruel que deve passar e à qual sabia que
seria exposto. Seu mérito está em sua submissão à vontade de Deus, se
sua inteligência não fornece nenhum meio de se livrar das dificuldades. Se
a morte deve atingi-lo, deve se submeter sem reclamar e compreender
que a hora da verdadeira libertação chegou e que o desespero do último
momento pode lhe fazer perder o fruto de sua resignação.

709 Aqueles que, em certas posições críticas, se viram obrigados
a sacrificar seus semelhantes para se alimentarem deles, cometeram
um crime? Nesse caso, o crime pode ser atenuado pela necessidade
de viver que lhes dá o instinto de conservação?
– Já respondi, ao dizer que há mais mérito em sofrer todas as provas
da vida com coragem e abnegação. Nesse caso, há homicídio e crime de
lesa-natureza, faltas que devem ser duplamente punidas.

710 Nos planetas onde o corpo é mais depurado, os seres vivos
têm necessidade de alimentação?
– Sim, mas os alimentos estão de acordo com sua natureza. Esses
alimentos não seriam muito substanciais para vossos estômagos grosseiros,
do mesmo modo que, para eles, a vossa alimentação também não
serviria.

PRAZERES DOS BENS DA TERRA
711 O uso dos bens da terra é um direito para todos os homens?
– Esse direito é a conseqüência da necessidade de viver. Deus não
pode impor um dever sem dar o meio de satisfazê-lo.

712 Por que Deus colocou o atrativo do prazer na posse e uso
dos bens materiais?
– Para estimular o homem ao cumprimento de sua missão e experimentá-
lo por meio da tentação.

712 a Qual é o objetivo dessa tentação?
– Desenvolver sua razão, que deve preservá-lo dos excessos.

713 Os prazeres têm limites traçados pela natureza?
– Sim, têm o limite do necessário; mas, pelos excessos, chegais ao
extremo exagero e à repulsa e vos punis a vós mesmos.

714 O que pensar do homem que procura nos excessos de toda
espécie um refinamento para seus prazeres?
– Pobre infeliz digno de lástima e não de inveja. Está bem próximo da
morte!

714 a Da morte física ou moral?
– De ambas.

NECESSÁRIO E SUPÉRFLUO
715 Como o homem pode conhecer o limite do necessário?
– Aquele que é sensato o conhece pela intuição; muitos o conhecem
pela experiência e à sua própria custa.

716 A natureza não traçou o limite de nossas necessidades em
nossa estrutura orgânica?
– Sim, mas o homem é insaciável. A natureza traçou o limite às suas
necessidades no seu próprio organismo, mas os vícios lhe alteraram a
constituição e criaram necessidades que não são reais.

717 O que pensar dos que monopolizam os bens da terra para
obter o supérfluo em prejuízo dos que precisam do necessário?
– Eles desconhecem a lei de Deus e terão que responder pelas privações
que impuseram aos outros.

PRIVAÇÕES VOLUNTÁRIAS. MORTIFICAÇÕES
718 A lei de conservação obriga o homem a prover as necessidades
do corpo?
– Sim, sem força e saúde o trabalho é impossível.

719 É condenável ao homem procurar o seu bem-estar?
– O bem-estar é um desejo natural. Os abusos são condenáveis porque
contrariam a lei de conservação. O bem-estar é condenável se foi
adquirido à custa dos outros e se comprometeu o equilíbrio moral e físico
do homem.

720 As privações voluntárias, que resultam numa expiação igualmente
voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus?
– Quanto mais fazeis o bem aos outros mais mérito tereis.

720 a Há privações voluntárias que sejam meritórias?
– Sim, a renúncia aos prazeres inúteis, que liberta o homem da matéria
e eleva sua alma. O meritório é resistir à tentação que o conduz aos
excessos ou ao prazer das coisas inúteis; é tirar do que lhe é necessário
para doar àqueles que não têm o suficiente. Se a privação é apenas fingimento,
é uma zombaria.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n47

691 Qual é, do ponto de vista físico, a característica distintiva e
dominante das raças primitivas?
– Desenvolvimento da força bruta em vez da intelectual. Atualmente
ocorre o contrário: o homem faz mais pela inteligência do que pela força
do corpo e, entretanto, faz cem vezes mais, porque soube aproveitar as
forças da natureza, o que os animais não conseguem fazer.

692 O aperfeiçoamento genético das raças animais e dos vegetais,
pela ciência, é contrária à lei natural? Estaria mais conforme com
essa lei deixar as coisas seguirem seu curso normal?
– Deve-se fazer tudo para chegar à perfeição, e o próprio homem é
um instrumento nas mãos de Deus, do qual Ele se serve para que tudo à
sua volta atinja os objetivos aos quais se destina. A perfeição, sendo o
objetivo para o qual tende a natureza, é de Deus favorecer essa perfeição.

692 a Mas o homem somente se esforça para o melhoramento
dessas raças por interesse pessoal e, raramente, tem outro objetivo
senão o aumento de seus prazeres; isso não diminui seu mérito?
– Que importa que seu mérito seja nulo, contanto que o progresso se
faça? Cabe a ele tornar seu trabalho meritório pela intenção. Aliás, por
meio desse trabalho, exerce e desenvolve sua inteligência e é sob esse
aspecto que obtém maior proveito.

OBSTÁCULOS À REPRODUÇÃO
693 As leis e costumes humanos que criam obstáculos à reprodução
são contrários à lei da natureza?
– Tudo o que dificulte a marcha da natureza é contrário à lei geral.

693 a Entretanto, há espécies de seres vivos, animais e plantas
cuja reprodução indefinida seria prejudicial a outras espécies e o próprio
homem se tornaria uma vítima; comete ele um ato repreensível
ao impedir essa reprodução?
– Deus deu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder que
deve usar para o bem, mas do qual não deve abusar. Pode-se regular a
reprodução conforme as necessidades, mas do qual não deve dificultá-la
sem razão. A ação inteligente do homem é um contrapeso estabelecido
por Deus para equilibrar as forças da natureza, e é isso ainda que o distingue
dos animais, porque o faz com conhecimento de causa. Mas os
próprios animais também concorrem para esse equilíbrio, porque o instinto
de destruição que lhes foi dado faz com que, ao terem de prover sua
própria conservação, detenham o desenvolvimento excessivo e talvez
perigoso das espécies animais e vegetais de que se nutrem.

694 Que pensar do controle da natalidade para impedir a reprodução
e satisfazer a sensualidade?
– Isso prova a predominância do corpo sobre a alma e quanto o homem
está materializado.

CASAMENTO E CELIBATO1
695 O casamento, ou a união permanente de dois seres, é contrária
à lei natural?
– É um progresso na marcha da humanidade.

696 Qual seria o efeito da abolição do casamento para a sociedade
humana?
– O retorno à vida animal.

697 A idéia de que o casamento não pode ser absolutamente
dissolvido está na lei natural ou apenas na lei humana?
– É uma lei humana muito contrária à lei natural. Mas os homens podem
mudar suas leis; as da natureza são as únicas imutáveis.

698 O celibato voluntário é meritório aos olhos de Deus?
– Não, e os que vivem assim por egoísmo desagradam a Deus e
enganam a todos.

699 O celibato não é para algumas pessoas um sacrifício com a
finalidade de se devotar mais inteiramente ao serviço da humanidade?
– Isso é bem diferente; eu disse: por egoísmo. Todo sacrifício pessoal
é meritório quando é para o bem; quanto maior o sacrifício, maior o mérito.

POLIGAMIA
700 A igualdade numérica aproximada que existe entre homens
e mulheres é um indício da proporção em que se devam unir?
– Sim, porque tudo tem uma finalidade na natureza.

701 Qual das duas, a poligamia ou a monogamia, está mais de
acordo com a lei natural?
– A poligamia é uma lei humana cuja abolição marca um progresso
social. O casamento, conforme os desígnios de Deus, deve estar fundado
na afeição dos seres que se unem. Com a poligamia não há afeição real:
há apenas sensualidade.

702 O instinto de conservação é uma lei natural?
– Sem dúvida. Foi dado a todos os seres vivos, seja qual for o grau de
inteligência. Para uns, é puramente mecânico; para outros, é racional.

703 Com que objetivo Deus deu a todos os seres vivos o instinto
de conservação?
– Porque todos devem cumprir os desígnios da Providência; é por
isso que Deus deu o instinto de conservação. Além disso, a vida é necessária
ao aperfeiçoamento dos seres que têm instintivamente esse
sentimento, sem se darem conta disso.

MEIOS DE CONSERVAÇÃO
704 Deus, dando ao homem a necessidade de viver, sempre lhe
forneceu os meios para isso?
– Sim. Se não os encontra, é por falta de iniciativa. Deus não poderia
dar ao homem a necessidade de viver sem lhe dar os meios, por isso faz
a terra produzir e fornecer o necessário a todos, porque só o necessário é
útil. O supérfluo nunca é.

705 Por que nem sempre a terra produz o suficiente para fornecer
o necessário ao homem?
– O homem a negligencia por ingratidão e, no entanto, a terra continua
sendo uma excelente mãe. Além disso, ele ainda acusa a natureza por sua
própria imperícia ou imprevidência. A terra produziria sempre o necessário
se o homem soubesse se contentar. Se o que produz não é bastante para
todas as necessidades, é porque emprega no supérfluo o que deveria
utilizar no necessário. Observai o árabe no deserto: encontra sempre com
o que viver, porque não cria necessidades artificiais. Porém, quando a
metade da produção é desperdiçada para satisfazer fantasias, deve o homem
se espantar de não encontrar nada em seguida? E terá razão de se
queixar por estar desprovido quando chega a época da escassez? Na
verdade, não é a natureza que é imprevidente, é o homem que não sabe
regrar sua vida.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n46

676 Por que o trabalho é imposto ao homem?
– É uma conseqüência de sua natureza corporal. É uma expiação e
ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar sua inteligência. Sem o trabalho,
o homem permaneceria na infância da inteligência; por isso deve seu
sustento, segurança e bem-estar apenas ao seu trabalho e à sua atividade.
Àquele que tem o corpo muito fraco, Deus deu a inteligência como
compensação; mas é sempre um trabalho.

677 Por que a própria natureza provê, por si mesma, a todas as
necessidades dos animais?
– Tudo trabalha na natureza; os animais trabalham como vós, mas seu
trabalho, como sua inteligência, é limitado ao cuidado de sua conservação.
Eis por que entre eles o trabalho não gera o progresso, enquanto
entre os homens há um duplo objetivo: a conservação do corpo e o desenvolvimento
do pensamento, que é também uma necessidade que o
eleva acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais é
limitado ao cuidado de sua conservação, refiro-me ao objetivo a que se
propõem a trabalhar; mas, inconscientemente, ao prover suas necessidades
materiais, se constituem em agentes dos desígnos do Criador, e seu
trabalho não concorre menos para o objetivo final da natureza, se bem que
muitas vezes não percebeis o resultado de imediato.

678 Nos mundos mais aperfeiçoados, o homem está sujeito à
mesma necessidade de trabalho?
– A natureza do trabalho é relativa à natureza das necessidades. Quanto
menos as necessidades são materiais, menos o trabalho é material; mas
não deveis crer, por isso, que o homem fica inativo e inútil: a ociosidade
seria um suplício, em vez de ser um benefício.

679 O homem que possui bens suficientes para assegurar sua
existência está livre da lei do trabalho?
– Do trabalho material, pode ser, mas não da obrigação de se tornar
útil conforme seus meios, de aperfeiçoar sua inteligência ou a dos outros,
o que é também um trabalho. Se o homem a quem Deus distribuiu bens
suficientes não está obrigado a se sustentar com o suor de seu rosto, a
obrigação de ser útil a seus semelhantes é tanto maior quanto as oportunidades
que surjam para fazer o bem, com o adiantamento que Deus lhe
fez em bens materiais.

680 Não há homens impossibilitados para trabalhar no que quer
que seja e cuja existência é inútil?
– Deus é justo. Apenas desaprova aquele que voluntariamente tornou
inútil sua existência, porque esse vive à custa do trabalho dos outros. Ele quer
que cada um se torne útil conforme suas aptidões. (Veja a questão 643.)

681 A lei natural impõe aos filhos a obrigação de trabalhar por
seus pais?
– Certamente, do mesmo modo que os pais devem trabalhar por seus
filhos; é por isso que Deus fez do amor filial e do amor paternal um sentimento
natural para que, por essa afeição recíproca, os membros de uma
mesma família fossem levados a se ajudarem mutuamente, o que é freqüentemente
esquecido em vossa sociedade atual. (Veja a questão 205.)

LIMITE DO TRABALHO. REPOUSO
682 O repouso, sendo uma necessidade após o trabalho, não é
também uma lei natural?
– Sem dúvida. O repouso repara as forças do corpo e é também
necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, para que
se eleve acima da matéria.

683 Qual é o limite do trabalho?
– O limite das forças; entretanto, Deus deixa o homem livre.

684 O que pensar daqueles que abusam de sua autoridade para
impor a seus inferiores excesso de trabalho?
– É uma das piores ações. Todo homem que tem o poder de comandar
é responsável pelo excesso de trabalho que impõe a seus subordinados,
porque transgride a lei de Deus. (Veja a questão 273.)

685 O homem tem direito ao repouso na velhice?
– Sim. Ao trabalho está obrigado apenas conforme suas forças.

685 a Mas que recurso tem o idoso necessitado de trabalhar
para viver, se já não pode?
– O forte deve trabalhar pelo fraco e, na falta da família, a sociedade
deve tomar o seu lugar: é a lei da caridade.

686 A reprodução dos seres vivos é uma lei da natureza?
– Isso é evidente; sem a reprodução, o mundo corporal acabaria.

687 Se a população seguir sempre a progressão crescente que
vemos, chegará um momento em que será excessiva na Terra?
– Não; Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio, não faz nada
inútil; o homem que vê apenas um canto do quadro da natureza não pode
julgar a harmonia do conjunto.

SUCESSÃO E APERFEIÇOAMENTO DAS RAÇAS
688 Há, presentemente, raças humanas que diminuem; chegará
um momento em que desaparecerão da face da Terra?
– É verdade, mas outras tomaram seu lugar, como outras tomarão o
da vossa um dia.

689 Os homens atuais são uma criação nova ou descendentes
aperfeiçoados dos seres primitivos?
– São os mesmos Espíritos que vieram para se aperfeiçoar em novos
corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim, a raça humana
atual, pelo seu crescimento, tende a expandir-se sobre toda a Terra e substituir
as raças que se extinguem, terá seu período de decrescimento e
desaparecerá. Outras raças mais aperfeiçoadas a substituirão, descendendo
da raça atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos
seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.

690 Do ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual
são uma criação especial ou vieram dos corpos primitivos pelo caminho
da reprodução?
– A origem das raças se perde no tempo; como todas pertencem à
grande família humana, qualquer que seja a fonte primitiva de cada uma,
elas puderam se juntar entre si e produzir tipos novos.

Serie de perguntas e respostas n46

676 Por que o trabalho é imposto ao homem?
– É uma conseqüência de sua natureza corporal. É uma expiação e
ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar sua inteligência. Sem o trabalho,
o homem permaneceria na infância da inteligência; por isso deve seu
sustento, segurança e bem-estar apenas ao seu trabalho e à sua atividade.
Àquele que tem o corpo muito fraco, Deus deu a inteligência como
compensação; mas é sempre um trabalho.

677 Por que a própria natureza provê, por si mesma, a todas as
necessidades dos animais?
– Tudo trabalha na natureza; os animais trabalham como vós, mas seu
trabalho, como sua inteligência, é limitado ao cuidado de sua conservação.
Eis por que entre eles o trabalho não gera o progresso, enquanto
entre os homens há um duplo objetivo: a conservação do corpo e o desenvolvimento
do pensamento, que é também uma necessidade que o
eleva acima de si mesmo. Quando digo que o trabalho dos animais é
limitado ao cuidado de sua conservação, refiro-me ao objetivo a que se
propõem a trabalhar; mas, inconscientemente, ao prover suas necessidades
materiais, se constituem em agentes dos desígnos do Criador, e seu
trabalho não concorre menos para o objetivo final da natureza, se bem que
muitas vezes não percebeis o resultado de imediato.

678 Nos mundos mais aperfeiçoados, o homem está sujeito à
mesma necessidade de trabalho?
– A natureza do trabalho é relativa à natureza das necessidades. Quanto
menos as necessidades são materiais, menos o trabalho é material; mas
não deveis crer, por isso, que o homem fica inativo e inútil: a ociosidade
seria um suplício, em vez de ser um benefício.

679 O homem que possui bens suficientes para assegurar sua
existência está livre da lei do trabalho?
– Do trabalho material, pode ser, mas não da obrigação de se tornar
útil conforme seus meios, de aperfeiçoar sua inteligência ou a dos outros,
o que é também um trabalho. Se o homem a quem Deus distribuiu bens
suficientes não está obrigado a se sustentar com o suor de seu rosto, a
obrigação de ser útil a seus semelhantes é tanto maior quanto as oportunidades
que surjam para fazer o bem, com o adiantamento que Deus lhe
fez em bens materiais.

680 Não há homens impossibilitados para trabalhar no que quer
que seja e cuja existência é inútil?
– Deus é justo. Apenas desaprova aquele que voluntariamente tornou
inútil sua existência, porque esse vive à custa do trabalho dos outros. Ele quer
que cada um se torne útil conforme suas aptidões. (Veja a questão 643.)

681 A lei natural impõe aos filhos a obrigação de trabalhar por
seus pais?
– Certamente, do mesmo modo que os pais devem trabalhar por seus
filhos; é por isso que Deus fez do amor filial e do amor paternal um sentimento
natural para que, por essa afeição recíproca, os membros de uma
mesma família fossem levados a se ajudarem mutuamente, o que é freqüentemente
esquecido em vossa sociedade atual. (Veja a questão 205.)

LIMITE DO TRABALHO. REPOUSO
682 O repouso, sendo uma necessidade após o trabalho, não é
também uma lei natural?
– Sem dúvida. O repouso repara as forças do corpo e é também
necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência, para que
se eleve acima da matéria.

683 Qual é o limite do trabalho?
– O limite das forças; entretanto, Deus deixa o homem livre.

684 O que pensar daqueles que abusam de sua autoridade para
impor a seus inferiores excesso de trabalho?
– É uma das piores ações. Todo homem que tem o poder de comandar
é responsável pelo excesso de trabalho que impõe a seus subordinados,
porque transgride a lei de Deus. (Veja a questão 273.)

685 O homem tem direito ao repouso na velhice?
– Sim. Ao trabalho está obrigado apenas conforme suas forças.

685 a Mas que recurso tem o idoso necessitado de trabalhar
para viver, se já não pode?
– O forte deve trabalhar pelo fraco e, na falta da família, a sociedade
deve tomar o seu lugar: é a lei da caridade.

686 A reprodução dos seres vivos é uma lei da natureza?
– Isso é evidente; sem a reprodução, o mundo corporal acabaria.

687 Se a população seguir sempre a progressão crescente que
vemos, chegará um momento em que será excessiva na Terra?
– Não; Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio, não faz nada
inútil; o homem que vê apenas um canto do quadro da natureza não pode
julgar a harmonia do conjunto.

SUCESSÃO E APERFEIÇOAMENTO DAS RAÇAS
688 Há, presentemente, raças humanas que diminuem; chegará
um momento em que desaparecerão da face da Terra?
– É verdade, mas outras tomaram seu lugar, como outras tomarão o
da vossa um dia.

689 Os homens atuais são uma criação nova ou descendentes
aperfeiçoados dos seres primitivos?
– São os mesmos Espíritos que vieram para se aperfeiçoar em novos
corpos, mas que ainda estão longe da perfeição. Assim, a raça humana
atual, pelo seu crescimento, tende a expandir-se sobre toda a Terra e substituir
as raças que se extinguem, terá seu período de decrescimento e
desaparecerá. Outras raças mais aperfeiçoadas a substituirão, descendendo
da raça atual, como os homens civilizados de hoje descendem dos
seres brutos e selvagens dos tempos primitivos.

690 Do ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual
são uma criação especial ou vieram dos corpos primitivos pelo caminho
da reprodução?
– A origem das raças se perde no tempo; como todas pertencem à
grande família humana, qualquer que seja a fonte primitiva de cada uma,
elas puderam se juntar entre si e produzir tipos novos.

domingo, 29 de novembro de 2009

Serie de perguntas e respostas n45

661 É válido orar a Deus para perdoar nossas faltas?
– Deus sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas.
Aquele que a Deus pede perdão de suas faltas apenas o obtém ao mudar
de conduta. As boas ações são as melhores preces, porque os atos valem
mais do que as palavras.

662 É válido orar para outra pessoa?
– O Espírito daquele que ora age pela sua vontade de fazer o bem.
Pela prece, atrai bons Espíritos que se associam ao bem que quer fazer.
G Possuímos, em nós mesmos, pelo pensamento e pela vontade, um
poder de ação que se estende além dos limites de nossa esfera corporal.
A prece em favor de outras pessoas é um ato dessa vontade. Se for
ardente e sincera, pode chamar os bons Espíritos para ajudar aquele
por quem oramos, a fim de lhe sugerir bons pensamentos e lhe dar ao
corpo e à alma a força de que tem necessidade. Mas a prece do coração
é tudo, a dos lábios não é nada.

663 As preces que fazemos por nós mesmos podem mudar nossas
provas e desviar-lhes o curso?
– Vossas provas estão nas mãos de Deus e há algumas que devem
ser suportadas até o fim, mas Deus tem sempre em conta a resignação. A
prece traz para junto de vós os bons Espíritos que dão a força de suportálas
com coragem e fazem com que pareçam menos duras. Já dissemos,
a prece nunca é inútil quando é bem-feita, porque dá força àquele que
ora, o que já é um grande resultado. Ajudai-vos e o céu vos ajudará,
sabeis disso. Aliás, Deus não pode mudar a ordem da natureza à vontade
de cada um, porque aquilo que é um grande mal sob o vosso ponto de
vista mesquinho e vossa vida efêmera é, muitas vezes, um grande bem na
ordem geral do universo. Além de tudo, quantos males há dos quais o
homem é o próprio autor por sua imprevidência ou por suas faltas! É punido
naquilo que errou. Entretanto, os pedidos justos são muitas vezes
atendidos mais vezes do que supondes. Acreditais que Deus não vos tem
escutado, porque não fez um milagre por vós, enquanto vos assiste por
meios tão naturais que parecem o efeito do acaso ou da força das coisas;
muitas vezes também, muitas vezes mesmo, Ele vos suscita o pensamento
necessário para, por vós mesmos, sairdes do problema.

664 É útil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores? Nesse
caso, como nossas preces podem levar alívio e abreviar seus sofrimentos?
Têm elas o poder de fazer abrandar a justiça de Deus?
– A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a
alma para quem se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de
interesse que se lhe dá, e porque o infeliz sempre encontra alívio quando
almas caridosas se compadecem de suas dores. De outro lado, pela prece,
motiva-se ao arrependimento e ao desejo de fazer o que é preciso
para ser feliz; é nesse sentido que se pode abreviar sua pena, se por seu
lado ajudar com sua boa vontade. Esse desejo de melhorar, animado pela
prece, atrai para junto do Espírito sofredor Espíritos melhores que vêm
esclarecê-lo, consolá-lo e lhe dar esperança. Jesus orava pelas ovelhas
desgarradas e mostra, dessa maneira, que seríeis culpados de não fazer o
mesmo por aqueles que têm necessidade das vossas preces.

665 O que pensar da opinião que rejeita a prece pelos mortos em
razão de não estar recomendada no Evangelho?
– O Cristo disse: “Amai-vos uns aos outros”. Essa recomendação ensina
que o homem deve empregar todos os meios possíveis para demonstrar
afeição aos outros, sem entrar em detalhes sobre a maneira de atingir esse
objetivo. Se é verdade que nada pode impedir o Criador de aplicar a justiça,
da qual é a própria imagem, a todas as ações do Espírito, não é menos
verdadeiro que a prece que Lhe dirigis em favor daquele que vos inspira
afeição é um testemunho da lembrança que tendes dele, e apenas pode
contribuir para aliviar seus sofrimentos e consolá-lo. A partir do momento
em que ele sinta o menor arrependimento, é, então, socorrido; mas ele
nunca ignora que uma alma simpática se ocupou dele e lhe deixa o doce
pensamento que essa intercessão foi útil. Resulta disso, necessariamente,
de sua parte, um sentimento de reconhecimento e afeição por aquele
que lhe deu essa prova de amizade ou piedade. Dessa maneira, o amor
que o Cristo recomendava aos homens apenas aproximou-os entre si;
portanto, os dois obedeceram à lei de amor e de união de todos os seres,
lei divina que deve conduzir à unidade, objetivo e finalidade do Espírito*.

666 Pode-se orar aos Espíritos?
– Pode-se orar aos bons Espíritos como mensageiros de Deus e executores
de Seus desígnios; mas seu poder está na sua superioridade e
depende sempre do Senhor de todas as coisas, pois sem sua permissão
nada se faz; por isso, as preces que lhes dirigimos são somente eficazes
se são agradáveis a Deus.

POLITEÍSMO
667 Por que o politeísmo é uma das crenças mais antigas e divulgadas,
apesar de ser falsa?
– O pensamento de um Deus único só poderia ser, para o homem,
resultado do desenvolvimento de suas idéias. Incapaz, em sua ignorância,
de conceber um ser imaterial, sem forma determinada, agindo sobre a
matéria, deu-lhe o homem as características da natureza corporal, ou seja,
uma forma e uma figura. Desde então, tudo o que parecia ultrapassar as
proporções da inteligência comum era uma divindade. Tudo que não compreendia
devia ser obra de um poder sobrenatural, e daí estava a um passo
de acreditar em tantos poderes diferentes quantos eram os efeitos que
observava. Mas em todos os tempos houve homens esclarecidos que
compreenderam que governar o mundo com essa multidão de poderes
seria impossível sem uma direção superior e conceberam o pensamento
de um Deus único.

668 Os fenômenos espíritas, produzidos em todos os tempos e
conhecidos desde as primeiras épocas do mundo, não concorreram
para fazer acreditar na pluralidade dos deuses?
– Sem dúvida, como os homens chamavam deus a tudo o que era
sobre-humano, os Espíritos eram para eles deuses, e é por isso que, quando
um homem se distinguia entre os outros pelas suas ações, seu gênio ou
por um poder oculto, incompreendido pelos demais, tornavam-no um deus
e lhe rendiam culto após a morte. (Veja a questão 603.)

SACRIFÍCIOS
669 O hábito de sacrifícios humanos vem da mais alta Antiguidade.
Como o homem pôde ser levado a acreditar que tais coisas pudessem
ser agradáveis a Deus?
– Primeiramente, porque não compreendia Deus como fonte da bondade.
Entre os povos primitivos, a matéria domina o espírito; eles se
entregam aos instintos animais, é por isso que são geralmente cruéis, porque
o seu sentido moral ainda não se desenvolveu. Além disso, os homens
primitivos deveriam acreditar, naturalmente, que uma criatura viva tinha muito
mais valor aos olhos de Deus do que um morto. Foi isso que os levou a
sacrificar primeiro os animais e em seguida os homens, uma vez que,
seguindo sua falsa crença, pensavam que o valor do sacrifício estava diretamente
ligado à importância da vítima. Na vida material, se ofereceis um
presente a alguém, o escolheis de um valor tanto maior quanto quereis
demonstrar à pessoa mais amizade e consideração. Devia ocorrer o mesmo
com os homens ignorantes em relação a Deus.

669 a Assim, os sacrifícios de animais teriam precedido os sacrifícios
humanos?
– Sim. Não há dúvida.
669 b Então, de acordo com essa explicação, os sacrifícios humanos
não teriam sua origem num sentimento de crueldade?
– Não, mas numa idéia errônea de ser agradável a Deus. Vede o que
ocorreu com Abraão1. Depois, os homens abusaram ao sacrificar seus
inimigos. Porém, Deus nunca exigiu sacrifícios de animais nem de homens;
Ele não pode ser honrado com a destruição inútil de sua própria
criatura.

670 Os sacrifícios humanos feitos com intenção piedosa algumas
vezes puderam ser agradáveis a Deus?
– Não, nunca. Mas Deus julga a intenção. Os homens, sendo ignorantes,
podiam acreditar que faziam um ato louvável ao sacrificar um de
seus semelhantes. Nesse caso, Deus apenas levava em conta o pensamento
e não o fato. Os homens, ao se melhorarem, reconheceriam seu
erro e reprovariam esses sacrifícios, que não deviam alcançar compreensão
no pensamento dos Espíritos esclarecidos; digo esclarecidos porque
os Espíritos estavam, então, envolvidos por um véu material, mas, pelo
livre-arbítrio, podiam ter uma percepção de sua origem e finalidade, e muitos
já compreendiam, por intuição, o mal que faziam, embora continuassem
a fazê-lo para satisfazer suas paixões.

671 Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento
que leva pessoas fanáticas a exterminarem o máximo que
puderem dos que não compartilham de suas crenças para serem agradáveis
a Deus parece ter a mesma origem que os estimulava antigamente
a sacrificar os seus semelhantes?
– Eles estão envolvidos pela ação de maus Espíritos e ao guerrearem
com seus semelhantes contrariam a vontade de Deus, que diz que se deve
amar seu irmão como a si mesmo. Todas as religiões, ou melhor, todos os
povos, adoraram um mesmo Deus, tenha um nome ou outro. Por que
fazer uma guerra de extermínio apenas pelo fato de terem religiões diferentes
ou não terem ainda alcançado o progresso dos povos esclarecidos?
Os povos podem ser desculpados por não acreditarem na palavra daquele
que era animado pelo Espírito de Deus e enviado por ele, principalmente
quando não o viram e não foram testemunhas de seus atos; porém, como
quereis que acreditem nessa palavra de paz, quando pretendeis impor
essa palavra com a espada na mão? Devemos levar-lhes o esclarecimento
e procurar fazer-lhes conhecer a doutrina do Salvador pela persuasão e
pela doçura, não pela força e pelo sangue. Na maioria das vezes, não
acreditais nas comunicações que temos com alguns mortais; como haveis
de querer que estranhos acreditassem na vossa palavra, quando
vossos atos desmentem a doutrina que pregais?

672 A oferenda dos frutos da terra, feita a Deus, tem mais mérito
aos seus olhos do que o sacrifício de animais?
– Já vos respondi ao dizer que Deus julga a intenção e o fato tem
pouca importância para ele. Seria evidentemente mais agradável oferecer
a Deus frutos da terra do que o sangue das vítimas. Como já vos dissemos
e repetimos sempre, a prece dita do fundo do coração é cem vezes mais
agradável a Deus do que todas as oferendas que poderíeis lhe fazer. Repito
que a intenção é tudo e o fato não é nada.

673 Não haveria um meio de tornar essas oferendas mais agradáveis
a Deus se aliviassem as necessidades daqueles a quem falta
o necessário; e, nesse caso, o sacrifício de animais, quando feito com
um objetivo útil, não se tornaria meritório, embora fosse abusivo quando
não servia para nada ou só tinha proveito apenas para as pessoas
que não tinham necessidade de nada? Não haveria alguma coisa de
verdadeiramente piedoso em consagrar aos pobres os primeiros frutos
dos bens que Deus nos concedeu na Terra?
– Deus abençoa sempre aqueles que fazem o bem, e aliviar os pobres
e aflitos é o melhor meio de honrá-Lo. Não quero dizer, entretanto, que Deus
desaprova as cerimônias que fazeis por devoção, mas há muito dinheiro
que poderia ser empregado mais utilmente e não é. Deus ama a simplicidade
em todas as coisas. O homem que fundamenta sua crença nas exterioridades
e não no coração é um Espírito com vistas estreitas. Julgai se Deus
deve se importar mais com a forma do que com o conteúdo.

674 A necessidade do trabalho é uma lei da natureza?
– O trabalho é uma lei natural, por isso mesmo é uma necessidade, e
a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta suas necessidades
e prazeres.

675 Devem-se entender por trabalho somente as ocupações materiais?
– Não; o Espírito também trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação
útil é trabalho.